'Mesa ao Vivo' realiza sua primeira edição em Minas Gerais

Evento gastronômico reúne grandes chefs e especialistas durante dois dias para palestras, oficinas, degustações, jantares e feira com produtos

por Mariana Peixoto 07/08/2017 08:00
Agenda Comunicação Integrada/Barbara Kaucher/Divulgação
Paulo Shin (Komah), Flávio Trombino (Xapuri) e Léo Paixão (Glouton) participam do evento em Belo Horizonte. (foto: Agenda Comunicação Integrada/Barbara Kaucher/Divulgação)

É tudo ao vivo. Sem edição e aos olhos do público. Evento criado há 14 anos, o Mesa ao Vivo ganha sua primeira edição em Belo Horizonte, sexta, 11,  e sábado, 12, no Espaço Sicepot, no Estoril. Com Alex Atala encabeçando o elenco de chefs convidados, o circuito de gastronomia atua na base do tudo ao mesmo tempo agora. São palestras (quatro por dia), oficinas (oito por dia) e salas de degustação (duas por dia). A ideia é fazer uma imersão gastronômica, já que o evento começa às 11h e vai até a noite.

De Minas, participam Américo Piacenza (Cantina Piacenza), Bruna Martins (Birosca S2), Caetano Sobrinho (A Favorita), Djalma Victor (Osso – Mind the Bones), Flávio Trombino (Xapuri), Fred Trindade (Trindade), Ivo Faria (Vecchio Sogno), Léo Paixão (Glouton), Rodrigo Zarife (Ro.Za), Rodrigo Fonseca (Taste Vin), Jaime Solares (Borracharia Gastrobar), Henrique Benedetti (Ollivia Gastronomia), Camilo Gazzinelli (Cum Panio) e Rodolfo Mayer (Angatu).

Como está estreando em Minas Gerais, o Mesa ao Vivo – criado pela revista Prazeres da mesa, que vai ter uma redação ao vivo funcionando no local – vai enfatizar a cozinha mineira. ''Quem comprar ingresso vai ter direito a um tour por 20 estabelecimentos de BH (bares, docerias, bufês e restaurantes) escolhidos por uma curadoria do evento'', comenta Marcelo Wanderley, correalizador do Mesa ao Vivo. Haverá ainda um espaço, este sem necessidade de ingresso, que vai destacar a produção local. Chamado Empório Mesa, vai contar com lanchonetes, restaurantes, cafeterias e cervejarias.

MEXIDO COREANO Além de Atala, outros chefs celebridades participam do evento. Um deles é Carlos Bertolazzi, do Zena Caffé, de São Paulo, e também apresentador do programa Fábrica de casamentos, do SBT/Alterosa. Bertolazzi participa do evento no sábado. Às 15h30, ministra aula sobre carne suína. ''Está havendo uma desmitificação da carne suína. Antigamente, o perfil de corte era costelas, costelinhas. Hoje em dia, usa-se muito barriga, bochecha. E sem contar que ao longo do tempo ela perdeu a gordura que tinha. Atualmente, um filé mignon suíno tem menos gordura do que um bovino'', comenta.

Bertolazzi vai preparar três pratos típicos da Itália: ossobuco, costeleta à milanesa e saltimbocca alla romana. ''Só que lá se usa o vitelo, que é o boi jovem, uma carne mais rosada. No Brasil, como os vitelos são muito pequenos, vou substituir por carne de porco.''

Também de São Paulo vem o chef Paulo Shin, do Komah, de gastronomia coreana. No dia 12, às 16h45, ele vai apresentar o bibimbap, como é chamado o mexido coreano. O interessante é que o prato oriental tem um pé em Minas Gerais. Não, não se trata de ingredientes. Ele é serviço num prato de pedra-sabão, produzido pelo mineiro Oscar Paiva. ''A pedra-sabão retém o calor e servimos o bibimbap com o prato bem quente. Conforme o tempo vai passando, a parte de baixo vai sendo tostada e o arroz fica crocante'', diz Shin.

