Quem desenha a roupa que você veste?

O sucesso de uma coleção depende, em muito, do trabalho desenvolvido por estilistas. Aqui, quatro criadores da cidade, experientes em diferentes segmentos fashion, discorrem sobre carreira e mercado e contam como chegaram lá

por Laura Valente 30/11/2017 11:29
Gustavo Marx/divulgação
Alphorria (foto: Gustavo Marx/divulgação)

Sem dúvida, os holofotes sobre os desfiles de moda povoam o imaginário de quem almeja seguir a carreira de estilista, mas, na realidade, a escolha pela profissão envolve muito mais que desenhar uma coleção de sucesso. Aqui, o perfil de quatro experientes profissionais da cidade revela de que forma chegaram lá, como desenvolvera m habilidades específicas, o que consideram fundamental na área e outros detalhes que fizeram de cada um referência para o estilo de muitas grifes mineiras de prestígio.

 

Cássio Vital –  Valorização do feminino    

 

“Aos 12 anos, apresentei meu primeiro 
croqui de moda para o Clodovil”

Gustavo Marx/divulgação
Cássio Vital (foto: Gustavo Marx/divulgação)
 

Estilista “sênior” da grife Alphorria (com experiência que já soma 16 anos) e também integrando a equipe de criação da LN, Cássio Vital definiu a profissão que seguiria praticamente na infância. “O interesse em desenhar me acompanha desde sempre. Aos 12 anos, enviei croquis para a análise do estilista Clodovil Hernandez, no programa TV Mulher. Ele apresentou e elogiou os desenhos, o que recebi como um grande incentivo para continuar”, lembra ele. O talento ganhou solo fértil também no ateliê de costura de uma tia, onde Cássio demonstrava interesse pelos tecidos, modelagens e revistas de moda. Já na adolescência, em Juiz de Fora, começou a fazer ilustrações de moda para o caderno de domingo do jornal local e, aos 20 anos, abriu mão do vestibular para o curso de Belas-Artes para vir trabalhar em BH. “Fui contratado pela IMA, atacado de tecidos. Um ponto de encontro de confeccionistas que abastecia a produção de moda de todo o país. Tive lá a minha grande escola, oportunidade de conhecer todo o processo da indústria têxtil brasileira, na época ainda bastante expressiva”, revela. 

 

Ao longo da carreira, o profissional trabalhou em grandes marcas, como Regina Salomão, Divina Pele e  Madrepérola (esta também por um período longo,12 anos). Atualmente, assina coleções para a Alphorria e para a LN Brand, grife que elege a renda e a mistura de matérias-primas como diferenciais.

 

Entre as passagens que marcaram a carreira, de forma especial lembra o primeiro desfile assinado para a Alphorria, durante a SPFW, e a apresentação de estreia da Madrepérola na passarela do Minas Trend, o que rendeu para a marca convite para desfilar na Semana de Moda de NY. “Em desfiles, sou tomado de muita adrenalina, até pela grande visibilidade de eventos desse porte.” Antes de chegar à passarela, no entanto, o estilista conta que há uma longa caminhada a cada nova coleção. “Começo a partir da definição de um tema. É ele que nos orienta na construção do processo. Vem daí a pesquisa de imagens, de inspirações, a montagem de um mood board”, descreve. Depois, o profissional se dedica à seleção de tecidos e cartela de cores, à criação de desenhos e à seleção dos aviamentos  que serão usados, muitas vezes também criados e desenvolvidos por ele. Na sequência, faz os croquis, as provas de roupa e, por fim, a aprovação das peças-piloto. “O trabalho não termina com a coleção pronta, pois aí ocorre a convenção para apresentá-la para os representantes, a definição de campanha e a produção do look book”, avisa.

