Doces de Portugal ganha casa no Mangabeiras

Pastéis de Belém, queijadinhas e toucinhos do céu mantém em BH, tradições do país lusitano

por Carlos Herculano Lopes 11/10/2013 09:10
Paula Huven/Esp. EM/D. A Press
Maria Fernanda Affonso conta que os doces têm nomes conventuais por terem suas origens nos antigos conventos e mosteiros portugueses (foto: Paula Huven/Esp. EM/D. A Press)
A máxima de que nada acontece por acaso pode ser aplicada a Maria Fernanda Affonso, uma portuguesa de eira e beira, nascida em Angola, que chegou a Belo Horizonte com a família em 1975, quando a vida naquele país africano ficou insustentável devido às guerras pela libertação. “De um dia para outro, vi-me aqui, passando por sérios problemas pessoais e sem saber o que fazer”, recorda-se. Só que, por uma dessas benesses do destino, quando a esperança de dias melhores andava meio bamba, ela foi visitar uma amiga em Campinas, interior de São Paulo, e lá conheceu uma doceira portuguesa chamada Helena. O sobrenone “deste anjo”, que cruzou seu caminho, infelizmente já não se lembra.

Mas foi o suficiente para Maria Fernanda, de volta a Belo Horizonte, ao visitar na Praça da Liberdade a Feira de Antiguidades, que era dirigida pela crítica de arte Maristela Tristão, ter a ideia de ali tentar montar uma barraquinha para vender doces portugueses, justamente aqueles, que havia aprendido com dona Helena. Aceita sua proposta, pôs mãos à obra, e tudo começou a dar certo, pois na BH do fim da década de 1970 quase ninguém, por incrível que pareça, sabia daqueles docinhos deliciosos, que tinham nomes mais saborosos ainda como pastel de Belém, toucinho do céu e queijadinhas, entre vários outros.

“Algum tempo depois, Anna Marina, que foi minha ‘madrinha’, fez uma reportagem maravilhosa no Estado de Minas falando a respeito de meus doces. Comecei a vislumbrar novas oportunidades”, lembra Maria Fernanda. Dado esse primeiro passo, mesmo contra a vontade da família, o segundo foi abrir a primeira loja Doces de Portugal, que passou a funcionar na Avenida Afonso Pena, esquina com Rua Bambui. Experiência bem-sucedida, mas que durou apenas três anos, pois o imóvel teve de ser entregue.

Mais de 30 anos depois, ao se relembrar de tudo isso, os olhos de Maria Fernanda começam a marejar. Recentemente, ela abriu na Rua Américo Diamantino, 146 (quase na Praça da Bandeira), a terceira loja Doces de Portugal. As outras duas funcionam na Savassi (Rua Santa Rita Durão, 949 e Rua Antônio de Albuquerque, 862). Nas três, a proprietária garante, há o mesmo padrão de qualidade.

Em qualquer uma das casas, o cliente pode se regalar, além dos pastéis de Belém, das queijadinhas e toucinhos do céu com doces batizados com nomes não menos graciosos como Santa Clara, jesuítas e papo de anjo, além dos tradicionais quindins. “Os nomes, quase todos com motivos religiosos, nasceram do fato de, em Portugal, essas iguarias serem chamadas de doces conventuais, por terem suas origens nos antigos conventos e mosteiros, onde ainda continuam sendo fabricados pelas freiras”, ensina a proprietária.

A média de preço de cada unidade varia entre R$ 6 e R$ 7. A casa oferece ainda café expresso e petiscos salgados como empadas, quieches, livretos. E também aceita encomendas para eventos e festas. O bolo do rei, por exemplo, muito apreciado na noite de Natal, já começa a ser pedido. Tudo feito, é bom que se diga, com a supervisão direta de Maria Fernanda Affonso, dona de uma educação antiga, destas que, infelizmente, quase não existem mais.

Doces de Portugal
Rua Américo Diamantino, 146, esquina com Avenida Afonso Pena, no Mangabeiras. Aberta de segunda a sábado, das 9h30 às 19h30; domingos e feriados, das 9h30 às 19h. Informações: (31) 3344-6392.

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