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Entrevista

Rodrigo Santoro diz que Velho Chico lhe fez conhecer o coração do Nordeste

Novela de Benedito Ruy Barbosa estreia nesta segunda-feira na Globo

Diário de Pernambuco

Rodrigo Santoro é dirigido por Luiz Fernando Carvalho - Foto: Gshow/Reprodução

Uma novela banhada pelas águas do Rio São Francisco se configura como um frescor para a teledramaturgia brasileira. Com paisagens hipnotizantes, gravações no Sertão e 70% do elenco da região Nordeste, Velho Chico interrompe uma sequência de tramas urbanas e ambientadas em comunidades produzidas pela Globo. A nova novela das 21h, que estreia nesta segunda-feira na emissora, abordará a rivalidade entre duas famílias e a história de um amor impossível, tendo como pano de fundo temáticas como o coronelismo e a transposição do rio.

Dirigida por Luiz Fernando Carvalho, a obra é estrelada por nomes como Antônio Fagundes, Camila Pitanga, Carol Castro, Chico Diaz, Rodrigo Lombardi e Tarcísio Meira. De representantes pernambucanos, Irandhir Santos interpretará o político Bento na segunda fase da novela, irmão do personagem Santo, vivido pelo conterrâneo Renato Góes (no primeiro período da trama) e por Domingos Montagner (na fase adulta). Conhecido por uma entrega absoluta na construção de personagens, Irandhir faz aulas de equitação e de direção de moto.

As gravações ocorreram em estados como Bahia, Alagoas e Rio Grande do Norte. "A gente passou dois meses na preparação. Quando chega no Sertão, é uma coisa que vem por osmose. Foi a grande preparação para a vivência da história", declara Renato Góes.
Santo terá rivalidade com Afrânio, personagem de Rodrigo Santoro, que retorna às novelas após 12 anos. "Eu sou apaixonado pela filha dele. A rivalidade é tanto histórica, quanto por um romance", antecipa Renato.

Além dele e de Irandhir, o pernambucano Ivann Gomes, mais conhecido como Batoré do humorístico A praça é nossa (SBT), será um delegado, enquanto o compositor Maciel Melo fará participação como um repentista. A presença de outros atores nordestinos gera curiosidade, como a estreante Lucy Alves, ex-participante do The voice Brasil.

Velho Chico é escrita por três gerações de autores da mesma família: Benedito Ruy Barbosa assume a supervisão, enquanto Edmara Barbosa e Bruno Luperi assinam a trama. "O processo acontece de maneira muito orgânica. Fica difícil definir fronteiras de onde termina um e começa o outro. Essa dinâmica é visceral, como se espera em uma relação familiar e profissional entre três gerações de escritores, defendendo diariamente suas crenças e verdades em busca da melhor ideia, melhor fala, melhor ação e por aí vai", detalha Edmara. "Nossa escola foi Benedito. Foram 40 anos lendo histórias e capítulos. Espero honrar isso", conclui.

Em entrevista, Rodrigo Santoro expressa a admiração pelos músicos Maciel Melo e Xangai. "Tive a honra e o prazer de trabalhar com Maciel e com o grande Xangai. São artistas geniais com quem aprendi e me diverti muito", disse. Com projeção no cinema internacional, o carioca será o coronel Afrânio, interpretado por Antônio Fagundes na segunda fase.

 

 

 

Como foi o seu mergulho neste universo do Rio São Francisco e da história do Brasil para viver Afrânio?
Começou com um mergulho literalmente.

Um mergulho nas águas do rio São Francisco. Pedi pra parar o barco e mergulhei. Fiquei uma meia hora boiando pedindo a bênção e a força daquelas águas. Tive a oportunidade de conhecer o coração do Nordeste. Conheci pessoas incríveis e aprendi muito com elas. O sertão exala poesia. Além disso, conseguir fazer esta novela foi uma conjunção de fatores positivos. O convite veio na hora certa e de um diretor pelo qual tenho enorme respeito. Além disso, queria mesmo fazer uma novela, pois me sentia muito afastado do grande público. É muito bom reencontrar amigos, trabalhar na minha terra, falar a minha língua, gravar em lugares incríveis que eu não conhecia.
Está sendo maravilhoso.

