Especialistas explicam por que Ana Paula do BBB exerce tanto fascínio sobre o público

Mineira estapeou o modelo Renan Oliveira, foi expulsa da casa e mesmo assim ganhou quadro no programa Vídeo Show

por Shirley Pacelli 16/03/2016 07:00
Globo/Paulo Belote/Divulgação
(foto: Globo/Paulo Belote/Divulgação)
“Eu desci pra esta Terra para ser protagonista de tudo o que me proponho a fazer.” Ana Paula Renault: mineira, jornalista, “grossa, nervosa e louca”, segundo seu próprio veredicto. Aos adjetivos, cai bem incluir outro: fenômeno de popularidade. A ex-participante do BBB 2016 (TV Globo) conquistou uma legião de fãs no país. Graças a eles, ela sobreviveu a quatro paredões e dominou os comentários nas redes sociais. Mesmo expulsa da casa por dar dois tapas na cara do modelo Renan Oliveira, a jogadora ganhou homenagem de despedida narrada por Pedro Bial.

Em 5 de março, dia da desclassificação de Ana, a hashtag #RenanExpulso tornou-se o assunto mais comentado do Twitter no Brasil e chegou a ficar em segundo lugar no ranking mundial. A emissora carioca não ficou indiferente ao poder de atração da jornalista. Escalou-a para participar de quatro programas de sua grade e entregou a ela um quadro no Video Show, que estreou nessa terça-feira, dia 15, como primeira atração do programa.

Confira vídeo da ex-BBB na época da faculdade

Mas, afinal, o que é que Ana Paula tem para conseguir magnetizar a audiência?

Trata-se de uma personagem demasiadamente humana, observa a psicóloga e psicanalista Paula de Paula, professora da Pontifícia Universidade Católica. “É como se ela não tivesse vergonha de destacar sua parte feia. Sob esse ponto de vista, há uma virtude, que é a coragem”, afirma.

A psicóloga assinala que as pessoas elegem um ídolo porque se identificam com alguma característica dele, ainda que inconscientemente. “No caso dela, essa coragem de se mostrar demasiadamente humana. A pessoa pode até querer fazer o que ela faz, mas se reprime”, diz.

Para a professora, Ana Paula tem o perfil da anti-heróina. “Ela fisga uma porção de gente que enxerga nela a virtude da coragem e gostaria de fazer igual, mas não se dá o direito ou é tímida, e também uma parcela dos rebeldes, aqueles que acham bacana ter gente parecida com eles na TV.

Ana Paula é caso de amor ou ódio, na avaliação da professora. “Eu, por exemplo, considero-a deplorável. Ela se dá um direito excessivo. É a última pessoa que eu queria conhecer na face da Terra”, comenta. Paula de Paula acha que as pessoas deveriam se esforçar para não ser como a ex-BBB. “Mas já perdi de cara. Quanto mais se busca ser civilizado, mais se é visto como careta.”

A professora afirma ainda que “as pessoas iam ao coliseu e não queriam ‘polegar para cima’. Iam ver uma luta de um gladiador com outro e queriam que eles se matassem. O povo quer espetáculo. É absolutamente humano. Mesmo que seja o espetáculo de horror”.

#Clanessas

Arthur Guedes, de 26 anos, mestre em comunicação social pela Universidade Federal de Minas Gerais, acredita que Ana Paula ganhou tanta visibilidade por dar voz a pontos de discussão de lutas feministas, como o assédio sexual. Na primeira semana na casa ela se disse a favor do machismo, mas suas atitudes mostraram o oposto.

“Ela criou uma narrativa paralela dentro do jogo. Isso ocorreu pelo gatilho da presença do Laerte. Outras meninas falaram também que ele olhava de forma incômoda. Ela conseguiu peitá-lo e se mostrar de forma contundente contra ele”, afirma. Segundo Guedes, com essa iniciativa ela conseguiu uma aprovação grande de pessoas que produzem conteúdo em redes sociais.

