Fred Melo Paiva estreia segunda temporada do programa 'O infiltrado', no canal History

Na atração, ele se mete nas maiores roubadas ao encarar profissões e desafios incomuns

por Mariana Peixoto 28/09/2014 08:27

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Arte EM
(foto: Arte EM)
Seria apenas um casal comum fazendo compras no supermercado não fosse o conteúdo da conversa. Ele sonha alto, quer fazer algo transgressor para o gênero. Sugere que ela encarne uma freira devassa em pleno viaduto Minhocão, em São Paulo, se encontrando com um policial. Que seria interpretado por ele, é claro. A ideia é explorar o voyeurismo. Ela, do alto de sua experiência, vai concordando com a ideia. Afinal, é bem diferente do que fazer uma cena de sexo entre quatro paredes. Ele é Fred Melo Paiva, jornalista mineiro, atleticano doente, ex-punk, ateu e tímido na mesma medida em que tem medo de avião. Colunista do SuperEsportes, também escreve sobre o Clube Atlético Mineiro aos sábados no Estado de Minas. E mais importante, pelo menos neste caso: seu porte franzino não se encaixa em nada com os padrões testosterônicos dos atores pornôs. Pois ele pretende encarnar um. Ou é pelo menos essa a tentativa vivida por Fred no episódio de estreia da segunda temporada da série 'O infiltrado', que será exibido terça-feira, às 23h, no canal History.

Misto de reality show e programa jornalístico, 'O infiltrado' se propõe, a cada episódio, desvendar um grupo da sociedade brasileira. De uma maneira nada convencional, diga-se de passagem, que é o que diferencia de qualquer outra atração. A partir de um tema – algo geralmente relevante, que crie um embate entre as ideias do jornalista – ele entra em determinado universo, tornando-se mais um. Cada episódio tem que ter ação, conflito e humor.

Lançado em 2013, o programa foi a produção brasileira de maior audiência do History. No ano passado, Fred encarnou um cantor sertanejo, um machão inveterado e até um lutador de MMA,, entre outros personagens. “Os assuntos têm que conflitar com as coisas que acredito. Para mim, o programa é um reality show, mas a serviço do jornalismo. A televisão acredita hoje muito em entretenimento, acho que um fruto até da crise do jornalismo. 'O infiltrado' conseguiu casar as duas coisas”, afirma.

HISTORY/DIVULGAÇÃO
(foto: HISTORY/DIVULGAÇÃO)
OSSOS DO OFÍCIO
Nesta segunda temporada, serão exibidos 11 episódios, sempre às terças-feiras. Além do pretenso astro pornô Major Steelbone, que Fred encarna na estreia, ele também se aventura no universo do consumismo tomando como personagem um Papai Noel, vai conhecer a vida de capitalistas de sucesso, funkeiros, detetives particulares, exorcistas, cariocas, fanáticos por futebol, web celebridades. Propõe sua própria morte para explorar as agências funerárias e vai de encontro às seitas do Planalto Central. Com um texto afiado que muitas vezes não poupa seus personagens, Fred faz rir por mostrar absurdos que existem de montão por aí.

No episódio dos cariocas (a intenção é viver como um), Fred se monta da maior cara de pau para se encontrar com um corretor que quer lhe vender um apartamento. O imóvel escolhido por Fred é na orla do Rio e custa a bagatela de R$ 38 milhões. “No início, o corretor não entende, me pergunta se aquilo é um programa ou se pretendo comprar o apartamento. Eu sou um comprador, mesmo que não tenha dinheiro para aquilo. Esse formato acaba confundindo a cabeça das pessoas, que se abrem de uma maneira muito interessante.”

A timidez e uma certa falta de jeito acabam ajudando. “Aquela pessoa que aparece n’'O infiltrado' sou eu na minha função de jornalista. Quando me mudei para São Paulo (há 20 anos) saquei que ali aquele jeito de bobo, ingênuo, tipo mineiro, poderia ser muito útil. Mas é evidente que não sou bobo igual pareço”, acrescenta ele. Na missão de mostrar a vida como ela é, ele realmente vai até os próprios limites.

Fred admite – e a câmera também não deixa mentir – o quão difícil foi fazer o episódio do pornô. A atriz pornô Sarah Lopez, a tal com quem ele conversa no supermercado, fala de cara que Fred só vai conseguir virar um astro do gênero se conseguir lidar com a nudez. A prova de fogo ocorre numa casa de swing, em que ele tira a roupa para uma plateia de verdade. “Foi altamente constrangedor, mas hoje até lido melhor com a história de que vai passar na TV”, completa ele sobre os ossos do ofício.

Fanático por futebol

Fred faz cara séria quando diz acreditar ter estudado jornalismo para escrever sobre o Atlético. Se há um tanto de exagero nessa afirmação, há também igual porção de verdade. Pois veja: ele sempre consegue colocar o Galo onde quer que esteja. Na primeira temporada de 'O infiltrado' citou o time alvinegro, assim como quem não quer nada, em todos os nove episódios. Fosse falando de machões, evangélicos, cantores sertanejos. A repercussão junto às redes sociais graças à torcida fez a história crescer ainda mais.

“‘Bombamos’ o Galo na nova temporada. Ele está em absolutamente todos os episódios”, conta Fred. E não apenas com uma citação ou outra, mas com sua torcida em peso. No episódio sobre a morte, em que o jornalista se prepara para o dia em que bater as botas – incluindo obituário, escolha do caixão e da sepultura (no Cemitério do Araçá, em São Paulo) e até na procura de um marido para sua mulher –, ele vai parar dentro de um caixão. Acompanhado, é claro, da bandeira do time e de integrantes de torcida organizada – a Galo Metal –, com direito a naipe de metais executando o hino do Galo.

Nem os cruzeirenses ficam de fora. Nesta temporada d’'O infiltrado' há o episódio “Fanáticos por futebol” gravado, como não poderia deixar de ser, em Belo Horizonte. Como Fred leva o fanatismo por seu time ao pé da letra, ele se coloca à prova no episódio. “Começo na minha casa, conversando com meus pais, tentando entender como me tornei essa pessoa.” A conselho de uma tia, vai fazer uma regressão via hipnose. Claro que não dá certo. Fred vai a uma partida do Galo e depois vai parar no Bar do Salomão, tradicional reduto atleticano na Serra, bairro onde cresceu.

Ali reencontra outro atleticano doente que lhe revela que conseguiu um padre (nem precisa falar para qual time ele torce) da Renovação Carismática que o casou com o hino do time. Pois religiosamente o sacerdote, antes da missa dominical, toma café da manhã com um cruzeirense. “Vou tomar café com os dois, que me falam de como é amar um cruzeirense, ver a pessoa além da camisa”, conta. E Fred tenta, tenta e tenta. Encontra-se, num Mineirão vazio, com um líder da Máfia Azul; com fantasia de cachorro de festa infantil, infiltra-se, durante uma partida da Libertadores, no meio da torcida azul e branca. Abraça cruzeirenses a rodo. Se ele se cura de seu fanatismo? Só vendo o programa.

GALO NA VEIA

Além do livro 'O atleticano vai ao paraíso' (2013), coletânea das crônicas semanais publicadas no EM, Fred tem outro projeto envolvendo seu time em curso. Ao lado dos cineastas Helvécio Marins Jr. e Sérgio Borges, prepara longa-metragem sobre a história do Clube Atlético Mineiro. Será o responsável pelo roteiro e deverá ainda fazer a narração do filme que vai contar a trajetória do Galo desde sua fundação.

MAIS SOBRE MEXERICO