Visitas orientadas são uma nova modalidade de lazer gastronômico

por Eduardo Tristão Girão 16/10/2009 07:00
Pedro David/Esp.EM./D. A Press
Ricardo Canabrava, mestre cervejeiro da Backer, recebe Viviane Furst, Anne Elle Silva Fontes e Felipe Viegas (foto: Pedro David/Esp.EM./D. A Press)
O gourmet de verdade é curioso. Por isso sabe apreciar tão bem os prazeres da boa mesa. E é justamente pelo crescimento desse tipo de público ávido por informação que tem surgido em Belo Horizonte uma nova modalidade de lazer gastronômico: as visitas orientadas a produtores de alimentos e bebidas especiais. Não é aula. Nem jantar. Agora quem se interessa em saber mais sobre o que está comendo se organiza com antecedência em grupos e parte para a exploração. De volta à mesa (e com mais conhecimento, é claro), o que está no prato e no copo tem outro sabor.

Um dos exemplos mais recentes disso está na Chácara Chiari, tradicional endereço de festas na cidade que, de poucos anos para cá, tem se transformado em referência para amantes da gastronomia. O proprietário, Carlos Chiari, especializou-se em pães e carnes curadas e defumadas, que produz no próprio local. Delícias como focaccia, ciabatta, grissino, salame, speck, culatello e até presunto cru têm seu processo de fabricação explicado e podem ser vistos e degustados durante passeio guiado por ele. As visitas são feitas nas noites de terça a quinta e devem ser agendadas com 15 dias de antecedência.

O mais notável: ele não cobra um centavo sequer pelo programa. Apenas pede que os visitantes comprem dele a quantidade que quiserem de qualquer um dos seus produtos, mesmo que sejam 100g. “Aprendi a fazer isso visitando produtores na Itália. Nunca fui tão bem tratado na minha vida. Organizo esses grupos exclusivamente para poder divulgar meu trabalho”, conta. A primeira parada é na área de fabricação de pães, onde fica um belo e grande forno a lenha com capacidade para assar 10 pizzas em pouco mais de um minuto. Lá também são feitos pães diversos e até leitões.

“O que mais me encanta em relação ao pão é a possibilidade de modificá-lo profundamente com os mesmos ingredientes: água, farinha, fermento e sal”, empolga-se Chiari. O fermento que usam é o mesmo há cinco anos, feito com maçã verde. Mais à frente, outro forno que desperta a atenção é o usado na defumação de carnes, dividido em três andares de temperaturas diferentes. Sua paredes internas ficaram com aspecto vitrificado devido à combinação de calor, fumaça e gordura. Depois de quatro dias no tempero, as carnes ficam mais três lá dentro. Assim prepara pastrame, copa, picanha, lombo e salame.

Uma das especialidades mais notáveis é o presunto cru, cuja produção nacional é rara. O processo começa com a seleção de pernis suínos com cerca de 15kg. Depois de salgados em duas etapas, vão para câmara fria (onde temperatura e umidade são controladas) para longo processo de cura. A checagem de dados como peso (o que revela perda de umidade) e nível de pH de cada peça é feita cinco vezes por dia – diariamente. De posse desse relatório minucioso, é possível não só acompanhar a cura das carnes, mas detectar problemas e aperfeiçoar métodos. Afinal, são processados ali 500kg de carne por mês.

Quer mais opções? Confira o Guia de Bares e Restaurantes do Divirta-se

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Daniele Rodrigues e Rafael Dickbrenner no Museu da Cachaça no Vale Verde Alambique e Parque Ecológico (foto: Pedro Motta/Esp. EM/D.A Press %u2013 1/5/09)

DIRETO NA FONTE


Que cervejeiro não gostaria de saborear a bebida direto da fonte? Para quem agenda ida à fábrica da cervejaria Backer, isso é possível. Depois de conhecer todo o caminho da cerveja – da moagem do malte ao envasamento e rotulagem –, num percurso guiado pelo mestre cervejeiro Ricardo Canabrava, o visitante é convidado para uma mesa de degustação montada no meio da fábrica. São experimentados os três chopes (pilsen, trigo e lager escuro) e as cinco cervejas da marca (pilsen, pale ale, trigo, porter e blond ale).

“Nós, cervejeiros, sabemos que a cerveja tirada do tanque é mais fresca, mas o bacana é poder provar a bebida ali, naquele momento”, conta Ana Paula Lebbos, uma das proprietárias. Criada em 1998, a Backer hoje está presente em 10 estados, além de Minas – só em São Paulo são cerca 200 pontos de venda. O lançamento mais recente foi em junho, quando a cervejaria apresentou ao mercado a blond ale Medieval, cuja receita foi elaborada pelo experiente mestre-cervejeiro Paulo Schiaveto.

As visitas devem ser marcadas com antecedência, pois são realizadas mensalmente e com grupos de até seis pessoas. Como a produção ocupa dia e noite (são 120 mil litros por mês), data e hora da visita variam de acordo com turnos da fábrica. O programa dura cerca de uma hora e inclui, além das cervejas para experimentar, material sobre degustação, harmonização e história da cerveja, para levar para casa. Dependendo da disponibilidade, há também minicurso sobre o casamento da bebida com comida. A cervejaria também não cobra nada pela visita.

COM MUSEU

Um dos pioneiros em oferecer visitas orientadas, o Vale Verde Alambique e Parque Ecológico recebe interessados em conhecer o processo de produção da cachaça aos sábados, domingos e feriados, de hora em hora, das 9h30 às 16h30. É possível conhecer todo o caminho da colheita da cana (que cresce no próprio local) a destilação, passando por moagem, armazenamento, fermentação e filtragem.

Uma das curiosidades é a reutilização de todo material envolvido na fabricação da bebida (são 150 mil litros por ano), eliminando a existência de rejeitos. O álcool não aproveitado para a cachaça, por exemplo, é modificado para uso nos veículos da fazenda.

O passeio continua no Museu da Cachaça, onde estão cerca 1,5 mil exemplares de diversas marcas e épocas, com nomes curiosos, formas inusitadas e muita história por trás. Entre elas está a cachaça Pelé Caninha, dedicada ao jogador em razão da conquista da Copa de 1958, porém retirada do mercado, pois ele não teria gostado da homenagem. Poucas restaram.

A entrada no parque custa entre R$ 7,50 (criança) e R$ 15 (adulto), dependendo do dia – visitação incluída no preço. Durante a semana é necessário agendar e o valor da visita varia de acordo com o número de pessoas.

ONDE IR

Backer
Rua Santa Rita, 220, Olhos d’Água, (31) 3288-2958.

Chácara Chiari
Rua Vital Brasil, 500, Liberdade, (31) 3427-1006.

Vale Verde
Rodovia MG 50, km 39, Betim, (31) 3079-9109 e (31) 3079-9171.

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