As produções televisivas em geral costumam retratar o interior nordestino  de forma caricata, sem registrar as mudanças provocadas por anos de desenvolvimento. De que forma a novela pretende representar a região?
O que posso te dizer é que o nosso diretor Luiz Fernando Carvalho é extremamente cuidadoso com todos os detalhes. Toda a equipe e nós do elenco procuramos também compreender e expressar não só os costumes e a cultura, mas a essência dessas pessoas.

Em entrevista recente, você disse que temas como a transposição do Rio São Francisco e o coronelismo não serão tratados de formas superficiais na novela. O que pode adiantar dessa abordagem?
A novela é uma história de amor, uma saga familiar. Trabalhamos com uma história de ficção. Buscamos fazer um mergulho mais profundo, emocional, por isso nenhum dos temas foi tratado de forma superficial. Minha personagem estará na primeira fase da trama. É um coronel. A partir dele veremos um pouco deste universo coronelista, suas raízes e estrutura arcaica. Acho que será interessante provocar uma reflexão sobre este tema, especialmente nos dias de hoje.

Um dos diferenciais da produção é o elenco formado por cerca de 70% de atores nordestinos. Como isso enriquece a trama?
Isso dá muita verdade para a história. São atores que vivem naquele universo, que são daquela terra. E são grandes atores! Fiz vários novos amigos! E eles foram sempre muito generosos com os outros atores (como eu) que não são do Nordeste. Para mim, foram uma grande inspiração.

Após 12 anos distante de novelas, o que acha que mudou nesta experiência?
Foi incrível voltar ao meu país para fazer um produto de excelência! Acho que fazer novela é um exercício muito interessante para o ator. Gravar aproximadamente 15 cenas por dia e tentar fazê-las todas de forma verdadeira e profunda, não é simples.

Como estão os trabalhos em Westworld, nova série da HBO?
Vou voltar este mês para terminar de filmar os últimos quatro episódios. Gosto muito da minha personagem e de todo o conceito da série. Além disso, tenho tido oportunidade de trabalhar com grandes atores.

Como é trabalhar com Ed Harris e Anthony Hopkins?
Aprendo muito, assim como aprendi trabalhando com Irandhir dos Santos, Chico Diaz, Selma Egrei, entre tantos outros atores desta novela.

Qual a diferença na preparação dos papéis para uma telenovela, um filme e uma série? Você faz um tipo de estudo diferenciado?
É sempre um processo de entrega total. Não tenho uma fórmula. Costumo começar pela pesquisa e uma exploração aprofundada da personagem e de seu universo. Sempre buscando me aproximar desta nova realidade com o olhar puro para não julgar, mas compreender para humanizar. Aprendi muito fazendo novelas e, hoje, depois de tantos anos, posso te garantir que ainda estou aprendendo fazendo Velho Chico.

O público brasileiro tem demonstrado interesse crescente em séries televisivas, e o olhar especial do Netflix para o país ilustra o mercado. Mas, enquanto temos novelas boas e um setor cinematográfico elogiável em festivais internacionais, ainda somos, aparentemente, carentes no segmento das séries. Como você enxerga esse quadro e de que forma vê uma possibilidade de o Brasil evoluir nesse campo?
Acho que esta evolução já começou a acontecer. A própria Netflix já está produzindo a sua primeira série inteiramente brasileira. O mesmo acontece com a HBO que cada vez mais produz conteúdos de altíssima qualidade neste campo. Acho que a tendência é o crescimento nesta área devido à intensa demanda. A própria Globo tem produzido séries com episódios limitados com uma realização excelente.

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