Tradicional restaurante japonês reabre as portas

Sob comando de Akio Yokoyama e de Paco Pigalle

31/07/2009 07:00
Pedro David/Esp. EM/D.A Press
Akio Yokoyama retornou do Japão para trabalhar em Belo Horizonte (foto: Pedro David/Esp. EM/D.A Press)

O Mikado fez história. Nos anos 1980 costumava ser ponto de encontro de quem queria experimentar outros sabores. Era frequentado pelos alternativos mas também por gente de todas as tribos, pessoas que prezavam comida de qualidade. Agora a casa está de volta à cena sob o comando do mesmo Akio Yokoyama, de 67 anos. Depois de mais de 10 anos no Japão, Akio retorna a Belo Horizonte para reabrir a casa instalada no Bairro Funcionários. “Ele ficou com saudades, lá (no Japão) é tudo muito quieto, silencioso, o velhinho sentiu falta do movimento”, brinca o empresário Paco Pigalle, de 45, sócio do japonês na empreitada. Mas próprio Akio, com um “portunês” cheio de charme, confirma: “Voltei porque não podia esquecer o karatê (é representante do estilo kenyu ryu no Brasil e foi campeão universitário japonês, o maior e mais importante campeonato existente na época), os amigos, os alunos.”

E a comida, é claro. O Mikado funcionou durante quase duas décadas na esquina de Avenida Afonso Pena com Rua Santa Rita Durão. Foi o mestre Akio quem fez escola em Belo Horizonte, formando os primeiros sushimen da cidade, muitos deles no ramo até hoje. Mas o que ele vê, agora, é que “a comida japonesa que está muito modificada”. Por isso, está disposto a fazer de tudo para “manter a tradição, preparar pratos quentes com temperos menos adocicados.” O novo Mikado funcionará na Av. do Contorno, 2.419, na região da Floresta, no endereço que já foi do Marrackech (marroquino), do francês Café Pigalle e do Nomade Café (culinária mista do Mediterrâneo).

Paco Pigalle lembra que, “nos últimos 10 anos, virou moda a galera fazer de tudo para conquistar o público em se tratando de gastronomia japonesa. Tem até temaki de goiabada com queijo (risos). Acho bacana as adaptações, mas há alguns absurdos,” observa. No preparo dos pratos, defende a importância da preservação de detalhes como temperatura, corte, taxa de gordura, qualidade do shoyo. “É isso que o novo Mikado, a exemplo do antigo, pretende preservar,” avisa o empresário, que será responsável pela parte administrativa, pela decoração do espaço e pelo som da casa.

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VIAGEM

“O Mikado era minha viagem semanal. Quando vim de Paris para Belo Horizonte sentia que estava um pouco ilhado, preso entre as coisas de Minas. O restaurante do Akio era o momento de sair um pouco do torresmo com linguiça”, conta Paco, dizendo que jamais teria ousado convidar o japonês para a sociedade no restaurante (“ele pra mim é uma lenda”), o que aconteceu por acaso, por causa do karatê. Paco luta desde os 9 anos. Começou porque o pai o achava meio agressivo. Nunca mais largou (ele nasceu em Casa Blanca, no Marrocos; a mãe é espanhola, o pai, marroquino). “Passou a ser minha terapia, no karatê tiro todo o estresse, além da cervejinha a mais do fim de semana. Ele é o acerto de contas”, diz, contando que Akio era mestre de seu professor e sempre o via ensinando umas coisas.

Numa conversa, o japonês disse a Paco que estava com saudade de trabalhar com culinária, mas não tinha mais idade para os negócios. Foi então que pensaram em Akio assumir a cozinha e o marroquino a “parte chata”. Paco entrou com o espaço (a casa tem capacidade para 150 pessoas), com direito a janela com vista para a ferrovia. “Tem um clima de filme noir”, avisa, explicando que “os gringos procuram esse lado mais sombrio, acham graça nesse cheiro de gato.”

No cardápio, a única “interferência” do marroquino é – pasmem – mexicana: o mariachi de samurai, “um filezinho de atum bem temperado com limão, que você coloca na boca para em seguida tomar um gole de tequila (é servida meia dose, para evitar que os clientes comecem a capotar).” Novidade que a casa traz a BH é uma chapa semelhante à de carnes, que, no entanto, tem pequenas cavidades. Nela serão preparados pratos como o bolinho de polvo, “que parece um bolinho de feijão, mas é feito com farinha de arroz e tem o polvo no recheio”, conta Paco.

Ao mesmo tempo em que promete trazer de volta à cena a tradicional cozinha japonesa, com mais pratos quentes além dos frios, o novo Mikado terá opções que agradarão a todos, como o guiosa e três ou quatro tipos de yaksoba com molhos diferenciados, só para citar alguns. “Pra mim é uma coisa totalmente nova mexer com comida japonesa”, diz Paco, conhecido na cidade pelos bares alternativos e superagitados. Dizendo que tem a sorte de estrear na área “na companhia de um pioneiro, com autoridade conquistada”, o marroquino avisa que entra “com o gogó e Akio com a sua arte. Acho que vamos longe”. Ninguém duvida.

MIKADO
Av. do Contorno, 2.419, Floresta, (31) 3222-4948. Aberto de segunda a sábado, das 19h à 1h.

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