Nova fornada de livros sobre culinária e vinhos

Livros mesclam olhar sociológico e histórico com boas receitas das regiões do Douro e Minho, em Portugal

17/03/2009 12:55
Entre as novidades do mercado editorial na área de gastronomia destacam-se duas obras dedicadas à reflexão. A primeira se chama A culinária materialista, escrita pelo sociólogo Carlos Alberto Dória, que ano passado lançou outro bom livro do gênero, Com unhas, dentes & cuca (Senac São Paulo), cuja autoria divide com o chef paulistano Alex Atala. A outra, Comida como cultura, escrita pelo historiador italiano

Massimo Montanari, foi lançada em 2004 no país natal do autor e chega agora às prateleiras brasileiras. Certamente, agradará a quem gostou de um dos seus poucos títulos disponíveis no Brasil, o famoso História da alimentação, publicado originalmente em 1998. Ainda entre os exemplares da nova safra de livros dedicada ao tema estão Os caçadores de frutas, Vinhos do mundo e Sabores do Douro e do Minho.


Larousse/Reprodução
(foto: Larousse/Reprodução)
SO CAÇADORES DE FRUTAS

De Adam Leith Gollner
Editora Larousse, 350 páginas, R$ 49,90

Colaborador do jornal The New York Times e de revistas especializadas em gastronomia, como Bon Appétit e Gourmet, o autor apresenta excelente trabalho jornalístico sobre o universo das frutas. São 12 reportagens agrupadas em quatro temas: natureza, aventura, comércio e obsessão. O estilo de escrita cruza a compulsão dele por dados e referências com a veia new journalism, expressa em suas impressões pessoais e nos detalhes microscópicos que acrescenta constantemente ao texto. Muito mais do que mostrar preciosidades tropicais, Gollner revela o submundo das frutas, as relações ocultas que se formam em torno delas e como nos influenciam. Para levar a cabo a tarefa, o autor vai até a ilha de Bornéu, na Indonésia, para provar o fedorento durião; conhece gente que se alimenta só de frutas; conversa com membros de organizações internacionais de frutas raras; investiga como elas movimentam engrenagens de contrabando, departamentos de marketing e governos. O marco zero é o ano de 1999, quando o jornalista se encantou com as frutas que conheceu no Brasil. Imperdível.


Senac/Reprodução
(foto: Senac/Reprodução)
A CULINÁRIA MATERIALISTA

De Carlos Alberto Dória
Editora Senac São Paulo, 264 páginas, R$ 49

Tudo o que não é glamour e fantasia interessa ao autor neste novo livro, dedicado à análise inteligente de uma série de aspectos do universo gastronômico do nosso tempo. Em nove capítulos, discorre sobre temas variados, como a existência de terroirs no Brasil, a aplicação da noção de prato patrimonial na culinária nacional, a crise da receita como método e a nova fisiologia do gosto. A gastronomia molecular, formulada há quase 20 anos por Hervé This e Nicolas Kurti – influência decisiva no trabalho de chefs modernos, como o espanhol Ferran Adrià –, também é contemplada no livro, com seus aspectos, limites e desdobramentos. Destaque para a ainda não concluída discussão sobre a gastronomia como uma forma de arte, reativada há dois anos, quando Adrià foi convidado para integrar a Documenta de Kassel, uma das mais importantes mostras de arte do mundo.

Confira entrevista com Carlos Alberto Dória


Senac/Reprodução
(foto: Senac/Reprodução)
SABORES DO DOURO E DO MINHO

De Marcelo Copello
Editora Senac São Paulo, 328 páginas, R$ 60

Depois de Sabores do Alentejo, a editora retorna com volume dedicado às peculiaridades gastronômicas de outras duas famosas regiões portuguesas, o Douro e o Minho. O autor, que já lançou três títulos sobre vinhos e escreve regularmente sobre o assunto em jornais, revistas e na internet, dedica a maior parte do livro à produção vinícola da região, mas também oferece visão da culinária local. Nesse sentido, enfoca tipos de pães, vários embutidos, carnes (porco e frutos do mar em destaque), queijos, azeites, caldos, doces e aguardentes. A parte de bebidas abrange sobretudo os típicos vinhos verdes e do porto. O autor visitou 57 importantes produtores da área, fornecendo características específicas das uvas, vinhos e produtores, além de traçar a rota turística para quem quiser experimentar o que de melhor se produz por lá. Cerca de 60 receitas tradicionais completam a edição.


Larousse/Reprodução
(foto: Larousse/Reprodução)
VINHOS DO MUNDO

De Sylvie Girard
Editora Larousse,
160 páginas, R$ 99,90

Leitura indicada para iniciantes no mundo do vinho, o livro é recheado com fotos e mais fotos de garrafas e vinhedos. O texto, leve e praticamente despido de jargões, permite a qualquer um avançar com muita facilidade por páginas dedicadas aos principais países produtores de vinho. Funciona bem como breve panorama do assunto, pois não há maior apronfundamento em temas específicos, nem análises organolépticas. Além do país a país, traz curtos textos sobre a história da bebida e leitura de rótulos, além de verbetes sobre as cepas mais conhecidas. Como na maioria dos títulos sobre vinhos, países com maior prestígio em se tratando da bebida têm seções para cada região produtora. As nações periféricas contam com uma ou duas páginas, quando não dividem o mesmo espaço com outras três – caso de Rússia, Geórgia e Moldávia, por exemplo. Quadros com curiosidades e descrições de outras vinícolas oferecem contraponto a rapidez com que esse passeio é feito.


Senac/Reprodução
(foto: Senac/Reprodução)
COMIDA COMO CULTURA

De Massimo Montanari
Editora Senac São Paulo, 208 páginas, R$ 45

Professor de história medieval e história da alimentação na Universidade de Bolonha, na Itália, o autor é conhecido no Brasil principalmente pelo enorme livro História da alimentação (1998), coletânea realizada em parceria com Jean-Louis Flandrin. O novo volume é o terceiro de Montanari publicado por aqui. Refletindo sobre os significados culturais da comida, ele a elege como fundadora da civilização. Afinal, mais do que satisfazer uma necessidade fisiológica, o ato alimentar encerra conceitos de identidade, posição social e religião, entre outros. Decodificando tudo isso, é possível perceber, por exemplo, que médicos e cozinheiros chegaram a conjugar alguns princípios semelhantes e que o consumo de carnes de caça por aristocratas espelhava, de certa forma, rituais de guerra.

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