“Ela cresceu porque movimentava as coisas na casa – até em excesso. As pessoas procuravam entretenimento e queriam acompanhar algo que não fosse tão monótono. Ela também ficou amiga de pessoas tidas como vulneráveis. Gegê, a idosa; Munik, a novinha inocente; Ronan, o jovem negro que já fugiu de casa e morou na rua. Ela representou uma forma de dar visibilidade para essas pessoas dentro de um jogo”, diz.

Ana Paula acabou caindo também nas graças das “clanessas”, torcida do casal Clara Aguilar e Vanessa Mesquita, do BBB 14. Segundo Arthur, as “clanessas” conseguem se sair bem em qualquer tipo de votação, por meio de mutirões organizados – que passam ao largo das enquetes on-line. Além de elas levarem o casal que originou o nome à final de 2014, apadrinharam a finalista Amanda na edição 2015, por ela ser amiga de Clara. “Elas se engajam em toda votação. Tem muito a ver com a questão feminista e da visibilidade lésbica”, aponta.

Em sua dissertação de mestrado, Guedes procurou compreender o quanto a Globo tentou trazer a linguagem da internet para o Big brother Brasil 2014. Ele observa que desde meados de 2012, a emissora tenta incorporar pessoas produtoras de conteúdo nas mídias sociais para fazer cobertura do programa, como os blogueiros do Morri de Sunga Branca. “A ideia é trazer o público que só vê o programa pela ‘segunda tela’. As redes sociais reatroalimentam a TV, e não o contrário.”

LINGUAGEM

Para o analista de redes sociais Regi Oliveira, de 29 anos, Ana Paula é fenômeno porque o público, especialmente o do Twitter, se identifica com sua linguagem. “Ela é a personificação do Twitter. É o ‘real time’. Escancarada!”, diz ele. A expressão “Olha elaaaaa!”, repetida pela mineira em sua triunfal volta à casa do BBB após um falso paredão, virou meme na rede social e acabou se transformando em bordão utilizado nas ruas.

Na opinião de Oliveira, a trajetória de sucesso de Ana Paula no programa nasceu sem muito direcionamento. “Ela é um fenômeno justamente por não ter perfil definido. É escandalosa, muitas vezes arrogante. É patricinha e dizia que chamá-la assim não ofendia. É completamente fora dos clichês de vencedores, não faz a ‘pobrinha’.”

Para o analista, Ana é uma espécie de caricatura do público. “É extremamente escandalosa. Você quer jogar tudo na cara, mas tem a opção de virar as costas e ir embora. Ela, não. É o que a gente sente, mas não pode expressar.”

Jornalista abaixa o tom na estreia
“Pior parte da minha vida foi ser expulsa de um programa”, revelou Ana Paula em seu quadro Por onde anda, no Vídeo Show de ontem. Em sua estreia como apresentadora na TV Globo, a jornalista abaixou o tom ao entrevistar Anamara Barreira, a eterna Maroca, que participou das edições de 2010 e 2013.

A atração abriu o programa, com direito aos apresentadores Otaviano Costa e Maíra Charken chamando pelo bordão “Olha elaaa!”. “Ela saiu do BBB, mas o BBB não saiu dela”, brincou a mais nova contratada da emissora.

Em um salão, como best friends, Ana e Maroca bateram um papo contando intimidades. Assim como Ana Paula, Maroca ficou conhecida pelos barracos que dava no reality. As duas também passaram pela experiência do quarto especial, que deu o privilégio de conferir o que os outros participantes falavam no jogo. “Gritaria é com a gente mesmo”, definiu a mineira.

Em entrevista anterior, Maroca havia disparado que achava Ana Paula um pouco inconveniente. Durante a exibição do quadro, ela revelou que foi alvo da ira dos fãs da mineira nas redes sociais. Surpreendentemente, Ana Paula se mostrou amigável e não rendeu discussões sobre o assunto. A próxima entrevistada de Ana Paula é a ex-BBB Cida Moraes, ex-aeromoça que participou da edição de 2002.

MAIS SOBRE MEXERICO