Pimentas de todas as cores e sabores conquistam cardápios de BH

27/02/2009 07:00
Pedro David/Esp.EM/D.A Press
Musse de chocolate com pimenta, sobremesa do Café Sagrado (foto: Pedro David/Esp.EM/D.A Press)

Ingrediente único, apreciado pela sensação simultânea de dor e prazer que provoca, a pimenta tem muito mais possibilidades a oferecer do que aquele potinho de conserva pode fazer supor. O aroma, o sabor e a potência de seu ardor variam muito. E não somente em função da espécie, mas do uso que se faz dela: fresca, seca, em pó; frita, cozida, crua; com ou sem sementes. E por aí vai. A consciência disso torna a pimenta item próprio para ser empregado em vários tipos de pratos salgados, além de petiscos e até mesmo em sobremesas. Em Belo Horizonte, não faltam casas onde se pode apreciá-las das mais diversas formas, inclusive em bebidas. Haja fôlego!

A chef Vanessa Senem pesquisou e experimentou até conseguir incluir no cardápio do Café Sagrado duas sobremesas com o condimento: a surpresa caribenha (R$ 8) e a musse de chocolate com pimenta (R$ 12). A primeira consiste em camadas de compota de abacaxi com pimenta dedo-de-moça, gelatina de abacaxi e creme de coco, salpicada com pedacinhos da mesma pimenta. Também com a dedo-de-moça, ela prepara o caramelo que cobre a musse de chocolate, cujo cozimento leva o condimento sem sementes. “Nas duas, trabalho com o sabor, não com o ardor da pimenta. Mesmo assim, há um pouquinho de ardor”, diz.

Gung penang, refogado de camarões com pasta de pimenta do Sushi Thai
No restaurante indiano Maharaj, a pimenta dedo-de-moça virou ingrediente de drinque. O intrigante khajuraho (R$ 16) leva rum, club soda, licor grenadine, suco de pêssego, seis frutas frescas diferentes, hortelã e rodelas da pimenta. Como a comida da Índia é conhecida por sua forte condimentação, os pratos da casa acompanham a tendência, podendo ser pedidos com três níveis de pimenta. Sugestão do chef Bagwan Sinh é o pernil de cordeiro ao molho cremoso de pimenta com garam masala (mistura de várias especiarias, como cardamomo, cravo e canela) e castanha de caju, servido com arroz (R$ 42, individual). “Só não ponho pimenta nos pães e sobremesas”, diz.

O Bar Pimenta com Cachaça também criou sua “pimenta para beber”, mas o fez de forma bem mineira. Trata-se de uma dose de cachaça com duas pimentas-biquinho no fundo (R$ 3,50). “Tem gente que até espera um pouquinho para beber, deixando a pimenta curtir um pouco mais”, conta o proprietário Augusto Porto. A pimenta-biquinho, com seu gosto ácido e sem ardor, também integra dois petiscos da casa: recheio do filé com provolone empanado ao molho de mostarda com mel (R$ 20,90) e é ingrediente da geleia de melão que acompanha a porção de carne-de-sol (R$ 20,90). Além disso, há 30 tipos de pimentas em conserva à disposição do freguês.

Tira-gostos apimentados compõem o cardápio da Choperia Germano. O mais novo foi elaborado com a ajuda do cozinheiro malaio Rahul Bhutani, que passou a maior parte da vida na Índia e chegou há pouco mais de um ano à capital mineira. É dele a marinada de iogurte, pimentas e especiarias, que dá sabor peculiar aos cubos de pernil suíno, peito de frango e filé mignon, servidos com chutney de tomate (R$ 32,80). “Essa marinada agarra na carne e forma uma crosta”, explica o proprietário João Emílio Soares. O cozinheiro, que também tempera carnes para a churrascaria Ambrósio’s, conta que o iogurte é feito em sua própria casa e que todas as especiarias são do Mercado Central.

