Publicações sobre bebidas ganham espaço no mercado gastronômico

Quatro lançamentos, três da Editora Senac São Paulo, tornaram-se

por Eduardo Tristão Girão 08/05/2011 12:02

Marcos Vieira/Estado de Minas
(foto: Marcos Vieira/Estado de Minas )
Parte significativa da crescente popularidade de que goza a gastronomia no mundo inteiro se deve à quantidade e qualidade dos livros sobre o tema atualmente. Todo ano são derramados às centenas nas livrarias, incluindo as brasileiras. Os títulos de bebidas ainda são minoria se comparados aos de comida, mas começam a ganhar em diversidade com o lançamento de quatro obras interessantes, três delas da Editora Senac São Paulo, referência nacional na área. A mais impressionante delas, sem dúvida, é Whisky – O guia mundial definitivo (Senac São Paulo), um dos últimos trabalhos do jornalista inglês Michael Jackson, que ficou conhecido como beer hunter (caçador de cerveja, em inglês) e morreu em 2007. Publicado originalmente em 2005, ganha agora excelente edição em português, fartamente ilustrada e com todo tipo de informação que pode procurar tanto o leigo como o entusiasta. Imperdível. A linguagem é acessível e o texto se aprofunda em detalhes (sem ser enfadonho). Outra característica que vale ser mencionada é a participação de mais nove autores assinando textos - todos experts no assunto –, cada qual contribuindo com seus pontos de vista e conhecimentos específicos. Estão espalhados por todos os capítulos, que englobam a compreensão do uísque (os tipos), modo de produção e ingredientes (cevada, geologia, clima), países produtores e maneiras de apreciá-lo. O desfile dos fatores que influenciam o uísque é impressionante. Desde o clima (na Escócia é marítimo e ameno, com longas horas de claridade no verão, o que é ótimo para a cevada) até o método de mistura (blending, com uísques de diferentes idades e características; ou vatting, só com uísque de malte), passando por geologia, água (“dura”, com alto nível de sais minerais dissolvidos, ou “branda”), flores, brisa marinha, algas, cevada e turfa (acúmulo de matéria vegetal usado para abastecer o forno que seca o cereal). A partir daí, são as técnicas empregadas que passam a determinar por que um uísque terá esse ou aquele determinado sabor, aroma e aspecto. Nisso estão incluídos os processos de maltagem, maceração, cozimento, fermentação, destilação e envelhecimento, sobretudo. Em cada um deles há uma série de escolhas que o produtor pode fazer e que mudam dramaticamente o perfil da bebida. Bom exemplo é a influência da madeira no envelhecimento: a norte-americana, por exemplo, dá notas de baunilha e creme. Vale tudo Os cinco principais países produtores – Escócia, Irlanda, Canadá, Estados Unidos e Japão – têm capítulos exclusivos e volumosos, com subdivisão por região e notas de degustação de seus respectivos uísques. Na seção “Resto do mundo” o leitor tem informações gerais de produções menos conhecidas na Europa, Ásia e Oceania. É fácil imaginar uísque sendo feito na Austrália e Nova Zelândia, mas não no Paquistão, Índia e Tailândia. No entanto, todos têm suas destilarias. Há, é claro, parte dedicada à degustação, na qual o autor ensina a avaliar o uísque pelos visual, olfato, paladar e retrogosto, incluindo uma útil tabela com aromas e sabores típicos. Como ele mesmo gosta de deixar claro, nessa análise não há respostas erradas e nenhuma descrição é estranha demais, já que as pessoas têm sensibilidades diferentes e encontram maneiras diversas de descrever as sensações. Por fim, receitas de coquetéis com a bebida, harmonização com comida e usos culinários. Whisky – O guia mundial definitivo De Michael Jackson Editora Senac São Paulo, 288 páginas, R$ 90 TAMBÉM VALEM A PENA Papo cabeça Num momento como o atual, em que o brasileiro descobre ser o mundo da cerveja tão complexo como o do vinho, este lançamento torna-se muito oportuno. São textos que propõem reflexões sobre aspectos variados da bebida, incluindo uma curiosa discussão sobre a relação existente entre amizade e o ato de beber cerveja. A organização é de um PhD em filosofia norte-americano, e a apresentação, da beer sommelier brasileira Cilene Saorin.

Cerveja & Filosofia Organizado por Steven D. Hales Editora Tinta Negra, 288 páginas, R$ 45

Beabá cult Vencedor da última edição do prêmio Gourmand World Cookbook Awards na categoria “livro de educação sobre vinho”, é escrito por duas grandes referências no país: Dirceu Vianna Junior (único brasileiro que tem o título de Master of Wine) e José Ivan Santos (autor de outros bons livros sobre o tema). Tem todo o bê-a-bá do vinho muito bem explicado, dos processos de produção ao serviço e degustação, incluindo capítulos especiais sobre vinho e saúde e vinho no Brasil.

Conheça Vinhos De Dirceu Vianna Júnior e José Ivan Santos Editora Senac São Paulo, 276 páginas, R$ 70

Sem frescura Livros sobre vinho não faltam por aí, mas este é, no mínimo, diferente. Não no conteúdo, mas na forma. Pouco texto por página, muitas fotos e, o que é mais marcante, pegada bem-humorada. As informações são básicas e bem semelhantes às que se consegue em outros bons títulos. No entanto, é justamente o ar despojado que torna este lançamento tão atraente para iniciantes e adequado àqueles que insistem em enxergar o vinho como bebida de gente esnobe.

O Vinho - Uma paixão para todos De Alfredo Terzano e Mariana Gil Juncal Editora Senac São Paulo, 266 páginas, R$ 80

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