Zee/divulgação
Alphorria (foto: Zee/divulgação)

Com o olhar já apurado pela experiência, Cássio conta que colhe inspirações no dia a dia, “uma viagem, uma visita a uma galeria ou museu, um livro, um filme, a arquitetura, a natureza. “De uma mulher ou de várias que  admiro”, ressalta. “De qualquer fonte que me emocione de alguma forma”, completa. Traço marcante nas criações é a  forte tendência a valorizar o feminino, como aponta. “Gosto de deixar a mulher bonita, confiante. Realçar suas belas formas”. Criador nato, ele se sente à vontade para atuar em qualquer segmento do mercado. “Sempre me adaptei e respeitei o DNA das marcas em que atuei. Claro, sempre com base em meu conhecimento e gosto pessoal. Também valorizo muito as trocas e acredito no constante aprendizado”.


Cássio celebra os momentos incríveis que já viveu na profissão, mas lembra que, como em qualquer área, há dificuldades. “Neste momento mesmo, com a atual situação econômica do Brasil, somos influenciados até na hora da criação. Às vezes é necessário adaptar uma modelagem ou optar por alternativas de matéria-prima para reduzir o custo final de um modelo”, lamenta. No entanto, se diz completamente apaixonado pela profissão e afirma que  uma roupa benfeita começa pela escolha correta do tecido, segue pelo cuidado com a modelagem e termina em uma costura impecável, “daquelas que até o avesso dê orgulho”.  Ainda segundo o criador, o sucesso de uma coleção depende de inúmeros fatores, não apenas do trabalho de criação. “Um ótimo produto que não é divulgado não é visto e costuma não sair das araras. Por isso um bom trabalho de marketing tem grande importância no processo”, defende.


Aos que estão chegando ao mercado, o criativo diz que é necessário principalmente amar o que pretendem fazer. “E não se iludir com o suposto glamour deste mundinho fashion”, alfineta. Para finalizar, diz que é preciso ter a consciência de que o estilismo é um ofício como qualquer outro. Portanto, dedicação é fator indispensável, boas relações ajudam muito, e também um olhar apurado para o comportamento social, aqui e no mundo. “É importante a pesquisa por novas matérias-primas, novas formas de acabamento, saber o que está acontecendo no geral. Tanto que,  quando viajo para o exterior – e faço isso duas vezes por ano -, não me prendo a visitas a lojas. Prefiro museus, galerias, livrarias e o movimento de rua, que me abastecem de forma plural.” Questionado sobre sonhos, Cássio é, ao mesmo tempo, arrojado e pé no chão. “ Quem sabe ter um look meu exposto em vitrine da Bergdorf , Harvey Nichols ou Prientemps? Mas vestir famosas e anônimas brasileiras em seus momentos especiais já me enche de orgulho.”

 

 

Daniel Correa – DNA em 
alfaiataria contemporânea

 

“A fábrica Mabel Magalhães foi minha escola”

Beto Novaes/divulgação
Daniel Correa (foto: Beto Novaes/divulgação)
 

Da geração de estilistas jovens, Daniel Correa desenvolveu em Carmo da Mata, Centro-Oeste mineiro, a primeira ideia de moda, desenhando looks para princesas hipotéticas, num exercício de criatividade. Ainda fazia uma ideia glamourizada da área e pensava em cursar belas-artes quando veio para a capital, acolhido pela tia Sinhã, mãe do estilista Inácio Ribeiro (o Papaulo, hoje radicado em Londres). “Foi ela quem pediu ao Inácio que conversasse comigo sobre a área. Ele escutou minha história, viu meus desenhos e me apresentou para a Mabel Magalhães, com quem já havia trabalhado”, revela.
Na época, Daniel era um garoto, mas já apresentava talento para os desenhos, característica que conquistou a estilista que participou do Grupo Mineiro de Moda com a grife Artmanha. “Não sabia nada, nunca havia pisado no chão de fábrica e a Mabel, muito generosa, avaliou os meus croquis. Ela percebeu que eu era cru de tudo, mas disse que gostava de ensinar para quem gostava de aprender e me deu uma oportunidade”.


