Sucumbi totalmente à novidade e, na volta, consegui trazer na bagagem várias peças para apresentar a amigos. Naquele tempo era possível fazer essa graça, até que, nos últimos tempos, a alfândega resolveu proibir sua entrada no país, dentro de bagagens pessoais – e a razão não consigo entender. Minha paixão não foi a única. O rei inglês Eduardo VII, em visita a Portugal, levou de volta, em sua bagagem, apenas alguns queijos da serra, que adorou. Só sei que muitos apreciadores, como eu, tentam furar essa barreira. Quando não conseguem, preferem inutilizar o produto na frente dos sisudos fiscais. Nos últimos tempos, o queijo da serra pode ser encontrado em alguns endereços na capital - não são os de qualidade máxima, mas não envergonham ninguém. E até o preço, que era pouco abordável (quando ele só aparecia em São Paulo), está mais palatável.
Localização A história da iguaria não é nova, existe desde o século 12 e, em 2011, foi considerado uma das sete maravilhas gastronômicas de Portugal. Mas, anos atrás, sofreu as mesmas restrições do nosso queijo mineiro, por não ser certificado, que é onde a alfândega se apoia, para proibir sua entrada particular no país. Sua produção se limita a uma região demarcada na Serra da Estrela, que envolve cidades como Covilhã, Guarda, Cerorico da Beira e outras. Para quem gosta de viagens diferenciadas, vale a pena dar uma chegada à Covilhã, uma pequena cidade antiga na entrada da serra. Na sua praça central estão alguns cafés que servem também o presunto cru da região, uma loja de variado estoque (comprei lá um anel antigo de turmalina verde, muito bonito). A população local não passa de 35 mil habitantes. E, para quem viaja de carro, pode ser um desvio para Guarda, de onde se alcança a Espanha. De qualquer forma, a Serra da Estrela vale um desvio, principalmente quando sua topografia de altos e baixos está coberta pela neve, mas mantendo um pouco do campo verde onde as ovelhas são criadas.
Produção Duas espécies de ovelhas produzem o queijo: Serra da Estrela e Churra Mondegueira. Os rebanhos não recebem qualquer tipo de ração a não ser a natural, dos campos, por isso a produção do leite é baixa, compensada entretanto pelo alto teor de gordura. Os criadores levam os animais para pastar de manhã bem cedo e eles são recolhidos à noite. A produção é regulada pelo inverno e as ordenhas não devem ser misturadas. As mulheres da família produzem o queijo manualmente, e seu coalho é feito com flores de cardo. Depois que o leite coagula, é colocado sobre uma bancada, sobre um lenço de pano, para ser trabalhado manualmente. Depois, é colocado em bolsas de tecido, onde o excesso de soro é retirado. Sofre, mais uma drenagem, antes de ser enformado para a cura, que dura em média 60 dias, em barracões feitos de pedra, que mantêm a temperatura baixa. Por causa disso, o produto resiste algum tempo no freezer, de onde deve ser retirado na véspera de ser servido.
Tradição O queijo da Serra da Estrela é tão respeitado e tem produção tão pequena que raramente é usado em qualquer preparação, como ocorre com outras variedades. O ideal é levar a peça à mesa, com a casca cortada no centro, para caber uma colher, usada sempre para servi-lo. Torradinhas muito finas acompanham. Mas consegui, pesquisando, uma receita portuguesa onde ele entra como ingrediente principal.
Arroz de queijo da Serra da Estrela
Ingredientes
1 queijo da Serra da Estrela (com a casca fina inteira), arroz q.b, 1 cebola picada, 2 dentes de alho picado, fio de azeite, água quente no dobro do volume do arroz, 1 pitada de sal,
1 cabeça de alho poró, 1/2 chouriço.
Modo de fazer
Lavar o arroz e escorrer. Numa panela, aquecer o azeite e acrescentar a cebola e o alho. Fritar em fogo baixo. Acrescentar o arroz e fritar um pouco, mexendo sempre com a colher de pau. Acrescentar a água quente e o sal e mexer. Esperar que a água ferva, aí reduzir o fogo para o mínimo possível. Acrescentar por cima o alho poró cortado em rodelas finas e o chouriço em tiras pequenas. Tapar e deixar cozinhar por 10 minutos. Desligar e deixar cozinhar no vapor mais alguns minutos antes de usar. Colocar o queijo num pirex ou assadeira, rechear de imediato, calcando o arroz para preencher todos os espaços. Cobrir com a tampa do queijo. Se houver necessidade, levar ao forno bem quente por 1 ou 2 minutos. apenas.
*O arroz deve estar bem quente antes de ser colocado no queijo, assim irá derretê-lo. Depois, é só levar ao forno por 1 ou 2 minutos, não mais, para que o queijo não se desmanche, preenchendo todo o pirex.