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Semana Santa

Doce oportunidade de negócios na Páscoa artesanal

Produção caseira transfere personalidade às receitas de ovos

Laura Valente

- Foto: Juarez Rodrigues/EM

Não adianta teimar: quando o dom para a culinária bate à porta, impossível afastar a pessoa da cozinha. Outra verdade vem do fato de esses cozinheiros amadores geralmente fazerem fama sem a intenção, e virem a produção deslanchar em datas temáticas, como a Páscoa. Quando percebem, estão vivendo entre quilos e quilos da matéria-prima preferida. Aqui, contamos duas histórias recheadas de ovos de chocolate, cenouras, caldas e confeitos.


A primeira lembra um conto de fadas. Era uma vez, a menina formada em direito que fez de tudo para atender à expectativa de passar em um concurso público e ser bem-sucedida pelo resto da vida, mas tinha como sonho verdadeiro trabalhar com confeitaria, mais especificamente com bolos. Pois ela se chama Juliana Monteiro Machado, e é realzinha da silva. “Depois de quatro anos ininterruptos fazendo provas em todo o Brasil, me vi bastante infeliz, e retomei o hobby de fazer bolos de cenoura às sextas-feiras, para relaxar e me alegrar. Com a prática, passei a reeditar a receita original da minha avó, transformando principalmente a cobertura, e em pouco tempo percebi a necessidade de aumentar a produção para dar conta de atender às encomendas que vinham de amigas e do boca a boca”, conta.

 

Juliana Machado, produz bolos e ovos de Pascoa recheados - Foto: Juarez Rodrigues/EM
Lá se vão três anos que Juliana deixou de ser concurseira para se tornar uma confeiteira. “Minha receita é tradicional, o segredo é a proporção de ingredientes aos quais cheguei por meio de testes, é o diferencial”. Pouco tempo depois deste começo, a moça viu na Páscoa uma oportunidade de diversificar a produção, e criou versões de ovos recheados com o bolo de cenoura (veja receita na página). “Visto algumas versões do bolo com símbolos da data, e desenvolvi receitas de ovos de forma pioneira em BH

. Isso em 2014, quando soube que duas confeitarias de SP faziam a versão recheada com bolo de cenoura e fui atrás. Apesar de não ter formação na área de gastronomia, procuro aprender técnicas realizando cursos livres com profissionais especializadíssimos e reconhecidos no mercado nacional como Flávio Federico, Carole Crema e Lucas Corazza”, avisa.


A especialidade abraçada por Juliana, o bolo de cenoura, está presente em todos os produtos desenvolvidos para a data, o que varia são os recheios. “Fiz o compromisso de me especializar em um sabor só. Também o blend de chocolates nobres para a produção dos ovos é o mesmo, mas recheio, cobertura e confeitos variam. Além do tradicional bolo de cenoura com cobertura de chocolate e confeito de chocolate belga, para este ano lancei mais duas versões: cobertura,de doce de leite com paçoca e um meio a meio, que mistura este sabor junino e o tradicional”. Os ovos são oferecidos em metades, com 500g ou 800g, e a moça indica a experiência de comer de colher.


Hoje, ela é uma empreendedora individual, e responde pela marca Cenora bolos (assim mesmo, sem a letra u). A produção em diversos formatos, pesos e quantidades (do mini cupcake ao bolo de dois andares e 35 fatias) funciona de segunda-feira a sábado e atende a uma gama diversificada de clientes como público comum, corporativo, eventos e catering. Com a introdução da oferta de Páscoa, a demanda e o trabalho multiplicam, tanto que Juliana costuma varar a madrugada na lida, perfumando o prédio onde mora com o aroma que sai do forno. Mas não reclama. “Conquistei minha independência

. De uma pessoa sem uma profissão definida, virei empreendedora. E estou mais feliz que nunca por que faço o que amo”.

 

 

Bolo de cenoura


Ingredientes

Para a massa: 3 cenouras médias descascadas e picadas, 3 ovos, 1 xícara de óleo de soja, 3 xícaras de farinha de trigo, 2 xícaras de açúcar e 1 colher (sopa) de fermento químico em pó. Para a cobertura: 1 caixinha de creme de leite, 3 colheres (sopa) de chocolate em pó e 1 colher (sopa) de margarina.

Modo de fazer

A massa: Bata no liquidificador os ovos, o açúcar, o óleo e a cenoura. Transfira a mistura para uma tigela maior, acrescente a farinha de trigo e o fermento e bata na batedeira. Unte as forminhas, preencha-as com a massa até 3/4 e leve ao forno preaquecido a 180 graus por 20min. A cobertura: misture tudo e mexa em fogo alto até ficar cremoso. Sirva  sobre o bolo.

 

 

Imbatível 

  - Foto: Merci Cake/Divulgação

 

Não distante dali, Vitor Carpe, que trabalha oficialmente no departamento de marketing de uma empresa de moda, também usa a cozinha doméstica para produzir encomendas durante a Páscoa. A prática surgiu de um hobby, realizado desde a infância. “Quando tinha dez anos, minha mãe esqueceu de comprar o ovo e Páscoa, e eu decidi fazer um bolo, com recheio de coco, para comemorar a data. Desde então, a confeitaria funciona como válvula de escape da rotina e como um negócio alternativo toda vez que me canso da minha profissão”.


A paixão até originou uma foodbike, que ele instalava em praças e em eventos para comercializar a doce produção. Ali surgiu o nome da marca, Merci (obrigada na tradução do francês). “O doce me remete à gratidão, ao lúdico, à memória afetiva de cheiro de bolo assando, barulho de batedeira. Considero clara em neve coisa de conto de fadas...”, discorre.
Depois de um período levando a experiência da foodbike adiante, Vítor foi reabsorvido pelo mercado da moda e ficou complicado conciliar o trabalho na cozinha e no escritório. Assim, decidiu reeditar a Merci apenas em datas comemorativas,como a Páscoa.

 

“Fizemos a primeira experiência em 2015 e o retorno foi tão positivo que sempre que posso lanço linhas especiais”. Para este ano, oferece ovos recheados e trufados, de pote, maciços com frutas secas e ainda versão modelada com pasta americana. “Gosto de resgatar receitas que parecem de avó, nada de apelo contemporâneo, gourmetizado, mas com ingredientes nobres e atuais”, avalia. Entre as opções, cita o ovo recheado com bolo de chocolate, brigadeiro belga e ganache; pão de ló com doce de leite ou com recheio de leite Ninho e de Nutela. Os trufado trazem casca com recheio cremoso de paçoca, trufa branca, trufa meio amarga e tradicional e os de colher nos sabores torta de limão, Nutela com Ninho, paçoca com brigadeiro belga e prestígio. “Por questões de saúde, sou contra o uso de conservantes químico e lanço mão do corante apenas na pasta americana, que modela o coelho e a cenoura decorativos”, revela.


De cunho 100% artesanal, a produção deve ser consumida fresca e Vitor pede prazo de cinco dias para encomendas. “Meu interesse é ganhar dinheiro também, mas não o meu foco. Na verdade, trabalhar com confeitaria artesanal é uma desculpa para rever pessoas, distribuir alegria, confortar o coração mesmo de desconhecidos que chegam por meio do produto. Isso por que acreditamos na possibilidade de adoçar o mundo, de conviver, de olhar no olho. Cozinhar é familiar, fraternal e revela toda a atenção de quem fez. O carinho do feito à mão é imbatível”, acredita.