Sabores de Diamantina eram os preferidos por Juscelino Kubitschek

Expedição Sabores de Minas visita cidade histórica e revela as delícias que são especialidade local

por Tiago de Holanda 28/03/2014 07:52

Sergio Amzalak/Esp/EM/D.A Press
Cidade natal de JK abriga receitas e tradições culinárias que são mantidas há gerações (foto: Sergio Amzalak/Esp/EM/D.A Press)
Quando Juscelino Kubitschek voltava a Diamantina, sua cidade natal, moradores faziam de tudo para agradar o ilustre conterrâneo. Uma das táticas mais usadas era lhe oferecer fartos banquetes, com feijão tropeiro, pernil de porco e outras delícias, algumas não tão conhecidas.

 

No município da Região Central de Minas, a 292 quilômetros de Belo Horizonte, visitantes não se deleitam apenas com a visão da pedregosa Serra dos Cristais ou com a riqueza do casario de arquitetura colonial. Há opções de refeições para todos os gostos, mas não se deve deixar de experimentar os ingredientes típicos da região, como samambaia do cerrado e quiabo da lapa.

Em Diamantina, que recebeu da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, uma das áreas mais movimentadas é o Centro Histórico, tombado em 1938 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

 

Os turistas costumam se concentrar por ali, sobretudo no entorno da Catedral Metropolitana, nos quarteirões que vão da pracinha com a estátua de JK à Casa de Chica da Silva (onde a famosa ex-escrava morou no século 18), passando pela Rua da Quitanda, principal point durante o Carnaval.

Ao passear sobre o calçamento de pedra das ruas, becos e travessas da cidade, onde os primeiros diamantes foram descobertos por volta de 1720, é possível ver ramificações de jabuticabeiras em quintais, entre as casas. A jabuticaba é muito cultivada e apreciada em Diamantina, presença frequente em licores, cachaças, geleias e molhos.

 

Frutas comuns na região, como gabiroba, pequi e pitanga, e diversos outros ingredientes e pratos podem ser comprados no Mercado Velho, no Centro, nas feiras realizadas às sextas, das 18h às 23h, e sábados, das 8h às 13h, que atraem muitos turistas.

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Mercado de Diamantina tem espaço para bancas com pratos típicos e iguarias, além do artesanato (foto: Sergio Amzalak/Esp/EM/D.A Press)
Comidinhas

Nas bancas do mercado municipal, cadastrados na Secretaria de Cultura, Turismo e Patrimônio de Diamantina, além dos 20 comerciantes que ofertam pratos típicos, como o indefectível tropeiro, há aqueles que comercializam produtos de artesanato, como bonecas de palha de milho, tapetes arraiolo (bordados com fios de lã de carneiro) e artigos compostos com uma planta bastante corriqueira por ali, a sempre-viva. À parte os vendedores cadastrados, há outros que aproveitam o grande número de clientes para oferecer doces e salgados, sendo um dos mais disputados um pastel de carne que JK adorava.

O pastel, vendido a R$ 0,90 cada, é feito por Áurea Barbosa de Souza, de 75, e suas filhas. “Na feira de sábado vendemos de dois a três mil pastéis, fora outros salgados, como empada de frango e coxinha. Tem turista que come na feira e encomenda mais para levar na viagem de volta. Gente de BH, de Brasília, do Rio”, conta. O produto, apelidado de Pastel JK, é uma receita de família. Segundo ela, o que torna a iguaria irresistível é a massa feita de véspera e a carne de primeira qualidade. “Tem que ficar um dia descansando, senão não fica crocante”, explica.

Cem pastéis podem ser encomendados por R$ 55, mas há muitas outras opções no cardápio da família. “Quando o JK estava na cidade, tinha um empresário que sempre nos comprava uma ceia para ele. Fazíamos tropeiro, arroz de forno, empadão, pernil, lagarto recheado com calabresa”, conta Áurea.

 

O empadão é um prato típico da região, mas a cozinheira alerta: “Ninguém faz uma massa como a nossa, sequinha. Tem uns que a fazem dura demais ou ela fica despedaçando”. Recheado com fartura (frango, palmito, linguiça, salsicha, ervilha, batata cozida, talharim e molho de cebola com tomate), o prato para 10 pessoas custa R$ 180.

O arroz de forno é outro pedido popular, coberto com queijo parmesão e salpicado com um pouco de farinha de pão. A família também faz o famoso bombocado, doce de coco com queijo. Antes, quem coordenava a cozinha era uma cunhada de Áurea, Angelina Lopes de Souza, conhecida como Angelina Tatu. “Foi ela quem começou, mas está velhinha, de cama, com 95 anos. A gente a ajudava a preparar tudo e fomos pegando o jeito”, recorda Áurea. Um dos quitutes ensinados pela pioneira foi a luminária, muito parecido com o pastel de Belém. “É recheado com um creme feito com leite condensado, maizena e canela. As pessoas mais antigas gostam muito”, diz.

Quem quiser fazer encomendas a Áurea pode ligar para sua casa – (38) 3531-1637 – ou visitá-la no número 473 da Rua Arraial dos Forros, no Centro.

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