Regional

Cachaça com pimenta-biquinho e porção da mesma pimenta, servidos no Bar Pimenta com Cachaça
Mesmo com a criatividade no emprego da pimenta em alta, ela ainda está profundamente ligada aos regionalismos alimentares. Isso não significa restrição na oferta de pratos, pois seus vários tipos estão difundidos por praticamente todo o planeta, mas predomínio de receitas típicas. Além do indiano Maharaj, é possível apreciar o ardor da pimenta em restaurantes como o Chilis, de comida mexicana. Um dos pratos sugeridos pelo proprietário Ênio Chiericatti é o pollo en mole (R$ 23,50, individual): peito de frango grelhado e servido com molho à base de pimentas ancho, pasilla e mulato (todas defumadas), cacau em pó, amêndoas, cravo, canela, cominho e páprica – arroz ou tortilla acompanham.

Várias cozinhas asiáticas têm pratos apimentados representados no Restaurante Sushi Thai. Entre as pedidas estão receitas indonésias, como o gung penang, refogado de camarões, tamarindo, açúcar mascavo, pasta de pimenta toban djan, nam pla (molho de peixe), leite de coco e tiras de acelga servido na metade do abacaxi (R$ 38). Outra opção é o curry vermelho: cozido de camarão com pimenta dedo-de-moça, bulbo de capim-limão, folhas de curry (nome de uma árvore indiana), alho, tamarindo, cebola, nam pla, pasta de camarão e especiarias, servido com arroz de jasmim (R$ 32).

“O pessoal acha que, por arder, é bom comer pimenta em clima quente. É o contrário. Ela é vaso-dilatadora periférica, faz você suar para perder calor, regulando a temperatura do corpo. Além disso, diferentemente do que a maioria pensa, a pimenta madura arde menos que a ‘verde’, pois nela há menor concentração de capsaicina”, diz o chef-consultor da casa, Beto Haddad. Capsaicina é o componente ativo que provoca a sensação de ardor da pimenta.

No Brasil, a cozinha regional mais ligada à pimenta é a da Bahia. Uma das casas que a representam na cidade é a Baiana do Acarajé, que recentemente ganhou nova unidade, mais ampla, no mesmo quarteirão onde funciona a antiga loja. O obrigatório acarajé (R$ 5,60) pode ser pedido na versão “quente”, com pimenta malagueta passada dentro do bolinho de feijão. Já a versão “quente” do bobó de camarão tem pimenta adicionada na panela quando o molho ainda está no fogo. Mesmo assim, o molho de pimenta da casa (trazido do interior da Bahia) sempre está na mesa. Não é à toa que o proprietário Odair Melo costumar ver fregueses ventilando a boca.

Onde ir

Baiana do Acarajé
Rua Antônio de Albuquerque, 440, Savassi, (31) 3264-5804. Aberto de segunda a sexta, das 17h à 1h; sábado, das 12h à 1h; domingo, das 12h às 18h.

Chilis
BR-356, 2.500, loja R2, Ponteio Lar Shopping, Santa Lúcia. (31) 3286-5653. Aberto diariamente, das 11h ao último cliente.

Germano
Avenida Guaicuí, 333, Luxemburgo, (31) 3344-7070. Aberto de segunda a sexta, das 18h ao último cliente; sábado e domingo, das 12h ao último cliente.

Maharaj
Rua Paraíba, 523, Funcionários, (31) 3055-3836. Aberto terça e domingo, das 12h às 15h30; quarta a sábado, das 12h às 15h30 e das 19h à 0h.

Pimenta com Cachaça
Avenida do Contorno, 8.699, Gutierrez, (31) 3087-6822. Aberto de segunda a sexta, das 18h à 0h; sábado, das 12h à 0h; domingo, das 12h às 18h.

Sagrado
Rua Santa Catarina, 1.481, Lourdes, (31) 3291-0082. Aberto de segunda a sábado, das 10h às 23h.

Sushi Thai
Rua Grão Mogol, 564, Sion, (31) 3281-6569. Aberto de segunda a sexta, das 18h à 0h30; sábado, das 18h à 1h30; domingo, das 12h às 18h.

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