Fany cria todas as maravilhas que o chocolate permite

Receitas secretas, clientes fiéis e criações que dão água na boca há 26 anos

por Lilian Monteiro 30/03/2010 14:39
Marcos Michelin/EM/D.A Press
(foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Como são admiráveis as pessoas com talento. Muitas o adquirem ao longo da vida, outras nascem com ele. O de Fany Balabram é o da culinária. Desde os 10 anos, a cozinha é o lugar da casa que mais lhe fascina, onde temperos são transformados em porções mágicas e dão origem a pratos saborosos. Desse dom nasceu um negócio, pequeno é verdade, mas com a riqueza e os cuidados de uma empresa familiar, que atiça o paladar dos mineiros há 26 anos: a Fany Bombons.

Vamos descobrir um pouco dessa história. Fany é mineira de Belo Horizonte, filha de pais ucranianos, tem uma irmã, Lúcia, estudou no colégio municipal, cursou contabilidade e fez ciências sociais. Trabalhou no INPS e na construtora do marido, Moysés Balabram, quando decidiu deixar de lado a burocracia do serviço administrativo. Precisava lidar com tarefas mais criativas.

Mas até chegar a esse ponto, ela se descobriu a vida inteira apaixonada pela cozinha. Aprendeu um pouco com a mãe, mas confessa que desde sempre cozinhou por feeling. Moysés e os quatro filhos – Edna, Ari Alberto, Elisa e Débora – são uns privilegiados. Ari, então, com paladar dos mais apurados, só abre mão das gostosuras da mãe por que vive longe de Belo Horizonte. Primeiro França, agora Indaiatuba (SP). E olha que Fany não tem um prato predileto ou mais famoso. Seja salgado ou doce, ela acerta em todos. Mesmo trabalhando a vida inteira fora, era na cozinha que ela se encontrava, sem nunca ter estudado: “Lembro que num aniversário do Ari fui perguntar o que queria. Ele disse: ‘uma torta de chocolate, mas sem ser comprada’. No ano anterior, sem tempo, não pude fazer e ele achou horrível. Tinha razão”.

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Beto Novaes/EM/D.A Press
Moyses e Fani Balabram (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
A história com o chocolate começou em 1983. Sem tanta pretensão, acabou atiçada por um curso. Só parou no terceiro e resolveu fazer bombons. Ajudaria na renda familiar dessa maneira. No dia 1º de setembro de 1983, foi inaugurada a primeira loja, no Bairro Sion: “O começo foi na base do ensaio, do erro e acerto, dos livros e de estudo. Naquela época, ninguém dava o pulo do gato. Fui praticamente pioneira”, conta Fany que há 14 anos abriu uma filial no Ponteio Lar Shopping. Bombons sortidos, trufas, copinhos de chocolate, embalagem para presente, cestas, chocolate quente, bouquê de margaridas ou de botões de rosa são parte do que a Fany Bombons oferece. Há pouco tempo, decidiu diversificar e abriu o cardápio para salgados – na loja da Pium-í são feitos na hora –, cafés, chás e, hoje, o carro-chefe é a torta de chocolate. Agora, a trufa de uísque nunca pode faltar: “Todos amam e se o cliente chega e não encontra, reclama. Fica bravo”.

MADRUGADA

Com 20 funcionários, a produção é de 200 quilos de chocolate por mês que a fábrica derrete e transforma. Da primeira loja de 17 metros quadrados, hoje o espaço é maior – 45 metros quadrados – e bem charmoso. A fábrica fica nos fundos. Mas nem tudo é só alegria. O começo foi duro: “No início, pegava uma encomenda e, sem a estrutura adequada, como a falta de ar condicionado, sentava na escada e chorava. Levantava às 4h para fazer bombom. O chocolate derretia, agarrava na roupa e falava que ia cancelar. Mas o Moysés jamais me deixou desistir. Acordava junto comigo, ajudava e sempre me deu força. Os meu três primeiros filhos também, só a caçula, hoje médica, é que não. Na época, ela tinha 2 anos. È temporona”.

Agora, Fany tira de letra. Tem até receitas secretas. E o grande diferencial está na produção, toda artesanal: “O bombom é feito um por um. Tudo pintado à mão. Nada de máquina. E hoje, quando precisa, ponho a mão na massa. Oriento sempre”. O controle de qualidade é rigoroso: “A família toda é louca por chocolate e não tem essa de enjoar. Se é bom, não tem isso. Agora, se for misturado, hidrogenado… Nosso produto é chocolate puro”. Ela conta que a melhor sensação é ver as delícias prontas: “Amo fazer e me emociono com o resultado. A sensação é maravilhosa. Além do mais, chocolate, antes vilão, agora faz bem à saúde. O amargo, então, com 70% de cacau, é excelente. O segredo é não exagerar. É um trabalho gratificante”.

