Frio do inverno estimula o consumo de chocolate

17/07/2009 07:00

Pedro David/EM/D.A Press
Roberto Grochowski exibe bombonzinhos de licor e barras de chocolate amargo e meio-amargo, sucessos da Lalka (foto: Pedro David/EM/D.A Press)
Você sabe como distinguir um chocolate de boa do de má qualidade? É fácil. Os bons, quando mordidos, fazem crack. Se o som não for exatamente esse, quer dizer que ele tem muito açúcar e, por isso mesmo, é ruim. Quem ensina é Inês Chaves, proprietária da Le Chocolat, loja aberta há cinco anos no Bairro São Pedro. Foi numa temporada em Amsterdã, Holanda, que ela aprendeu o ofício com profissionais que trabalhavam em casa. “Frequentei um curso. Fiquei fascinada e não parei mais”, revela, contando que trabalha com as marcas belga Callebault e francesa Barry Callebault.

Inês Chaves gosta muito do que cria: “É meu ponto de equilíbrio, fazer chocolate é coisa de artista, por isso digo que faço o chocolate gourmet.” E compara o preparo do produto ao do vinho. Por isso mesmo, está organizando um curso-degustação de chocolate, com direito a slide show, que contará a história da iguaria e mostrará o preparo dos estrangeiros e dos nacionais, além, claro, da história da Le Chocolat. “Enquanto aprenderem, as pessoas poderão degustar variados tipos oferecidos na casa”, explica. As inscrições estão abertas e assim que o grupo estiver formado, ela marcará a data do evento.

Sucesso do Le Chocolat, mais ainda nesta época do ano, é o chocolate quente (a caneca com 180ml custa R$ 7,50). “Todo mundo que experimenta fica doido, diz nunca ter tomado nada igual”, revela. O segredo? “Não conto, claro”, completa a bem-humorada Inês, para, em seguida, confessar que no lugar do achocolatado usa o próprio chocolate. Ela dá preferência aos chocolates importados, já se acostumou a trabalhar com eles, porque “os nacionais têm muito açúcar.” Assegura que se fosse vender seus chocolates pelo preço real teriam que custar em torno de R$ 300 o quilo, “o que não funcionaria.” Por isso, trabalha muito com encomendas. Cinquenta gramas do puro chocolate da casa (“70% é o limite, trabalho com até 82% de pureza”) saem a R$ 15.

Nesta época do ano, Inês recebe encomendas de fondue. “É difícil alguém fazer um fondue de chocolate bom mesmo (meio quilo custa R$ 90). Uso um especial, aromatizado com vanila”, entrega. A casa também vende muitas trufas. Caso da de capuccino (R$ 1, cada). “Na minha loja sempre tem chocolate amargo, já o ao leite, costumo fazer por encomenda, as crianças é que pedem”, conta, defendendo o produto amargo, “hoje indicado por médicos como benéfico para a saúde.”

Inês Chaves afirma que, se hoje os cardiologistas já não dizem mais para as pessoas tomarem um cálice de vinho por dia, por ser benéfico para a saúde (“porque sempre tomam demais”), o chocolate vem sendo “receitado” por muitos profissionais de saúde. E por quê? “Porque raleia o sangue, dá bem-estar e muitas outras coisas,” ela diz.

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O fondue de chocolate master está entre os mais vendidos na Le Chocolat (foto: Pedro David/EM/D.A Press)
INVERNO AQUECE VENDAS

Queda de temperatura, friozinho, rima com chocolate, certo? Certo. Tanto é verdade que a estação já se tornou benéfica para os negócios do setor. “No inverno há aumento de 30% a 40% na venda de chocolates”, revela Roberto Grochowski, um dos proprietários da Lalka, mais antiga fábrica de BH (foi aberta em 1925 por poloneses). Manter a tradição faz parte do trabalho de Roberto e de sua família. “O ano inteiro estamos modificando alguma coisa, criamos muito, viajamos e estudamos, para podermos inovar constantemente”, explica ele, que comanda a loja da Savassi. “Vamos sempre tirando o que tem menos saída e investindo no que agrada mais, o segredo é ouvir o público”, ensina.

Independentemente de o inverno aumentar a demanda, Roberto Grochowski diz que a crise não afetou os negócios; mesmo antes do frio iam muito bem. “Para ser sincero, não conseguimos ver os efeitos da crise econômica. Pelo contrário, cresceu muito o comércio de presentes. O chocolate é uma opção em conta, mais fácil de agradar do que uma roupa, com ele é difícil errar”, avalia, brincando que “há também o fato de as pessoas aflitas sempre terem vontade de comer mais.”

No mundo do chocolate existem modismos. “O da vez é o amargo, que cresceu bastante em relação a outras pedidas, principalmente porque tem sido visto como benéfico para a saúde”, afirma, fazendo coro com Inês Chaves. Entre as pedidas mais tradicionais da Lalka está o bombonzinho de licor (R$ 7,80, 100 gramas), “um espetáculo, quem prova não consegue parar de comer.” Além dele, outro carro-chefe da casa não tem nada a ver com chocolate, é a eterna balinha de maçã, aquela azedinha que quase todo mundo conhece.

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AMOR BELGA


Ernestina Aparecida Passos Neto Degryse comanda a Degryse, no Carmo-Sion, há 12 anos. Sua história de amor pelo chocolate nasceu da sua união com um belga. Conheceu Bertrand, os dois se casaram e foram viver na terra dele. “A Bélgica é o país do chocolate, tomei gosto. Quando pensamos em voltar, percebi que BH não tinha na época casas que investissem em chocolates mais finos. Decidimos trabalhar com a matéria-prima importada (o Callebault)”, conta, lembrando que nem tudo vendido lá pode ser feito aqui, “por causa da diferença climática.” A casa também trabalha com biscoitos variados, finos.

No inverno ela diz que com certeza a procura cresce, “no mínimo 20%”. Geralmente, os bombons têm mais saída, caso da musse de nozes, vendida (da mesma forma que as de café e as de passas ao run) a R$ 13,50, 100 gramas – oito bombons. Já a de avelã custa um pouco mais, R$ 16, 100 gramas. Os biscoitos de amêndoas, nozes, laranja e castanha, entre outros, são vendidos a R$ 8,20, 100 gramas. Quanto ao marido Bertrand, ela confessa, “hoje ele é meio brasileiro, meio belga. Se vai à terra natal, logo quer voltar, se cansa. Apesar daqui ser muito movimentado, já se acostumou, até prefere.” Da mesma forma, pode-se dizer que os chocolates da Degryse também são meio belgas, meio mineiros.

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