Estreia nesta segunda-feira novela sobre Joaquina, a filha de Tiradentes

Gravada boa parte em Minas Gerais, 'Liberdade, liberdade' entra no ar na faixa das 23h da Globo, com a juiz-forana Andreia Horta como protagonista

por Ana Clara Brant 10/04/2016 17:30

João Cotta/TV Globo
Joaquina (Mel Maia) ainda pequena nos braços do pai, Tiradentes (Thiago Lacerda) (foto: João Cotta/TV Globo)

 

Foi Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, a cidade mineira escolhida para receber as primeiras gravações da nova novela das 23h da Globo, Liberdade, liberdade, que estreia amanhã. A história começa em 1792, período da Inconfidência Mineira, de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, e se desenrola em 1808, época em que a família real portuguesa vem para o Brasil, fugindo de Napoleão Bonaparte. Mas a grande personagem dessa trama é Joaquina (Mel Maia/Andreia Horta), a filha de Tiradentes (Tiago Lacerda) e Antônia (Letícia Sabatella). A menina nascida no Brasil fica órfã e é criada por um amável estranho, Raposo (Dalton Vigh), em Portugal. Anos depois, já mulher, ela retorna ao país onde seus pais morreram para se tornar o símbolo da luta pela liberdade.

Apesar de o folhetim se passar em Vila Rica –, hoje Ouro Preto – a produção acabou optando pela terra de JK pelo fato de ser um lugar bem peculiar e pelas várias possibilidades de tomadas, como ressalta o diretor Vinicius Coimbra. “A região de Diamantina já é minha antiga conhecida, pois filmei A hora e a vez de Augusto Matraga lá. É uma região bela, de relevo e paisagens muito particulares, com uma profundidade de campo normalmente maior do que no restante de Minas. Como diria Guimarães Rosa, é uma região de ‘poeira e estrelas’. Conhecia bem o lugar e seus arredores, metade das locações que usamos eu já tinha filmado. Fora a estrutura de produção, as pousadas, os figurantes. Quando cheguei em Diamantina, muitos figurantes, motoristas e donos de restaurantes vinham me abraçar. Foram muito carinhosos”, revela.

Mesmo ambientada em uma parte da história, Liberdade, liberdade é uma novela ficcional. O autor Mario Teixeira conta que usou como fonte diários de viagem, livros – sobretudo Joaquina, filha do Tiradentes, de Maria José de Queiroz – e até obras de arte para retratar o período. “A história para mim é o pano de fundo da dramaturgia, tratada com amor, mas a serviço da emoção. Mesmo porque, qualquer relato histórico é muito pessoal; é a imaginação do historiador que recria os fatos.

Toda interpretação é pessoal. Traremos a falta de saneamento, a relação dos fidalgos e escravos, os dilemas sociais, os impostos abusivos, tudo com o nosso olhar para a novela, que é fundamentalmente uma história de amor, de uma mulher que descobre suas raízes num processo de formação pessoal e coletivo. É a história da fundação de um país, mas, principalmente, a história de uma mulher que repensa sua condição numa época masculina e turbulenta”, destaca o dramaturgo.
 
Real ou ficção? Muito pouco se sabe sobre a filha do alferes. Mario diz que há pouquíssimas referências sobre a Joaquina real, só uma menção a ela nos Autos da devassa, os relatórios oficiais sobre a Inconfidência. Por isso, sua criação é bem livre. “A personagem Joaquina em Liberdade, liberdade é ficcional. A ideia de falar dela partiu do argumento da Márcia Prates. A partir daí desenvolvi uma história sobre a volta de uma menina cujo pai, Tiradentes, foi considerado um traidor. Joaquina traz dentro de si essa carga dramática. Ela volta de Portugal em um momento crucial da história brasileira, com a comitiva imperial. Raposo, o personagem do Dalton, tem posses e criou essa moça como uma nobre em Portugal. Mas seu retorno ao Brasil provoca uma busca dela por si mesma. Ela volta para uma terra que é dela, mas que condenou seu pai à morte, e de uma forma trágica, à forca”, explica o autor, que é ganhador dos prêmios Jabuti e Biblioteca Nacional de 2015 com o livro A linha negra.

Nos detalhes

Além das locações em Minas e no Rio de Janeiro, a equipe da novela construiu uma cidade cenográfica de 4 mil metros quadrados que representa Vila Rica em 1808. O elenco também traz Mateus Solano, Lília Cabral, Bruno Ferrari, Nathália Dill, Maitê Proença, Caio Blat e Marco Ricca.

Três perguntas para
Vinicius Coimbra, diretor


Quais são os principais desafios na hora de dirigir uma trama que se passa em outro século?
Ninguém sabe exatamente como era a vida privada no século 18 no Brasil. Existem textos, algumas ilustrações, mas a história é contada por pessoas que normalmente têm interesses, que a editam ou estilizam. Há fortes indícios de que Tiradentes não tinha barba na ocasião de seu enforcamento, por exemplo, que isso foi criado pelos republicanos para que ele lembrasse a imagem de Jesus Cristo. Portanto, nos baseamos na história, mas também damos a nossa opinião sobre ela, figuramos como essas pessoas viviam.

Apesar de ser uma história que se passa no século 18, consegue ver semelhanças com o atual momento do país?
Consigo, sim. Quando a Corte portuguesa se mudou para o Brasil, instalou um sistema tão ou mais corrupto que o atual. A luta de Joaquina, nossa protagonista, é por um Brasil mais justo, onde o dinheiro do povo sirva ao povo e não aos interesses espúrios da Corte.

O que mais chama a atenção nessa história?
É uma novela emocionante, com imagens fortes e surpreendentes. Há contrastes entre o amor e a violência da época. Mas o que mais me chama a atenção é a emoção que às vezes me assalta lendo o texto. É o Brasil, o resgate de um orgulho perdido, o amor que temos por essa terra tão saqueada por seus governantes, há séculos.

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