Festival de Tiradentes chega à 12ª edição

Alta gastronomia nas ruas com programação cultural

14/08/2009 07:00
Festival de Gastronomia/Divulgação
Phelippe Labbé, duas estrelas no Guia Michelin, está entre os convidados (foto: Festival de Gastronomia/Divulgação )
Imagine uma pequena cidade do interior de Minas anunciando a realização de um evento internacional de gastronomia. Em 1998, Ralph Justino, quando criou o Festival de Tiradentes, sabia que estava fazendo algo que era então inédito no país. “O que havia na época eram eventos em hotéis cinco estrelas de Rio e São Paulo”, comenta. É claro que o formato que existe hoje, que vem sendo aperfeiçoado nos últimos anos, está longe do que foi apresentado na estreia. Mas o eixo principal, levar a alta gastronomia para as ruas, é o mesmo desde o princípio. Só que a proporção é muito maior.

A edição de 2008 foi recorde, com um total de 35 mil pessoas em Tiradentes durante os dois fins de semana do evento. “Até então, eu fazia o festival sozinho. Há três anos, com a entrada de Rodrigo Ferraz, houve um salto de qualidade”, admite Justino. Ainda que as estrelas do festival sejam os chefs internacionais que assinam os festins, é cada vez maior o número de atrações gratuitas. Ferraz chama a atenção para a área pública, que neste ano vai se chamar Mercado da Cultura e Gastronomia e foi construída numa área de 1,5 mil metros quadrados na Praça da Rodoviária. A minicidade cenográfica, trabalhada pelos artistas plásticos de Tiradentes, contará com uma série de estandes (inclusive um do Mercado Municipal de Belo Horizonte, que está completando 80 anos), onde serão desenvolvidas atividades que vão de lançamentos de livros, cursos de culinária e shows.

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“O reforço na parte cultural agrega muito valor à gastronomia”, continua Justino. A programação traz também o chamado intercâmbio, em que os chefs internacionais interagem com os locais, mostrando as misturas culinárias de diferentes países. “Dessa forma, vamos valorizar a gastronomia brasileira”, comenta Ferraz. Um dos encontros será com Vicente Teixeira, chef do Estalagem do Sabor, de Tiradentes, e o espanhol Fernando Canales. O evento conta ainda com uma parte de cunho social, o chamado Chefs do amanhã. De 24 a 27 deste mês, serão promovidas quatro oficinas para jovens de 15 a 29 anos se prepararem para atuar no mercado de trabalho como aprendizes de cozinheiro.

Caráter beneficente ainda tem o festim assinado por Roland Villard. O cachê do chef e a renda do jantar serão revertidas para a restauração do telhado da Igreja Santo Canjica. “É uma forma de ajudar a valorizar a beleza da cidade, um lugar que adoro, que me faz muito bem”, comenta o chef francês radicado no Rio de Janeiro. Essa será a quinta participação de Villard em um jantar em Tiradentes. “Como é o Ano da França no Brasil, o que fiz para o festim foi adaptar alguns pratos”, afirma. A intenção foi a de misturar as duas culinárias, tanto que o prato principal do jantar criado por ele é um tornedor grelhado com crocante de caju, purê de feijão branco com trufas negras. “O feijão branco e as trufas remetem a produtos que têm a imagem da França”, explica.

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Sofitel/Divulgação
Cachê e renda do festim de Roland Villard vão para a restauração do telhado da Igreja Santo Canjica (foto: Sofitel/Divulgação)
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Villard mudou-se para o Brasil em 1997 quando foi convidado para assumir a cozinha do restaurante Pré-Catalan, do Hotel Sofitel. Admite que o que o chamou a atenção para se mudar de armas e bagagens para o Brasil não foi a culinária e sim a possibilidade de morar no Rio de Janeiro. “Ainda mais Copacabana, que é uma praia mítica.” Comenta ter encontrado um país muito acima de suas expectativas. A culinária ele foi conhecendo aos poucos. “Até pouco tempo atrás era regional, caseira. É interessante que, com a técnica francesa, que é adotada em 80% das escolas do mundo, os brasileiros começaram a adaptar para a alta gastronomia. É interessante ver jovens chefs, que, com criatividade, fazem novas leituras de uma receita tradicional brasileira, valorizando os produtos do país.”

Essa evolução ele vem acompanhando também em Tiradentes. “Aquele primeiro ano foi o que poderia acontecer no Brasil na época. Hoje, além de lá, existem os de Gramado e Parati. E a reputação vem acompanhando Tiradentes, que de um pequeno festival, virou um evento conhecido em todo o Brasil.” Sempre pensando além, Villard não vai somente assinar um festim. Lança ainda seu primeiro livro, A dieta do chef: Alta gastronomia de baixa caloria. O título dispensa maiores explicações. O que o próprio Villard fez foi durante cinco meses colocar em práticas suas receitas. Resultado: perdeu 30 quilos. “Não existe milagre, tanto que fiz exercícios diariamente. Mas consegui fazer o regime do prazer.” As receitas, ele conta, não são destinadas somente àqueles que estão acima do peso. Para cada prato de baixa caloria, há um outro com ingrediente semelhante sem restrição calórica.

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