Estudiosa, Fany tem uma coleção de 690 livros de chocolate, sobremesas e culinária em geral. Todos catalogados. Em suas viagens, é lei voltar com um novo exemplar. Também faz parte do roteiro descobrir as chocolaterias por aí e avaliá-las, claro. Moysés avisa: “O nosso chocolate quente é o melhor do mundo”. Fany revela: “Em uma de nossas andanças, quando meu filho ainda morava em Chatellerault – cidade a 350 quilômetros de Paris – fomos conhecer Bayonne, perto de Biarritz, considerada na época, a capital mundial do chocolate. Visitamos a fábrica, comprei livros e muitos chocolates. Antes de irmos embora, decidimos tomar um chocolate quente. O garçom nos serviu em um copo de isopor, jogou um pó dentro e virou água de uma garrafa térmica. Não tinha gosto de nada”. Moysés reforça: “O nosso é feito de barra de chocolate”.

São muitas as histórias e Moysés conta mais uma: “Gostamos de viajar e em toda parte procuramos conhecer todos os lugares ligado ao chocolate. Por isso, temos formas até da Antuérpia”. E também de Buenos Aires, Paris e outros mais. Os modelos são diferentes como galinhas, corujas, cisnes, esquilos, pianos e carros antigos. “As formas da Antuérpia, de policarbonato, são perfeitas. Parecem de vidro. As daqui são quase descartáveis”, completa Fany. Tanto cuidado é a marca da Fany Bombons que, quando começou, pensou em focar o negócio em presentes. Por isso, o esmero em cada embalagem: “O projeto original do mostruário era rico, cheio de enfeites e detalhes”, destaca Moysés. Mas, com o tempo, Fany não investiu tanto nesse caminho porque descobriu que as pessoas compravam chocolate mais para sobremesa, lanche. Mas ainda assim há embalagens lindas e caprichadas. Ótimas para presentear.

BRAVA

Fany destaca que tem clientes que a acompanham desde 1983. No Natal, ela sempre oferece um almoço para os funcionários, tem a troca de presente com o amigo-oculto e muito chocolate, porque adoram: “Sinto-me orgulhosa, mas a luta é diária. Não é fácil comandar, ser líder e tomar as rédeas de um negócio. Sou brava, mas confesso que melhorei. E não é só no trabalho. Fui muito rígida na criação dos meus filhos e não tenho remorso. Digo sempre que todo mundo ‘deu gente’. Foram educados, têm berço e isso nada tem a ver com classe social”. Ela parece mesmo brava, sabe aquelas baixinhas esquentadas? Mas também é doce.

Com os filhos criados, três morando fora – Edna (Buenos Aires), Ari (Indaiatuba) e Elisa (Nova York) –, Fany e Moysés revezam-se no trabalho das duas lojas. Andar pelo mundo é o hooby desse casal carinhoso, apaixonado e com alegria de viver. O bate-papo com os dois foi dos mais espirituosos. São caseiros e gostam de receber amigos e família, que sempre vão esperançosos com a certeza de que na sobremesa tem chocolate.

Apesar de longe, Fany e Moysés procuram curtir os netos, ainda que por telefone ou pela tela do computador. Lucas, de 9 anos, e Sara, 6, são filhos de Ari e estão no interior de São Paulo. E os gêmeos de 4 anos, Dante e Guido, vivem na Big Apple: “São umas graças. E o Lucas é uma criança de paladar apuradíssimo. Come de tudo e puxou o pai. Lembro que com 3 anos ganhou um coelho de Páscoa no colégio, deu a primeira mordida e, de tão ruim, jogou o restante fora. Ele é bem exigente”, diz Fany.

Fany não se acha vaidosa e nem dá valor a coisas materiais. Para ela, a emoção e o desejo concentram-se nas viagens. Nas folgas, entrega com um sorriso, ao revelar que corre para a cozinha: “É a minha higiene mental. Tenho enorme prazer. É a mesma alegria e satisfação quando vejo meus bombons prontos. Acredito que bombom é uma joia. Sinto-me presenteando”. Nós agradecemos.

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