Maioria das sorveterias de BH usa pistache certificado da cidade italiana de Bronte

Como produto está em falta no Brasil, algumas casas cortaram o sabor, enquanto outras testam fruto de origens diversas

por Eduardo Tristão Girão 24/04/2015 08:30
Euler Júnior/EM/D.A Press - 28/2/15
(foto: Euler Júnior/EM/D.A Press - 28/2/15)
De setembro para cá, três sorveterias de estilo italiano abriram as portas em Belo Horizonte: Goccia di Latte, Lullo e Mi Garba. Elas têm nos cremosos gelatos de pistache o sabor mais procurado. Como até recentemente era quase impossível encontrar aqui um sorvete desse que se comparasse ao original da Itália, teve início uma corrida ao pistache na cidade – e com muita discussão sobre qual seria o melhor. Consequentemente, duas tradicionais sorveterias daqui (Alessa e Easy Ice) resolveram correr atrás da iguaria. Assim, formou-se o buchicho.


Em paralelo, houve problemas no fornecimento da pasta de pistache, matéria-prima industrializada e essencial para a produção do sorvete, em grande parte importada da Itália. Casas que trabalhavam com o produto certificado de Bronte, cidade italiana por muitos considerada como produtora do melhor pistache do mundo, foram as que mais sofreram. Além do alto preço (quase R$ 700 o quilo), é um produto um tanto escasso, uma vez que a cidade é pequena e a Itália nem é dos maiores produtores do fruto em quantidade.

Na Lullo, por exemplo, há cerca de 20 dias não há sorvete de pistache. “Hoje, em BH, nenhuma gelateria tem pistache certificado de Bronte, que está em falta no mercado há três meses. Se eu soubesse, teria comprado mais dessa pasta no meu pedido anterior. Já testei cinco marcas e nenhuma agradou. Para quem entende do assunto, tem de ser o de lá. O mineiro tem viajado muito e comparado os sorvetes”, diz o proprietário Alexandro Luchesi. Em julho, ele viajará até a cidade italiana para negociar a importação direta com produtores locais.

Na Goccia di Latte, que também trabalha com a pasta do fruto de Bronte, o pistache saiu da vitrine há dois meses e não há previsão de retorno, mesmo panorama informado pela Lullo. “A falta é no Brasil inteiro. O pedido feito pela Fabbri, que importa o produto, está preso na alfândega e já me deram três prazos de entrega diferentes. Desisti de ligar”, desabafa Adriano Bitti, um dos proprietários da Goccia di Latte. A MEC3, que também importa o ingrediente, estaria com o mesmo problema.

Para não deixar faltar a bola preferida de muitos belo-horizontinos, alguns proprietários de gelatarias da cidade abriram mão da pasta certificada. Foi o que fez Luca Lenzi, da Mi Garba, que atualmente usa pistache italiano da Sicília. “Experimentei um californiano muito bom, mas dou preferência ao italiano. A diferença de sabor depende muito da torra do fruto. Reconhecer a diferença entre um iraniano e um californiano é difícil, talvez eu não consiga, mas o de Bronte é inconfundível”, afirma Lenzi. Assim que possível, voltará a usar a variedade de Bronte. Lá, o copo custa R$ 10 (tamanho menor).

Manobra Estimulada pela concorrência dessas gelaterias, Andrea Manetta, proprietária da Alessa, acaba de testar com seu mestre sorveteiro, o italiano Mario di Rauso, cinco receitas que têm como base pastas importadas das marcas Fabbri e PreGel. Elegeram a segunda, à qual acrescentaram pistaches caramelizados, receita que passará a ser oferecida ainda este mês (R$ 10 uma bola). A receita anterior da casa, de cor e sabor diferentes do padrão italiano, será mantida. “Não vamos tirá-lo agora, pois muitos clientes vêm aqui só por causa dele”, diz ela.

Situação semelhante é a da Easy Ice, onde a proprietária Juliana Scucato também optou por continuar produzindo a antiga versão do pistache, enquanto tomou providência para ter uma segunda opção, com sabor mais parecido com o dos italianos (R$ 68,90 o quilo). Apenas na loja de Lourdes o freguês encontra a versão elaborada com pasta mais simples da Fabbri. “O mercado está mudando, mas não posso tirar o sorvete que vendo bem, pois há quem goste dele assim. Inclusive, vendo mais do antigo”, afirma ela.

ONDE IR

>> Alessa

Rua São Paulo, 2.112, Lourdes, (31) 3292-2588. Aberto de domingo a quinta, das 13h à 0h; sexta e sábado, das 13h às 2h.

>> Easy Ice
Rua Curitiba, 2.244, Lourdes, (31) 3281-0861. Aberto de terça a domingo, das 11h às 23h.

>> Goccia di Latte
Avenida Álvares Cabral, 1.039, Lourdes, (31) 9814-8614 e (31) 9605-9056. Aberto diariamente, das 11h às 23h.

>> Lullo
Rua Antônio de Albuquerque, 617, Savassi, (31) 3565-0625. Aberto de domingo a quarta, das 11h às 22h; quinta a sábado, das 11h às 23h.

>> Mi Garba

Rua Marília de Dirceu, 161, Lourdes, (31) 2516-7056. Aberto de domingo a quarta, das 11h às 22h; de quinta a sábado, das 11h às 23h.

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