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COZINHA MINEIRA

Chef Eduardo Avelar registra em livro viagens gastronômicas por 1.200 locais de Minas

- Foto: Ao longo dos últimos 20 anos, o chef Eduardo Avelar se dedicou a pesquisar a complexidade dos sabores pelos diversos interiores de Minas. Depois de visitar mais de 1.200 localidades, entre cidades e distritos, ele oferece ao público uma viagem pelo estado no recém-lançado volume Cozinha Mineira – dos quintais aos territórios gastronômicos.


Além de documentar a história e a diversidade da culinária local, o livro consiste também num manifesto do autor sobre as múltiplas possibilidades sociais e econômicas dessa grande riqueza mineira.

“Abordo os territórios gastronômicos que identifiquei em Minas, mas, principalmente, a oportunidade para gestores e empreendedores utilizarem a gastronomia em Minas, com todo o poder que ela tem para desenvolvimento econômico e social a partir disso. Isso está dentro da gente. A mineração, um dia, vai acabar, então é preciso utilizar esse potencial, como fazem a Toscana, na Itália, a Provence, na França, o Peru e o Chile, que trabalham essa regionalidade. Esses lugares têm essa cultura de assumir a gastronomia como um bem próprio. Por aqui, isso ainda está começando”, afirma o chef e pesquisador.

Ele conta que transformou seu olhar em relação à cozinha mineira quando se mudou para a França, em 1999, para se especializar profissionalmente na alta gastronomia. “Por lá, comecei a pesquisar sobre as regiões e vi uma cozinha mais simples no interior do país. Isso me inspirou. Voltei para o Brasil pensando em fazer algo em torno disso”, conta.



Dessa vontade nasceu o projeto Sabores de Minas, ainda nos anos 2000, que teve o Estado de Minas como parceiro para divulgação de receitas e roteiros gastronômicos de Minas Gerais. Nas saborosas e prazerosas andanças pelas muitas localidades do estado, Avelar aprofundou seus conhecimentos, partindo dos quintais até a identificação dos chamados “territórios gastronômicos”.

Na condensação desse trabalho, ele identificou cinco macro-regiões dentro de Minas que guardam características próprias: a Central, que inclui BH e Região Metropolitana; o Espinhaço, que se estende verticalmente do Centro até o sertão do Rio Pardo, no Norte; a Mantiqueira, identificada como o Sul, o Cerrado, à Oeste do Espinhaço; e o território dos Rios, na porção Leste do mapa, onde estão os vales dos rios Doce, Mucuri e Jequitinhonha. O autor ressalta ainda a existência de pelo menos 30 subterritórios dentro deles, dando como exemplo “a Canastra, que não é só o queijo”, e citando a variedade da produção local, que inclui “bons vinhos, cafés especiais, um grande cultivo de banana, além do queijo que é referência internacional.”

O desejo de Avelar é ver outras regiões se firmarem como referências em escala mundial e destino certeiro para turistas. “Regiões como a do Mucuri, perto de Teófilo Otoni e Nanuque, onde há um potencial riquíssimo para o turismo gastronômico. Uma região que possui laticínios, carnes de altíssima qualidade. Falta estrutura para que isso seja mais bem desenvolvido melhor.”



De acordo com o chef, “quando falamos em gastronomia hoje em dia, muita gente ainda pensa no Master chef, na alta gastronomia, no glamour. Não é isso. É sobre a importância que isso pode ter para gerar renda para famílias. Estou propondo uma reflexão à comunidade acadêmica e científica para aprofundar também esse estudo”, argumenta.

Ele defende que, por meio da regionalização, “é mais fácil a pesquisa, o convencimento, a mobilização das comunidades e produtores, para sacudir essa turma com esse pertencimento, esse empoderamento”. “Com o livro, minha pretensão é registrar tudo que visitei, por mais de 1.200 localidades, com o Sabores de Minas, e mostrar o que pode ser explorado para desenvolver projetos. Faço uma provocação à academia, aos gestores públicos, sobre como é possível buscar melhorias para os produtores, para a agricultura familiar e de tudo o que isso simboliza, com a possibilidade de virarem marcas fortes.”

Apesar da divisão conceitual em territórios dentro da diversa geografia do estado, Eduardo Avelar identifica facilmente uma unidade mineira em torno da gastronomia, que é a “nossa relação com a mesa, com a cozinha”. Para o autor, “historicamente, a forma como o mineiro recebe é diferente, a nossa unidade é isso. Ninguém trata a mesa, o quintal como tratamos aqui. Isso sem falar dos biomas. O sertão, o cerrado, as terras altas, a Mantiqueira, que é única”, afirma.

Cozinha Mineira – dos quintais aos territórios gastronômicos
Eduardo Avelar
Editora Letramento
R$ 59,90