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Lançamento no Xbox One, Kinect Sports Rivals decepciona jogadores

Jogo falha ao tentar promover controle de movimentos da Microsoft

Marcelo Faria

Kinect Sports Rivals, do Xbox One, é como o Wii Sports, do Wii. Parece que o plano da Microsoft foi tentar reproduzir o que aconteceu com o jogo da Nintendo em 2006: promover o seu novo sensor de movimentos com simulações de esportes conhecidos, algo fácil de ser assimilado pelo público não-hardcore.


A responsabilidade dos desenvolvedores aqui não foi pouca. Quando uma nova plataforma chega ao mercado, como é o caso do Xbox One, os seus primeiros lançamentos precisam não apenas ser bons o suficiente para convencer o consumidor a comprar o jogo, mas sim para comprar o console inteiro. Além disso, o jogo ainda tenta criar uma comunidade competitiva, algo como um League of Legends ou Call of Duty. São muitas ambições. E por alguns motivos, Kinect Sports Rivals falha em todas elas.

Começando pelo melhor


Antes de começar a jogar Kinect Sports Rivals, é obrigatório criar um campeão, que será o avatar do jogador no universo do jogo. Essa representação virtual é criada com o melhor da tecnologia do novo Kinect. Após um processo relativamente longo, as feições, tom da pela e até acessórios como óculos são capturadas e interpretadas pelo sistema, que elabora uma caricatura virtual com um grau de semelhança bem aceitável – algumas vezes bem parecido com o jogador, outras nem tanto. É um momento legal de introdução, tanto do Kinect quanto do jogo, em que o melhor dos dois é apresentado ao jogador.

Corrida de jet skis é um dos modos mais divertidos do jogo
Só depois disso é que a ação começa para valer. Kinect Sports Rivals é composto por seis esportes e o primeiro apresentado ao jogador também é um dos melhores: o wake racing, que é uma corrida de jet ski nos arredores da ilha. O modo pode ser jogado em pé ou sentado: para pilotar, é só mover os braços como em um guidão e fechar a mão direita para acelerar o veículo. É bem fácil, intuitivo e, nesse caso, os comandos por movimento do Kinect funcionam muito bem. O modo permite que dois jogadores se enfrentem ao mesmo tempo sem problemas – desde que a sala da sua casa seja grande o suficiente para isso. Além do básico, também é possível fazer manobras em saltos, levantando as pernas para girar o jet ski, ou 'soltando' os braços apenas pela diversão.

Simples e divertido, o modo wake racing não exige um condicionamento físico de atleta, mas depois de algumas partidas é esperado que os jogadores menos preparados sintam um pouco de fadiga nos ombros. Mas a verdadeira malhação acontece no minigame seguinte, escalada de montanhas, que é sem dúvida alguma o que mais exige fôlego. Nele os jogadores começam a ação na base de um pico praticamente vertical e deve chegar ao topo o mais rápido possível. Para isso, é preciso movimentar os braços e apertar e fechar as mãos para se mover de apoio em apoio. Parece simples, mas é bem intenso – um exercício digno de academia. Para quem aguenta o tranco, é um modo bem divertido, com opção de multiplayer e uma jogabilidade fácil de pegar. Além da dificuldade da escalada, existem obstáculos no caminho e os adversários podem puxar os pés de quem está acima, uma pressão adicional para subir bem rápido.

Na escalada, é possível puxar os pés dos adversários
E para fechar a metade divertida de Kinect Sports Rivals, temos o boliche. É inevitável a comparação com o veterano Wii Sports, que tinha nesse esporte uma das suas maiores forças. No caso do lançamento de Xbox One, é notável uma evolução no estilo com a capacidade do Kinect de capturar muitos tipos de movimentos. Fora isso, é exatamente o que se espera de um jogo de boliche virtual.

Se a primeira metade de Kinect Sports Rivals é legal e bem desenvolvida, os demais jogos são bem ruins. O tênis é uma grande decepção, não exatamente pelo seu gamedesign, mas pelas características do próprio Kinect, que ainda sofre com um certo atraso ao tentar acompanhar os saques e raquetadas do jogador. Depois de um tempo, dá para pegar o tempo do jogo, mas é tão decepcionante que, na comparação com o tênis do Wii Sports de oito anos atrás, KSR é uma experiência bem pior.

