Livro reúne receitas preferidas de famosos como Sinatra e Pavarotti

Com ingredientes e modo de preparo

por Eduardo Tristão Girão 19/12/2010 17:37
Carlos Ramos/Divulgação
Dalla Bona queria saber porque alguns pratos levam o nome de pessoas (foto: Carlos Ramos/Divulgação)
O que partilham o abade francês Félix Kir, a bailarina russa Anna Pavlova e o embaixador brasileiro Pedro Leão Velloso Neto? A princípio, nada, mas basta observar os seus sobrenomes com mais atenção e cutucar a memória, para lembrar que estão ligados a um drinque, uma sobremesa e uma sopa, respectivamente. Esses e outras dezenas de casos semelhantes foram reunidos no recém-lançado Fama à mesa (Tinta Negra), livro no qual o curitibano Fabiano Dalla Bona apresenta receitas criadas a partir das preferências de gente famosa e também em homenagem a elas. Tudo com ingredientes e modo de preparo.

A lista é longa. Vai do rei francês Luís XV à ex-miss Brasil Marta Rocha, passando pelo cozinheiro português Gomes de Sá, o tenor italiano Pavarotti, o cantor norte-americano Frank Sinatra, o compositor carioca Tom Jobim e (ainda que existam versões diferentes) o médico russo Strogonoff. Para dar conta de tamanha diversidade, o autor, que é doutor em língua e literatura italiana, organizou as receitas em seis capítulos: homens famosos, mulheres famosas, grandes escritores e personagens literários, receitas musicais, receitas da realeza e drinques.

Há casos curiosos, como o da sopa Leão Velloso, aparentemente uma adaptação da clássica sopa francesa bouillabaisse, à base de frutos do mar, só que sem açafrão e elaborada com produtos locais. Outros são exemplos de preparações banais que ganharam um “dono” única e simplesmente por uma questão de preferência pessoal, como o frango atropelado que Tom Jobim adorava, temperado só com azeite e sal. Clássicos em escala global não ficaram de fora: turnedô à Rossini, tarte tatin, ovos benedict, pêssegos melba, molho béchamel, filé à Wellington e dry martini.

Interpretações

“O livro é fruto da minha curiosidade, em primeiro lugar. O que me motivou a escrever sobre esses pratos famosos foi o fato de querer saber quem eram aquelas pessoas com as quais, constantemente, nos deparamos nos cardápios de restaurantes do Brasil e do mundo. Certamente como eu, muitas outras pessoas já haviam se perguntado: ‘Mas, afinal, quem é este homem ou essa mulher? Por que tal prato leva o seu nome? Quem teria inventado o prato e por que consagrá-lo a tal pessoa?’”, conta Fabiano. Ele confessa ter se surpreendido com a grande quantidade encontrada de receitas do tipo.

A pesquisa foi feita em livros de gastronomia e de história, bibliotecas (como a Biblioteca Nacional e de outros países), Arquivo Nacional e jornais de época (incluindo exemplares do exterior), além de “fontes orais, muita paciência e muita conversa”. Nesse sentido, ele aproveita para louvar a tecnologia: “Pesquisei também nessa maravilha que é o Google books, pelo qual se tem acesso a livros raros e não presentes em acervos de bibliotecas brasileiras”.

Partiu, então, para a seleção das receitas, levando em conta a confiabilidade das fontes sobre a origem delas e a viabilidade de seu preparo no Brasil, ou seja, os ingredientes de cada uma deveriam estar à venda no país. As receitas menos populares foram pessoalmente testadas pelo próprio Fabiano. “O que acho importante é o fato de que preparar uma receita é exatamente igual a ler um texto. Se distribuirmos o mesmo texto a cinco pessoas, cada uma vai interpretá-lo de maneira diferente. O mesmo ocorre com uma receita”, observa.

Fama à mesa
De Fabiano Dalla Bona
Editora Tinta Negra, 184 páginas, R$ 37

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