Coco cantado em prosa e verso

por Patricia Aranha 29/08/2011 11:18
Patrícia Crespo 
 
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(foto: /Divulgação)
É impossível imaginar o Brasil sem os coqueiros que dão coco. Onde Ary Barroso amarraria a sua rede nas noites claras de luar? Dorival Caimmy não passaria as suas tardes em Itapuã nem as mulheres de Jorge Amado preparariam os seus famosos quitutes. A literatura e a música brasileiras têm tantas referências ao fruto, que ele já virou uma espécie de patrimônio cultural, faz parte da identidade nacional. Como imaginar a culinária brasileira sem a cocada, o quindim, o olho de sogra, o beijinho, a moqueca, o cuscuz e o vatapá?

O curioso é que o coqueiro não é nativo do país. Chegou aqui no século 16, com os escravos trazidos da África pelos portugueses. O historiador Câmara Cascudo afirma que aprendemos a usar o seu fruto com os africanos de Moçambique, que trouxeram também para cá utensílios próprios para manuseá-lo, como o ralador e o quengo (metade da casca dura do coco à qual se acopla um cabo de madeira, usado como concha). No entanto, também não nasceu na África. Alguns especialistas afirmam que a sua origem é asiática, outros que veio das ilhas do Pacífico. Ambas hipóteses plausíveis, já que ele é largamente difundido tanto nas cozinhas indiana, tailandesa e vietnamita quanto na malaia, na havaiana e indonésia. 

A divergência, porém, só interessa aos estudiosos. O que conta mesmo é que o coco não pode faltar nas panelas e tachos de norte a sul. Nas famosas balas delícias embrulhadinhas em papel de seda e no tradicional manjar com calda de ameixa ele marca presença, assim como nos mais exóticos e criativos pratos da gastronomia contemporânea. Afinal, é um ingrediente eclético e, além disso, encontrado em diferentes graus dos estados sólido e líquido.

A nutritiva água do coco verde é refresco indispensável, de preferência bebida no canudinho direto da própria fruta, na beira da praia ou nos quiosques espalhados em locais onde as pessoas praticam exercícios físicos. A melhor água de coco é a que vem no fruto colhido de seis a sete meses depois de brotar. É nessa fase que o líquido concentra mais sacarose, cujo nível tende a diminuir à medida que o coco amadurece. O volume da água, então, diminui e aumenta o da polpa, a grossa e generosa camada branca que pode ser usada fresca, ralada, torrada ou ainda espremida, na forma de leite. 

É da polpa também que se extrai o óleo de coco, que abastecia a cozinha doméstica brasileira até o início dos anos 1970, quando a soja ainda não era tão explorada no Brasil. As latas azuis da gordura de coco Carioca não podiam faltar nas despensas. 

Os grandes chefes da atualidade continuam dando destaque ao coco nos seus cardápios. Em criações exóticas e inusitadas, ele confere untuosidade, cremosidade e crocância a pratos doces ou salgados. Como o coco verde está na safra e seu preço atual gira em torno de R$ 1,50 a unidade (procurando bem, é possível encontrar o fruto em promoção nos sacolões por menos de R$ 1), que tal tomar bastante água natural do fruto bem gelada e aproveitar a polpa gelatinosa, geralmente descartada, para fazer o doce que sugerimos nesta página?
 
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(foto: /Divulgação)
 Doce de coco verde
 
Ingredientes 

300g de polpa de coco verde; 200g de açúcar e 100ml de água de coco fresco.
 
modo de fazer

Faça uma calda com a água e o açúcar. Acrescente o coco e deixe engrossar. Sirva gelado, com uma bola de sorvete de coco. 
 
* Formada em jornalismo pela PUC-MG e em gastronomia pela Faculdade Estácio de Sá.
 

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