Grife LED vence concurso com coleção de roupas sem gênero

Além de pensar em roupas que não se encaixam em um único gênero, vencedor do concurso Ready to Go realizado durante a Minas Trend privilegia o conforto das peças ao definir shapes e tecidos

por Celina Aquino 17/04/2017 11:24

Weber Pádua/Divulgação
De nome Andarilhos, a coleção atual da LED leva para as roupas referências dos nômades urbanos, que acumulam histórias em suas viagens pelo mundo (foto: Weber Pádua/Divulgação)


Acabar com regras, quebrar padrões, ultrapassar barreiras. Há um número cada vez maior de etiquetas que tentam romper com as convenções, indicando que a moda caminha para a liberdade de escolhas. Entre elas está a LED, do estilista Célio Dias, que venceu a 10ª edição do concurso Ready to Go, que serve como vitrine para novos talentos durante a Minas Trend. “A marca representa a nova geração que não está ligada ao status quo, mas que tem claramente uma proposta livre para expressar sua personalidade. É uma maneira diferente de encarar a moda. Também acredito na atemporalidade e no conforto das peças”, avalia a diretora do TS Studio, Terezinha Santos, curadora do concurso realizado em parceria com o Sindicato das Indústrias do Vestuário de Minas Gerais (Sindivest/MG).


Foi na volta de uma viagem a Berlim que Célio teve coragem de assumir a identidade da etiqueta, que já completou três anos de mercado. “Tinha um pouco de receio da aceitação de uma marca assumidamente de gênero livre, já que vivemos em um mercado muito tradicional, que é Minas Gerais”, aponta. Depois de ver que os alemães são livres para vestir o que querem, ele se inspirou para desenvolver roupas que não se restringem a homens ou mulheres. O estilista defende que cabe ao cliente escolher um gênero, ou não ter nenhum. Dessa forma, Célio não quer apenas vender um produto, mas também estar inserido em um lifestyle, fazendo parte de movimentos que lutam pela liberdade de gênero.


Apesar de se envolver na discussão, o estilista não gosta de frisar que a marca segue o estilo no gender. Ele prefere dizer que faz roupas confortáveis e utilitárias. “Considero o conforto na hora de escolher os tecidos, principalmente linho e algodão, que geram uma boa transpiração. Além disso, não penso em marcação de silhueta, que é o que a moda costuma ditar”, pontua. Célio também substitui o poliéster por malhas de garrafa pet, que hoje representam 70% da sua matéria-prima. Versáteis, os tecidos sustentáveis, que vão desde os mais fluidos até os mais encorpados, dão bom caimento e toque macio às peças. Com essa escolha, ele ainda contribui para a sustentabilidade da empresa.


De nome Andarilhos, a coleção atual da LED leva para as roupas referências dos nômades urbanos, que acumulam histórias em suas viagens pelo mundo. Por isso, as peças têm um viés utilitário, com muitos bolsos. “Sempre penso em uma roupa que muda, como um vestido que também pode ser usado com calça. Acredito muito em peças atemporais, até mesmo para gerar um consumo consciente”, destaca. Vestidos, calças, bermudas e camisas ficam ainda mais versáteis com a presença de amarrações. Nessa coleção, o estilista destaca uma pantacourt com amarração de tecido na lateral, que de frente parece ser uma saia, mas de costas se revela como bermuda.


Outra característica marcante do trabalho da LED são as estampas, quase sempre com formas geométricas, desenvolvidas por um ilustrador. Para o verão, Célio aposta em um listrado que chama de risca de giz desconstruída, por não ser linear. “Os riscos são como se fossem caminhos que percorremos ao longo da vida, nem sempre retos”, explica. Desta vez, ele trabalhou com cores mais neutras: preto, branco, cinza e off white, mas também gosta de tons vibrantes.

VISÃO COMERCIAL

 

 

Weber Pádua/Divulgação
Ca.Mar, Condê, Denise Valadares (foto: Weber Pádua/Divulgação)

O estilista está feliz em saber que os visitantes do salão de negócios entenderam a sua proposta, tanto que ele abriu novos pontos de vendas em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife. Como vencedor do Ready to go, ele ganhará um estande próprio na próxima edição da feira. Célio já chega com experiência comercial, que adquiriu trabalhando em showrooms. “Sempre tenho uma preocupação comercial, apesar de o meu trabalho ter um pouco conceitual. Isso me dá mais pé no chão. É importante entender de tudo, afinal, moda é indústria”, observa. O estilista vai a Berlim buscar inspiração para a próxima coleção e já está pensando em trabalhar com tricô. Além disso, espera aumentar o mix de produtos, incluindo bolsas e sapatos, como o que desenvolveu em parceria com a Nuu Shoes.

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EDD 27, Im.par, Miêtta (foto: Weber Pádua/Divulgação)

No segundo lugar do concurso ficou a Miêtta, do estilista Fábio Resende. Inspirado pelo poder das abelhas e a delicadeza das flores, ele criou uma coleção com peças simples que enaltecem a força do universo feminino. Estampas e bordados, que em muitas peças representam favos de mel, contêm basicamente o tom cobre. Desenhos das rosas da artista plástica Telma Martins complementam a coleção. Já no terceiro lugar houve empate. Por um lado, a Null&Filled, que também trabalha o conceito de gênero livre. Até então focada em tricô, a marca incluiu tecidos planos como linho, crepe de viscose, vinil e jeans. Do outro, a Edd27, do estilista Ed Diana, que leva a sua experiência em moda festa para camisas, jaquetas, calças e outras peças que podem ser customizadas com bordados.

 

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Novelo Branco, Null & Filled e Uplen Robe (foto: Weber Pádua/Divulgação)
 

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