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Análise - République (iOS)

O jogo foi desenvolvido pela Camouflaj e viabilizado por uma bem sucedida campanha de Kickstarter. Ele conta a história de Hope, uma garota que pode ter sua memória apagada por ter sido 'contaminada' por ideias perigosas

Marcelo Faria

Presa em uma distopia a la 1984, Hope precisa da ajuda do jogador para fugir

Convencionou-se dizer que os jogos de iOS e Android que atingem um certo nível de excelência, seja em gráficos, enredo ou jogabilidade, têm 'qualidade de console'. Talvez pelo fato das plataformas móveis serem lotadas de joguetes casuais com orçamento baixíssimo e a ambição de serem os próximos Angry Birds, os melhores títulos para elas ficam com essa denominação - quase como se fossem invasoras dentro do próprio território.


République tem tudo para ser um desses lançamentos com qualidade 'de console', mas seria um insulto dizer que um jogo que explora tão bem as possibilidades do iOS seja considerado como de outra plataforma. Desenvolvido pela equipe da Camouflaj e viabilizado por uma bem sucedida campanha de Kickstarter, République é a história de uma garota chamada Hope, que vive em uma distopia a la 1984 (um clássico da literatura, de George Orwell) e está prestes a ter sua memória apagada por ter sido 'contaminada' por ideias perigosas.

Controle indireto

Apesar de Hope ser a protagonista, o jogador não a controla diretamente, mas fica no papel de um personagem misterioso que se comunica com ela pelo telefone e, ao mesmo tempo, consegue acessar as várias câmeras de segurança e sistemas da cidade de Metamorphosis, ambientação do jogo. Essa forma de lidar com a interface é só uma das várias soluções que a equipe da Camouflaj elaborou para criar uma experiência verdadeiramente adaptada ao iOS.

No enredo do jogo, Hope está tentando escapar de uma prisão, e o objetivo é tentar ajudá-la a não ser detectada pelos Prizrak, que são os guardas locais. A ação é visualizada pelas câmeras de segurança – parte do desafio é alternar entre elas para enxergar as melhores rotas para que Hope consiga se esgueirar sem ser percebida. Um ponto bem interessante é como, apesar de se enquadrar como 'ação furtiva' (ou stealth action), République não é um jogo violento. Não existem assassinatos, espadas e nem mesmo golpes de artes marciais. O máximo que um Prizrak faz quando consegue pegar Hope é agarrar o braço da garota e escoltá-la até a cela mais próxima – de lá, o jogador consegue destravar as portas e sistemas de segurança para começar uma fuga. Já a protagonista pega um pouco mais pesado – quando equipada com um spray de pimenta, ela pode atordoar seus adversários por alguns instantes para evitar ser capturada.

O objetivo do jogo é ajudar Hope a não ser detectada pelos guardas locais
Considerando a profundidade do enredo e os gráficos excelentes, a jogabilidade e os comandos de République surpreendem pela simplicidade, o que é só mais uma qualidade. Tudo é feito pela tela sensível ao toque. Para dizer à Hope para onde ela deveria ir, basta apontar o local na tela. Da mesma forma, tocar em um Prizrak distraído faz com que Hope tente esvaziar seus bolsos em busca de algo útil. Alternar as câmeras e trancar e destrancar portas é igualmente fácil – e para aprender como, o tutorial é composto de dicas ocasionais de Cooper, um outro hacker com um senso de humor especial que se comunica com o jogador de tempos em tempos – bem mais agradável que boa parte dos longos e chatíssimos tutoriais de jogos 'de console'.

Além do desafio óbvio de tentar driblar guardas e resolver um puzzle ocasional, République também é interessante no quesito exploração. Na prática, não existem tantos lugares para conhecer, mas esse é um daqueles jogos com uma carga imensa de conteúdo. Então, quem tiver a disposição para se aprofundar muito na história, pode passar um tempo a mais buscando anotações, gravações de voz, e-mails e livros espalhados pelos cenários.

Quando equipada com um spray de pimenta, Hope pode atordoar seus adversários

Um dos poucos defeitos de République é que, por enquanto, apenas o primeiro episódio, batizado de 'Exordium' está disponível. Considerando a média dos jogos da App Store, é caro: US$ 4,99 por uma aventura que dura algo como três horas. Para quem jogar e gostar, é possível se antecipar e comprar um passe de temporada, que custa US$ 14,99 e dá acesso aos outros quatro episódios - que ainda serão lançados.

RESUMINDO... (TL;DR)

  • République tem gráficos excelentes e neste quesito está entre os melhores do iOS
  • A protagonista é Hope, uma garota que é especial por não ser sexy e não ter superpoderes
  • O jogador não controla Hope diretamente
  • O cenário é uma distopia inspirada em 1984
  • République é um jogo de ação furtiva bem diferente de Metal Gear Solid e Assassin's Creed
  • Por enquanto, apenas um episódio está disponível e custa US$ 4,99

Nota: 8/10