Depois desse primeiro contato, Daniel conta que, literalmente, grudou na professora. “Naquele momento, ainda queria fazer faculdade, mas percebi que ali seria uma escola. Logo de início, a Mabel me apresentou um texto, Os 10 mandamentos do estilista, cuja primeira mensagem dizia que profissional tem hora para chegar, mas não para sair. Com isso, entendi como seria a minha rotina dali pra frente.”  Em seguida, a mentora mostrou ao garoto todas as etapas de uma produção de moda. 
Aos poucos, Daniel assumiu a função de desenhar coleções, sob a coordenação dela, e criou intimidade com a forma de criar da estilista. “Com o tempo, fui pegando o jeito dela e aprendendo a interpretar a leitura que tinha da roupa, pois Mabel não era muito boa de desenho, apesar de entender de moda como ninguém, ter muita bagagem, primor no acabamento. Aprendi tudo com ela, numa época em que nem sequer conhecia um georgete de seda pura”, detalha. Ali, Daniel conheceu a importância da modelagem, conheceu tecidos nobres como a seda pura e o jacquard, percebeu que a prova de roupa é primordial para o aprendizado da profissão.  “Ela foi uma grande professora, era muito exigente com modelagem, mandava desmanchar um blaser muitas vezes até que ficasse satisfeita. Realmente não consegui estudar, porque não tinha hora para sair da fábrica, mas aprendi lá todos os processos de construção de uma roupa.

 

A  Mabel me colocou em um curso de modelagem (método Ioli), me levou para o arremate, para o corte, me envolveu em todos os setores importantes de uma confecção. Também fiz ao lado dela a primeira viagem de pesquisa da minha vida, para Paris”, diz o criador. Com a morte da estilista, o pupilo trabalhou ao lado da filha dela, Cláudia, e ficou na fábrica até o encerramento das atividades, há dois anos. Nesse meio tempo, trabalhou também com a estilista Nem Campos, na Batom Blue, até que conheceu Fátima Scofield, e começou uma nova etapa da carreira assumindo o estilo da grife de mesmo nome e fechando uma parceria afinada na criação de duas novas etiquetas do grupo, a Fedra e a FS (esta dedicada à pronta-entrega).  “A Fátima me deu carta branca para criar, o que me deixou muito animado. Começamos aos pouquinhos, e foi dando tudo certo. Hoje, já somamos sete anos de parceria”, conta.

Márcio Rodrigues/divulgação
Fátima Scofield (foto: Márcio Rodrigues/divulgação)

No grupo Fátima Scofield, partiu de Daniel a ideia de criação da Fedra, grife que aposta no acabamento e na construção arquitetônica da modelagem, prezando a mistura de texturas, tecidos, recortes. “Fiz um estudo e vi que havia uma lacuna no mercado em relação à moda proposta por grifes como Maria Bonita e Huis Clos, mas não queria pegar aquilo porque já tinha. Então, foquei o DNA numa alfaiataria de proposta mais solta, contemporânea, também fugindo do clássico, já existente na grife Fátima Scofield”, caracteriza.


Hoje, somando as três grifes do Grupo, ele chega a desenhar a média de 500 modelos diferentes por temporada. “Depois que definimos cada proposta, tudo fica mais tranquilo”, afirma. Apesar do extenso volume de trabalho, ele diz que, fiel à escola em que foi formado, não abre mão na qualidade do acabamento de cada peça, e nem do design. “Pra mim, a roupa não pode ter um desenho qualquer, mas algo diferente, recortes, diferencial”, diz, categórico.


Numa avaliação da carreira, Daniel afirma que os encontros fizeram a diferença na vida dele. “Sou muito grato a Mabel por tudo. E também aprendi e aprendo com todas as pessoas com quem trabalhei e trabalho.”  Ativo que só, ele considera a curiosidade como traço fudamental para o sucesso profissional e conta que bebe na arte como fonte constante de inspiração. “Gosto de museu, de literatura, filmes, teatro”. Entre os artistas que admira, Daniel cita o norte-americano Frank Stella, um às no trabalho com cores.


Otimista, o profissional acredita que o mercado local ainda tem muito a crescer, “principalmente agora, que as coisas estão melhorando”, avalia. Atento às mudanças de mercado, ele vê a tecnologia como aliada dos processo produtivos, e diz que o fundamental para seguir a carreira é o gosto. “A prática pode até ser assimilada rapidinho,  mas tem que gostar do que se faz. Assim, a pessoa vai entender que a profissão é o mundo dela”.