Filho de coreanos, Shin, que já passou pela cozinha do D.O.M., abriu o Komah (caçula, em coreano) há um ano. O bibimbap é um prato tradicional na Coreia. Os ingredientes, além do arroz, são ovo frito (ou com a gema crua), espinafre, cogumelo e carne. ''Cada um tem a sua receita. Misturo algas no arroz e diminuo a pimenta para distribuir o sabor de cada ingrediente'', conta ele. O gosto é bem diferente do nosso mexido, bem como a apresentação. O prato vem montado, mas cabe ao comensal misturar tudo.

VIAGRA DO SERTÃO Dos mineiros, o tradicional Xapuri, que completa 30 anos no dia 22, comparece ao Mesa ao Vivo com o prato Saudades do cerrado. Há cinco anos, Flávio Trombino assumiu a cozinha do restaurante na Pampulha, fundado por sua mãe, Nelsa. Em sua aula na sexta, às 17h, pretende mostrar ao público ingredientes brasileiros ''que o grande público não conhece''.

O prato Saudades do cerrado traz miolo de alcatra, farofa de baru, batata-doce, purê de moranga, azeite de coentro e pimenta-de-macaco. ''A pimenta-de-macaco foi catalogada no século 18 pelo naturalista francês Auguste Saint Hilaire. Os exploradores utilizaram a árvore para cordaria, madeira. Ela correu o risco de extinção sem que se soubesse o real valor do produto'', conta Trombino.

Como especiaria, ela é uma pimenta aromática, com ''um aroma semelhante ao da pimenta- do-reino, mas sem ardor''. Já o baru é, de acordo com Trombino, uma castanha típica do cerrado e muito mais oleosa do que a do Pará. ''O baruzeiro é uma das maiores árvores da região e sua castanha se assemelha ao amendoim. Como é muito rica em vitamina e potássio, é conhecida como viagra do sertão.''

Outro chef mineiro que vai mostrar a mudança na gastronomia do estado é Léo Paixão. No sábado, às 18h, ele ministra palestra sobre sua trajetória à frente do Glouton, que completa cinco anos em janeiro. ''Vou falar da evolução do Glouton, de restaurante francês a restaurante mineiro. Isto vem em decorrência da mudança do cenário. O estrangeirismo gastronômico de antigamente foi substituído pela gastronomia nacional.''

A melhoria na qualidade e na quantidade de produtos, bem como a valorização dos produtores locais, aliados à técnica dos chefs, acabaram por educar o público. ''E eu fui me adequando. Quando abri, não poderia oferecer língua, barriga de porco ou frango com quiabo cobrando caro. O meu público estava acostumado com confit de pato, bacalhau'', diz Paixão.

Um exemplo claro dessa mudança está no cardápio do restaurante. Quando o Glouton foi aberto, a opção de ave era um confit de pato com molho de tamarindo (uma fruta africana) com purê de batata. ''Hoje, no lugar do pato eu tenho um arroz de galinha caipira com quiabo. O prato faz tanto sucesso que não deixam tirar do cardápio'', conclui Paixão.

Jantares
O Mesa ao Vivo também vai contar com dois jantares. Na quinta, 10, para a abertura do evento, haverá um jantar no Hotel Toscanini (Rua Arturo Toscanini, 61, Santo Antônio), com cinco pratos. Cada um será assinado por um chef: Pedro Siqueira, Paulo Shin, Ivo Faria, Léo Paixão e Ana Luiza Trajano. Valor: R$ 230 (por pessoa, com harmonização de vinhos). Informações: (31) 99197-4062. Já na sexta-feira, no Mineiraria – Casa da Gastronomia (Rua Uberaba, 865, Barro Preto), haverá um jantar beneficente, com renda revertida para a Casa de Acolhida Padre Eustáquio. O jantar, com seis passos, terá pratos produzidos por Alex Atala, André de Melo, Carlos Bertola, Léo Paixão, Ligia Karaza e Rodolfo Mayer. Valor: R$ 800 (por pessoa, com harmonização de vinhos). Informações: (31) 99204-0008.

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