Ali, a plateia pôde ver exposta uma necessidade quase visceral de falar sobre o cotidiano na urbe, destacando a plenos pulmões e em looks a pluralidade de estilos, tribos, gêneros e etnias que fazem das cidades grandes centros de diversidade. Ótima desculpa para quem ainda insiste na segregação e no preconceito cair na real. Ei, apesar da insistência de alguns retrógrados, fronteiras entre povos, culturas, classes sociais, sexualidade e tudo o mais nunca foram tão demodê.
Para sintetizar o discurso que pretende celebrar as diferenças tão presentes nas cidades, Martinez fez a edição de quase todos os looks basicamente na cor preta. “Quis representar mesmo o super urbano, a falta de tempo, o asfalto, as tribos, e também as atitudes cotidianas com modelos carregando elementos do dia a dia como pão, jornal, o skate ou o capacete da bike”, conta. Para evocar o dia e a noite, ele lançou mão de amarelo, azul e vermelho, tanto em detalhes e em toda a peça de roupa quanto em pinceladas da maquiagem, evocando preceitos da Bauhaus, escola alemã de artes e design que fez história ao versar sobre as três cores primárias e as formas econômicas e geométricas. “Falar de Bauhaus é falar de design, da arquitetura, do urbano, do simples e do complexo ao mesmo tempo”, discorre ele.
Mistura geral
Na passarela, o mix criado por Martinez a partir da produção das grifes mineiras para a primavera-verão 2018 revelou o que já vem sendo difundido pela moda no Brasil e no mundo: caem por terra os antigos (pré) conceitos com a tomada de consciência que aponta para a liberdade total. Assim, vale misturar alfaiataria a peças casuais, paetês e canutilhos são usados com tênis, o jeans é repaginado com rico trabalho em bordado, as transparências revelam não uma lingerie tradicional, mas tops e hot-pants perfeitos para malhar.
Na hora de montar a produção, esqueça ideias coordenadas demais ou estereótipos e abra possibilidades para experimentar o novo. Lance mão de sobreposições, brinque com volumes, subverta a ordem dia e noite, abuse do brilho e dos metalizados em qualquer circunstância. Nessa jornada, looks esportivos e confortáveis podem ser lidos como “o novo pretinho básico”, a modelagem é assimétrica, desconstruída, matérias-primas totalmente diferentes se misturam propositalmente, criando efeitos surpreendentes
Ainda duvida? Prova de que este é um caminho fresco e sem volta vem das ruas, cuja dinâmica é traduzida em macrotendências que têm celebrado conceitos como genderless (ou sem gênero definido), atlheisure (esportiva) ou ageless (sem idade).
Depois de assistir à apresentação, fica o desejo para que a moda continue no tom de vanguarda, que fale do preto, do branco, do índio, do muçulmano, do skatista, do nerd, do tatuado, do transexual, do não classificável, assumindo o papel de veículo de comunicação que agrega diferenças e faz pensar novas possibilidades. No tom da tolerância, da abertura, da convivência, do respeito à pluralidade, independentemente do estilo de cada um, sempre fascinante e necessária. Concorda?
Celebrando pluralidades, a passarela que comemorou os 10 anos da Minas Trend aponta algumas direções que prometem virar hit nas ruas na temporada primavera-verão’2018. Confira os top teen.
» Transparências revelando tops esportivos
» Mistura de propostas de estilo em um mesmo look (alfaiataria com esportivo, habillé com tênis, tecidos fluidos com encorpados, entre outros)
» Meia arrastão, com e sem meia esportiva
» Modelagem ampla, com e sem a cintura marcada
» Acessórios esportivos e urbanos: tênis, mochila, pochete, boné
» Jeans bordado, estampado, customizado
» Coletes longline (alongados)
»Visual agênero
» Brilhos e metalizados em vestuário e em acessórios
» Assimetrias