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Call of Duty: Advanced Warfare é mais do mesmo, mas ainda assim, um ótimo jogo; saiba o porquê

Com Kevin Spacey no elenco, jogo é o mais cinematográfico da série

Marcelo Faria

Existe uma regra não escrita de boa parte dos jogos de ação que tentam apelar para um lado emocional. Se logo no começo eles tentam criar uma conexão afetiva entre o jogador e alguma coisa, seja um irmão, uma esposa ou até mesmo um braço, pode saber que eles vão tirar isso de você da forma mais dolorosa possível. Esse é só um dos muitos clichés que compõem a trama do novo Call of Duty: Advanced Warfare, mas, apesar estar mais no lado 'pipoca' dos videogames, a campanha tem sim uma história cativante, com personagens carismáticos e uma ambientação bem envolvente de um futuro próximo.


A ação do jogo começa com um conflito futuro entre a Coreia do Norte e do Sul em Seul. Logo de cara, o jogador é apresentado a algumas das novidades da guerra moderna: enxames de drones voadores, tanques robotizados que caminham em quatro patas e o mais relevante para a jogabilidade: exoesqueletos. Usados primariamente para ampliar a força e a capacidade atlética dos soldados, eles também contam com algumas habilidades especiais. Alguns modelos permitem ao jogador saltar muito mais alto, enquanto outros disparam estimulantes no organismo do usuário e criam um efeito de 'bullet time'.

Para quem já conhece Call of Duty e na prática boa parte dos shooters modernos, não tem muito mais o que acrescentar sobre a jogabilidade. É um jogo dinâmico, com um level design muito bem definido e estreito, apesar de não ser um 'corredor' como outras edições, já que boa parte das fases tem mais de uma aproximação possível para o objetivo.

Cinematográfico

Desde os primeiros da série, a qualidade do enredo e produção de Call of Duty é amplamente elogiada e, entre os muitos adjetivos usados, 'cinematográfico' é um que nunca fez tanto sentido quanto agora. A primeira vista, o que mais chama atenção é a presença do conceituado ator Kevin Spacey (House of Cards, Beleza Americana). Ele interpreta com maestria Jonathan Irons, o presidente da Atlas e, depois do protagonista, o personagem mais importante. É importante notar que ele não é só o dublador – a aparência e as expressões faciais foram capturadas e reproduzidas com fidelidade, conseguindo transportar o poder de atuação de Spacey com clareza.


E ele não é o único que faz um bom trabalho de atuação no jogo. Veteranos de dublagens de games emprestam seu rosto e habilidades cênicas para Advanced Warfare, como Troy Baker, que faz o protagonista Jack Mitchell, e Gideon Emery, que interpreta um soldado que também se chama Gideon e é um dos personagens mais carismáticos da campanha.

O novo Call of Duty foi totalmente traduzido para o português brasileiro e não faz feio nas dublagens. Inclusive, é legal ressaltar o carinho da equipe de localização em usar os termos técnicos do exército brasileiro para designar alguns elementos do jogo, mesmo quando estes não são a palavra mais comum usada no meio 'civil'. Um exemplo claro são os drones – a palavra a é usada pela população e imprensa sem problema algum, mas nas forças militares, a terminologia correta é 'Vant', sigla para Veículo Aéreo Não-Tripulado.

Apesar da atuação roubar um pouco da atenção desta vez, o conjunto que faz com que o elogio cinematográfico encaixe bem aqui também inclui um enredo com jeitão de filme de ação hollywoodiano, efeitos de som e trilha sonora excelentes e cenas de corte de qualidade técnica inquestionável.

Multiplayer mais dinâmico

Normalmente as campanhas de Call of Duty são épicas e divertidas, mas é o modo multiplayer que vai ou não determinar se o jogo vai durar até o próximo da série no ano seguinte. E apesar de sempre tentar melhorar esse aspecto da franquia a cada ano, desta vez a evolução foi bem aguda, ao ponto de mudar muito o estilo de jogo.

A principal razão para isso está nos exoesqueletos: com poderes novos como saltos absurdos e esquivas rápidas, a batalha fica bem mais dinâmica e um tanto quanto 'vertical', o que é refletido também nos mapas, que levam isso em consideração.Mas isso não significa que o jogo ser tornou um Unreal Tournament ou Quake Arena. A essência ainda é a de CoD, mas com diferenças o bastante para valer a pena para quem já jogou os antecessores até a exaustão.

Outra mudança que será sentida pelos veteranos é que o sistema de 'pick 10', para customização do personagem, agora pode ser chamado de 'pick 13', com mais algumas opções que permitem um pouco de variação tática na jogabilidade. A tradição é que, com o tempo, algumas opções se tornem as favoritas e seja criado um metajogo bem definido. Ainda assim, dá para ser criativo e surpreender os adversários com combinações inusitadas.

Conclusão:


Você pode até não gostar de Call of Duty, mas é impossível não admitir que Advanced Warfare é um jogo muito bom. Não é tão marcante como o primeiro Modern Warfare, nem tão surpreendente como Call of Duty II. E apesar do enredo divertido e envolvente, não é tão profundo como o de Black Ops 2. Não é o melhor Call of Duty, mas não precisa deste título para ser ótimo. Além de uma campanha que definitivamente merece o adjetivo cinematográfico, o modo multiplayer é uma evolução imensa na série, com destaque para os novos exoesqueletos, que mudam bastante as regras do combate.

Nota: 8/10