Foram necessários seis anos de pesquisa para a elaboração do livro, escrito por Paloma durante o período em que acompanhou o exílio do pai na França, entre 1948 e 1949. “O resultado foi rico e com tantos elementos que eu tive dificuldade de eleger qual caminho tomar. Decidi que faria três livros — um dedicado às frutas; outro, à cozinha baiana e um livro de comida ritual, feitas pelos orixás. Esse último ainda precisa ser escrito e pretendo dar a ele um embasamento antropológico. Não quero escrever um livro qualquer”, ressalta a escritora.
Parcerias
Para a seleção de receitas, Paloma Amado contou com uma equipe experiente de cozinheiras anônimas e famosas, como Dadá, que comanda o restaurante Tempero da Dadá, em Salvador; e dona Canô, responsável pela receita de doce feito à base de casca de laranja, o preferido da cantora e filha, Maria Bethânia. “Dona Canô gentilmente me alertou que a receita não ficaria igual porque ela tem um jeito especial de fazer que só ela sabe. Isso prova a relação entre cozinha e afeto que os baianos têm”, ressalta Paloma.
Receitas antigas que já não fazem parte cotidiano gastronômico baiano, como a quitandeixa, vatapá preparado com feijão fradinho, também marcam presença no livro. “Em uma das obras que meu pai escreveu durante o exílio (Os subterrâneos da liberdade — agonia da noite) ficou claro a saudade que ele tinha de comer vatapá, prato que não provava há cinco anos. Aquilo tudo não era pensado: ele não era uma pessoa de psicologismos. Tudo nele era muito natural” ressalta a filha do escritor.
Paloma Amado afirma, ainda, que em cada passo da pesquisa em torno das obras do pai confirma a generosidade do escritor, que era refletida em sua obra literária. “Alimentar é o primeiro ato de amor de qualquer pessoa desde o nascimento. O dar de comer dentro da literatura do meu pai representa um amor total dele pelos personagens e por todos que o inspiraram. É uma declaração de amor ao povo da Bahia”, destaca Paloma.