O dia da Terra

É desejável que o vinho seja reconhecido como orgânico?

05/05/2013 17:15
Giovanni Menezes, médico anestesiologista e enófilo

Em 22 de abril de 1970, o senador americano Gaylord Nelson iniciou uma manifestação cujo objetivo era a criação de uma agenda, com ênfase na conservação do meio ambiente e da biodiversidade. A ideia de que os recursos naturais têm fim e a preservação do planeta deve ser uma preocupação constante foi tomando vulto ao longo desses anos, e pudemos observar o surgimento de mudança conceitual.

Mas essa agenda não é assim tão nova. Em 1854, o chefe Seattle, da tribo duwamish, se viu diante de uma proposta de compra das terras do seu povo pelo governo de Washington. E respondeu com uma carta, considerada uma das mais belas peças de retórica de todos os tempos, que entre outras dizia: ” “Uma coisa sabemos. A Terra não pertence ao homem: é o homem que pertence à Terra, disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a Terra, agride os filhos da Terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele fizer à trama, a si próprio fará.”

É inegável o apelo de um produto ecológico, “verde”ou orgânico. Imaginamos que estamos consumindo mais racionalmente e com menos impacto ambiental. Mas, e quanto ao vinho? É desejável ser reconhecido como orgânico? Faz alguma diferença? Alguns dos melhores viticultores do mundo têm vinhedos que produzem sem o uso de pesticidas e adubos químicos. As uvas colhidas são consideradas orgânicas. Já o vinho, para ser considerado orgânico, além dessas uvas não pode conter sulfitos adicionados. Esses são conservantes e a sua ausência pode comprometer a estabilidade do vinho.

Detalhes à parte, não são muitos os consumidores que procuram vinhos por serem orgânicos ou de uvas de cultivo orgânico. O que seduz são outras qualidades da bebida, como corpo, álcool, acidez, presença ou não de madeira, entre outras. E alguns produtores que têm certificação orgânica também não se interessam que seus vinhos se tornem conhecidos por essa razão, e sim pela excelência. O que concordamos.

Mas uma ressalva é necessária. O cuidado com o vinhedo tem que ser muito grande, quando se opta por essa forma de produção. E quem age assim, tem grandes chances de produzir um bom vinho.

Esta semana, a dica de tinto é o chileno Pargua, do Vale do Maipo. Cultivo orgânico de uvas carmenere, Ccabernet sauvignon, cabernet franc, merlot, and syrah. No nariz, uma boa expressão de fruta. Na boca, um equilíbrio admirável de potência e elegância. Boa pedida para carnes e massas. No Supermercado Verdemar ( 31) 2105-0101 a R$79.

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