 

Susana Bastos  – Mix de arte, design e moda

“Criança, queria ser cientista para inventar alguma coisa nova”

Arquivo pessoal/divulgação
Susana Bastos (foto: Arquivo pessoal/divulgação)
 

 

Interessada pelo universo das artes desde a infância em Lavras, no Sul de Minas, Susana Bastos não gostava de desenhar quando começou a acompanhar a mãe nas aulas de pintura. “Cresci em um ambiente artístico, mas achava a ideia de repetir imagens fotográficas em quadros ou desenhos muito limitadora. Tudo mudou a partir das aulas, quando descobri que poderia ser artista sem saber desenhar, e ali comecei a desenvolver a vocação e a paixão por experimentações e combinações cromáticas. Recebi uma tela grande, conheci o Pantone e resolvi, naquele momento, que cursaria belas-artes”, lembra. Em BH, cumpriu a promessa de menina e, também na UFMG, se matriculou em Estilismo e modelagem, na época curso de extensão com duração de dois anos. Nesse meio tempo lançou a GLA, marca de bolsas em sociedade com Juliana Freire e Antônio Gomes, grife que manteve ativa por vários anos. Já formada, Susana partiu para Londres, a fim de estudar na Central Saint Martin.


De lá pra cá, a estilista trabalhou nas grifes Disritmia (hoje DTA) e Coven. “Aprendi muito na DTA, tanto com os colegas Barbara Luiza, Sônia Lessa e Marcelo Birni, quanto com o processo industrial desenvolvido na época por Regina Matina e Ermínio Vidal. Depois, conheci a Coven e a Liliane Rebehy me chamou pra colaborar com ela na coordenação do estilo. Ali, me apaixonei pelo tricô e vivi um tempo muito legal de criação e aprendizado profissional . Fiquei lá por oito anos e fiz os primeiros desfiles da minha carreira, alguns inesquecíveis.” Hoje, além de assinar vestidos de noiva personalizados em projeto pessoal ao qual dedica muito carinho, Susana cria peças para a Alva Design, empresa que comanda ao lado do irmão, Marcelo Alvarenga (leia-se PLAY Arquitetura). Também integra a equipe de estilo da grife Madrepérola. “Em 2015, estava há dois anos afastada do cotidiano da produção de moda, me dedicando a outros projetos, quando o Pedro Lázaro me indicou para a Ângela Laguardia, que faria o primeiro desfile da grife na Minas Trend. Desenho para a marca desde então”, conta.


Sim, neste tempo todo Susana já questionou a profissão, “principalmente a parte descartável” do trabalho . “Uma coleção, uma ideia mal foi lançada, mal foi absorvida e já estamos produzindo outra. Neste sentido, percebo que o design caminha com mais tempo. Uma peça fica anos ou uma vida inteira no mercado, muitas vezes só ganhando valor com o tempo”, ressalta. Assim, Susana “descansa” da rotina  com a produção de peças de design e de vestidos de noiva, “um projeto pessoal muito especial pra mim, que sempre desenvolvi em paralelo com os outros trabalhos, mas em outro ritmo”, diz. E segue presente na moda. “Mesmo nas criações da Alva, para onde levo liberdade, bebo no frescor da moda. Gosto também de pesquisar roupas para fazer design, interessada em combinação de cores, acabamentos, texturas”.

Credito: Gustavo Marx/divulgação
Madrepérola (foto: Credito: Gustavo Marx/divulgação)
 

No cotidiano, que descreve como “correria, correria, correria”, revela que vem buscando “mais tempo para cada coisa”, com o ideal  de “poder curtir os processos e não só atender às demandas”.  E confessa.: “É bem difícil”.
“Assim, tento manter a calma ao menos internamente”. Artista plástica com especialização em pintura, considera as fonte de inspiração recorrente. “É o que mais me alimenta. Gosto muito de literatura e filosofia também, pra alimentar e sacudir minha cabeça. E, claro, acompanho o que está rolando no mundo da moda.” Área, aliás, em que domina vários segmentos. “Tenho uma experiência bem diversificada, pois trabalhei com um pouco de tudo. Além disso, a curiosidade me leva a buscar o que nunca fiz, então acabo sempre inventando um problema novo, tentando aprender uma técnica que não domino. Mas tenho muita experiência com o tricô, com estamparia e adoro desenhar sapatos, já fiz muitos.”


