Em locais remotos, cujos acessos são difíceis, com estreitas estradas cortando plantações de uvas, encontramos das coisas mais simples e rudimentares a restaurantes estrelados. Na Itália, nos arredores de Florença, por exemplo, descobrimos a Macelleria Cecchini, um açougue que funciona como restaurante em Panzano in Chianti, onde vive e trabalha o único chef de cozinha não francês que assina o Cardápio do Oriente Express. O gênio açougueiro e cozinheiro preserva o burro toscano-manteiga de banha, o pão medieval e a famosa bisteca fiorentina e ainda recita Dante Alighieri para seus visitantes vindos de todo o mundo. Poderia ficar aqui falando de cultura, de histórias de sabores de outras épocas, mas o que importa é como estamos caminhando hoje. Mesmo sendo um estado mediterrâneo e que começou sua história com quase dois séculos de atraso em relação ao Brasil, hoje Minas representa a síntese da cultura dos diversos terroirs brasileiros, além de sempre estar na vanguarda das artes, arquitetura, música, dança, cinema, literatura, política e hoje, mais do que nunca, da gastronomia. Só está faltando o nosso povo descobrir que nem sempre se faz turismo somente com grandes hotéis e restaurantes, e passar a garimpar as pequenas joias que temos escondidas em nosso mar de montanhas.
Tudo é uma questão de ponto de vista, como um dia definiu o arquiteto Sergio Bernardes com as mãos em meus ombros, num fim de tarde, nas varandas da sede do Morro do Chapéu, em Nova lima: “depois dizem que Minas não tem mar, eis o mar de Minas com suas ondas petrificadas, umas por virem atrás das outras...” Atrações gastronômicas artesanais pelo interior só estão esperando ser conhecidas e valorizadas especialmente por nós mineiros, para que possam gradativamente aprender, se adequar e se credenciar para receber turistas aventureiros de todo o mundo, como eu e alguns milhares de mineiros e brasileiros que curtimos essas experiências em outras paragens.
Vamos transformar definitivamente Minas Gerais na cozinha do Brasil. Saudações gastronômicas.