Por Fabiana Arreguy,

jornalista e sommelier
de cerveja formada pelo Senac/SP e
Doemens Academy de Munique

 

É até meio clichê citar “as águas de março fechando o verão”, como bem cantava Tom Jobim, para falar das características tropicais dessa época. Mesmo assim, correndo o risco de cair no lugar -comum, utilizo a frase para algumas comparações interessantes com o universo da cerveja. Se por aqui o mês fecha a estação mais quente do ano, dando passagem para o outono, na Europa, março fecha a primavera e dá passagem ao verão.

E a cerveja, o que tem a ver com isso? Um estilo muito interessante é o chamado Märzen, ou seja, cerveja fabricada em março, ainda na primavera, para ser tomada em outubro, nas festas tradicionais do outono. Ela é também chamada de Oktoberfest, nem preciso explicar porquê. Mas explico os motivos da produção com tantos meses de antecedência. É muito simples: é uma bebida que deve ser fermentada em temperaturas mais baixas.

Como o estilo foi inventado nos meados de 1800, portanto, antes da descoberta dos sistemas de refrigeração, era armazenada em cavernas geladas até ficar pronta para ser tomada nas festas do outono europeu. Para quem diz que de amarga já basta a vida ao justificar que não gosta de cerveja, a Märzen pode mudar seus conceitos, ou pre-conceitos... nem toda cerveja é amarga! É o caso dela, cuja principal característica é o maltado, que sobressai.

Embora não seja propriamente doce, a cerveja desse estilo deixa, no primeiro gole, a sensação de um leve dulçor, parecido com aquele que experimentamos ao saborear um pão sovado. Ela é suave, límpida e tem uma coloração puxada ao cobre que encanta logo ao cair no copo. Dizem que é uma cerveja elegante, eu também encaro assim. Neste ano, as águas de março parecem ter se escondido, bem como as cervejas de março, é claro, que poderão ser tomadas somente em outubro! Erdinger, Eisenbahn, Hofbräu... todas elas produzem o estilo sazonal e são vendidas facilmente por aqui.