Semana de Moda em Paris aposta em looks futuristas, coloridos e chamativos

Com 102 grifes desfilando, Paris Fashion Week encerrou na semana passada a temporada internacional de lançamentos para o outono-inverno 2017/2018

por Laura Valente 13/03/2017 19:21

PATRICK KOVARICK/AFP
Com direito a um foguete no cenário do Grand Palais, a Chanel de Karl Lagerfeld apresenta coleção inspirada no espaço (foto: PATRICK KOVARICK/AFP)


Hors-concours na Semana de Moda de Paris temporada após temporada, Karl Lagerfeld antecipou o futuro intergalático da humanidade na coleção Chanel read- to- wear outono-inverno’2017/18. Com direito a foguete no cenário e looks futuristas na maior parte dos 92 modelos desfilados, até parece que ao criar o kaiser já sabia da descoberta do sistema solar Trappist-1, revelada pela Nasa no último mês de fevereiro. Teria ele informações privilegiadas da agência espacial?


Pois enquanto os cientistas buscam descobrir novas fronteiras intergaláticas, por aqui o estilista da grife referência mundial em moda desde o reinado de Gabrielle propõe um guarda-roupa que revisita o passado, mas caminha para o futuro. Sim, os clássicos estão todos ali (embora repaginados), incluindo modelos de tweed, os vários padrões de xadrez, o tailleur, as pedrarias e plumas em propostas de festa. Mas os casacos foram alongados, a saia típica do conjunto deu lugar a bermudinhas, o macacão de calça cropped surge no lugar da tradicional calça comprida e os vestidos na silhueta A, embora façam alusão direta aos anos 1960, são renovados com as golas astronauta (enrijecidas e afastadas do pescoço). Também os pés, com botas de cano alto cobertas de glitter prata e biqueira preta, apontam para a exploração espacial, assim como as estampas de planetas e de astronautas, as peças salpicadas de brilho (imitando estrelas), as capas de matelassê metálicos e as meias-calças carregadas de pontos de luz. Chamam a atenção ainda os muitos detalhes presentes na coleção, a exemplo das tiaras usadas na base de um cabelo volumoso (em referência à falta de gravidade no espaço), as luvas vazadas nos dedos, as já citadas golas, entre outros.

 

Bertrand GUAY/AFP
Louis Vuitton - Pela primeira vez, o museu do Louvre abriu as portas para o desfile de uma grife de moda. (foto: Bertrand GUAY/AFP )

Também merece destaque a locação da Louis Vuitton, que desfilou em um dos pontos turísticos mais emblemáticos de Paris, o Louvre. Nesta primeira vez, que o museu abriu as portas para o desfile de uma grife de moda, o designer francês Nicolas Ghesquière apresentou coleção também inspirada na temática fronteiras, porém de forma sutil, já que a questão esteve bem representada pelo espaço, que recebe anualmente em média 7 milhões de turistas, visitantes com origem no mundo todo. Entre os modelos, o couro de efeito polido, desgastado e lustroso é a principal matéria-prima, e aparece em propostas atualizadas por fendas, volumes e comprimento mídi. Destaque ainda para o jeans que não é jeans, mas sim uma lã tratada com efeito pátina. Tudo refinado pela modelagem alfaiataria e pela mistura com delicados vestidos de cetim (muitos na estética sleep dress), coletes feitos de patchwork de pelo, golas ponteira superdimensionadas ou a tradicional rulê. A cintura é marcada em praticamente todos os looks, com cinto cuja extensão sobra e pende. Babados, correntes, assimetrias, capas peludas e aplicação de rendas foram os detalhes escolhidos pelo designer para enriquecer ainda mais a coleção.

 

 

Aurora Boreal

ALAIN JOCARD/AFP
A aurora boreal é retratada por Issey Miyake na trama de lã (foto: ALAIN JOCARD/AFP)

 

 Estrangeiro acolhido há muito em Paris – reduto mundial de designers não franceses, Issey Miyake apostou em técnicas especiais para criar tecidos multicoloridos, cujos movimentos revelam nuances de um fenômeno da natureza de beleza quase indescritível, a aurora boreal. Para tanto, usou recursos como lã tingida em cinco cores e penteada em cinco fios distintos, que passearam entre tons de púrpura, azul, verde, amarelo, laranja e preto. Também linhas onduladas marcaram as criações, bem como plissados multicores, modelagem contumaz na grife.

 

PATRICK KOVARICK/AFP
Valentino ousa em estampas divertidas e patchwork (foto: PATRICK KOVARICK/AFP)

Outra forasteira que conquistou lugar de destaque na semana de moda mais famosa do mundo, a Valentino apostou na fantasia e no romance em coleção que mesclou a estética vitoriana ao movimento Memphis (fortalecido na década de 1980 e reconhecido pelo uso de cores fortes e pela “libertação do design”) para envolver a mulher em uma atmosfera ao mesmo tempo delicada e forte, com destaque para vestidos. Mangas longas, silhueta afastada do corpo e o colo totalmente coberto representam a cliente que gosta de um luxo requintado, sem qualquer sombra de vulgaridade.


Por falar em períodos históricos, a Balmain de Olivier Rousteing parece ter buscado inspiração em mulheres guerreiras da era medieval (ou em seriados de realismo fantástico como Game of thrones) para criar peças fortes e femininas, no estilo selvagem e com pegada étnica. Dá-lhe couro e camurça, recortes, vazados (inclusive no top, quase revelando o desenho dos seios), franjas, muita aplicação de tachas e spikes, pelos, sobreposições, coletes, cintura marcada, volumes e botas crussard. Detalhes marcantes por conta das assimetrias, do tingimento tie-dye, e da beleza com olhos carregados, cabelo preso trançado e bocas metalizadas – olha a pegada futurista aí.


Nem tanto na grife que leva seu nome , com estética mais contida, mas na Maison Margiela o sempre incensado John Galliano aprontou de tudo usando como referência ícones do lifestyle norte-americano desconstruídos e redimensionados como em uma colorida colcha de retalhos. Marcaram presença Marylin Monroe, a Estátua da Liberdade, as muitas religiões da América (e do mundo) e ainda ídolos do esporte como o jogador de beisebol Joe DiMaggio. Tudo junto e misturado, em modelos talhados como esqueletos de roupas, linhas soltas de tricô, trabalhos manuais. Entre os looks mais comerciais, trench-coat com o decote em formato de coração e a calça jeans de cintura alta prometem virar hit. Nas fotos, confira outros detalhes destacados pelos estilistas que desfilaram em Paris e no quadro algumas das principais apostas da temporada.

 
Para esquentar o visual

 

 

Metalizados, volumes, mangas poderosas e outros hits prometem renovar modelos clássicos na temporada outono-inverno ‘2017/18. A seguir, propostas recorrentes em Paris e nos demais desfiles de lançamento na gringa.


Golas rulê volumosas, afastadas do corpo, inclusive avulsas
Assimetrias, recortes, decotes desenhados e deslocados
Brilho total, tanto em looks metalizados quanto em acessórios e em detalhes
Abuse das luvas trabalhadas (com dedos vazados, estampadas, com aplicações de elementos diversos)
Sobreposições diversas, inclusive de lingerie sobre o vestuário
Cintura marcada, de preferência deixando um pedaço do cinto solto e pendente
Estampas galáticas: planetas, estrelas, cometas, Lua, astronautas. Jogue-se no espaço.
Mangas poderosas, pontudas, como nos anos 1980, bufantes, trabalhadas
Comprimento mídi, parece que para sempre os tornozelos ficarão expostos
Bermudas no lugar das saias compondo um tipo de tailleur

 

 

 

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