Outro exemplo forte é o caso do tiro ao alvo. Nesse modo, os dois jogadores empunham pistolas e precisam abater alvos que surgem pela tela, bem semelhante ao esporte olímpico. Mas o Kinect não tem precisão suficiente para capturar o movimento do dedo de gatilho dos jogadores. Os tiros são automáticos, basta 'mirar'. E para isso, a ação não é nem um pouco realista, já que ao apontar o braço para a tela, o local indicado não será exatamente onde apareceria um buraco de bala caso fosse dado um tiro com uma arma real. Como o Kinect não é capaz de determinar exatamente onde está sua TV e, logo, os alvos, a precisão fica prejudicada.

O futebol parece bom, mas é um fracasso total
Por fim, temos o futebol, que é, sem dúvida alguma, um dos piores usos do Kinect até o momento. Ao invés de tentar recriar o esporte coletivo, em KSR, o futebol é um jogo totalmente novo – e um jogo bem ruim. Um dos jogadores controla apenas o time atacante, que não se movimenta, apenas toca a bola. Após alguns toques, todos entre o mesmo jogador, que se teleporta de uma posição para outra, a redonda chega aos pés do finalizador, que chuta para o gol. É só nesse momento que entra em ação o jogador defensor, que comanda o goleiro apenas e, em câmera lenta, deve esbofetar a bola antes dela chegar às redes. É bem fácil, normalmente, quase idiota. Acertando ou errando o gol, as posições se invertem e o defensor passa a atacar. Além da péssima interpretação dos desenvolvedores do jogo, o Kinect não captura tão bem os movimentos dos pés e não é fácil direcionar um chute sem girar o corpo totalmente para uma direção. É um desastre completo.

Campanha dispensável

É um pouco difícil encontrar palavras certas para descrever a campanha de um jogador de Kinect Sports Rivals. Diferente de outros jogos parecidos, que se contentam em apenas montar a coletânea de minigames e deixar que os jogadores se divirtam, os desenvolvedores aqui inventaram uma campanha com personagens, cenário, ambientação e história. Além de tudo isso ser bem dispensável, esses elementos ficaram todos bem ruins. A história envolve disputa entre três fações esportivas na ilha fantástica em que acontecem os esportes de Kinect Sports Rivals. Parece que a intenção era ensinar a jogar ao mesmo tempo que se conta uma história, mas tudo é tão recheado de clichês ridículos, frases prontas barangas e dialógos desconexos que essa historinha mais incomoda que ajuda.

Coach: um personagem bem clichê
Na verdade, jogos que usam controles de movimento já são constrangedores para algumas pessoas. KSR consegue levar isso além e cria um sentimento de vergonha alheia nos jogadores, a cada vez que surge um novo evento ou intervenção de personagens como o Coach, que é quem faz a parte dos tutoriais e é descrito como um 'ex-sargento', um arquétipo do motivador rude e truculento, mas feito de uma forma tão patética que até perde a graça.

Como ponto positivo, tudo isso foi traduzido para português brasileiro, algo cada vez mais comuns em lançamentos e ótimo para o desenvolvimento do mercado de games no país.

Em resumo...


É uma pena que, apesar de ser visível um certo esforço da Rare em Kinect Sports Rivals, o jogo decepciona em boa parte de suas premissas. Ele não consegue provar que o novo Kinect funciona bem – pelo contrário, expõe muitos dos defeitos da tecnologia de captura de movimentos da Microsoft. As corridas de jet ski, a escalada e, principalmente, o boliche são minigames bem divertidos e funcionam bem o bastante para jogar e curtir com amigos, mas as atividades são todas bem repetitivas e pouco estratégicas, minando a longevidade e o valor de replay destes esportes.

Já no caso do tiro ao alvo e do tênis, as limitações de Kinect prejudicam bastante a diversão, assim como decisões ruins de game design. A começar pela ideia de incluir esses esportes. E o 'futebol' é um caso à parte: podemos dizer que a tentativa de reinventar a bola deu errado e o modo é um fracasso completo. E não custa acrescentar que os clichês de personagens e a ambientação são muito, muito barangos.

Diversão: 5/10