Um das delícias da profissão, avalia, “é poder criar e ver as pessoas curtindo, usando o que você fez com tanto esforço e carinho”. O lado difícil, define ela, é a aceleração do tempo e do consumo. No balanço, se diz feliz com a escolha. Acredita que a tecnologia vem para somar, para possibilitar novas técnicas, mas afirma que o lugar da criação é insubstituível.  “Ela vai existir sempre, e continuar sendo importante pra dar  ‘alma’  às coisas.” Ela também destaca a importância do estilista para o sucesso de uma coleção, e diz que, para seguir carreira, é preciso “estar a fim de trabalhar duro, acreditar no seu trabalho e fazer isso de forma que seja confortável para cada um.” Outra dica: “Sempre respeitar todas as pessoas envolvidas no processo. Muitos trabalham para uma coleção ir para as ruas”, lembra.

 

 

 

Rodrigo Lomeu – Um desenhista nato

 

“Sempre tive paixão pela moda festa”

Jair Amaral/E.M/D.A Press
Rodrigo Lomeu (foto: Jair Amaral/E.M/D.A Press)
 

O mais jovem do quarteto, Rodrigo Lomeu, natural de Manhuaçu, chegou a BH há 13 anos. Na infância,  desenhar era a principal diversão do menino, que vivia em meio a descobertas de cores e texturas diferentes, misturando aquarela com canetinha e lápis de cor. “Fiz curso de ilustração coincidentemente no período da inserção do Mangá japonês no Brasil. Assim, recebi muita influência do traçado de Naoko Takeuchi e CLAMP, mas desde então o professor já falava sobre a semelhança do meu traço natural com o croqui de moda”, lembra.


No momento de prestar vestibular, ele chegou a cogitar medicina por influência familiar, mas o contexto o levou para a área da criação. “Sempre gostei de imagens de moda, fotografias, ilustrações. Tinha uma fascínio muito grande pelo trabalho de Rene Gruau e David Downton. A opção pela graduação em moda fluiu naturalmente, pelo fato de sonhar em ser ilustrador”, conta o rapaz que cursou Gestão em negócios de moda na UNA e desde sempre lê Vogue religiosamente, como diz. A carreira também começou cedo. “Logo que me formei, comecei meu MBA em marketing e o coordenador do curso me apresentou a Miriam Fasano, para quem comecei a trabalhar. Fiquei dois anos na grife Comini Fasano.” Em seguida, Rodrigo passou nas marcas Madrepérola e Iorane. Atualmente, está na Cosh e na Fleche D’or. “ Contei com a sorte de só trabalhar em empresas que me deixaram expressar meu estilo pessoal e o DNA da minha roupa. Eu sempre tive paixão, veia para a moda festa. É o mercado em que comecei e atuo há mais tempo e penso que meu nome sempre será associado ao segmento.”


Entre as conquistas, Rodrigo celebra principalmente o momento atual, que considera a consolidação de qualquer carreira. “Conseguir estar em empresas de moda em um país em que quase não há incentivo do governo, a mão de obra é escassa e a economia completamente desestruturada é um mérito. Conseguir se adequar e se reinventar para fazer um produto nessa realidade não é nada fácil.” Para chegar lá, ele diz buscar informações e inspirações principalmente durante viagens, quando vivencia aquilo que depois traduz em modelos. “Se a ideia é fazer uma coleção sobre uma cidade, por exemplo,  nada melhor que viver o cotidiano local, a forma como as pessoas se vestem, lugares que frequentam, o que comem. Isso sempre me inspira, funciona como uma bomba de oxigênio para o start de uma nova coleção”, define.

Fleche Dor/divulgação
Fleche D'or (foto: Fleche Dor/divulgação)

Em um mercado em transformação, Rodrigo aponta como felicidade conseguir traduzir uma ideia em uma peça de roupa, “de modelagem e acabamento impecável”, considera.  Por outro lado, o estresse provocado pela rotina baseada em velocidade causa certo incômodo. “Com essa influência toda da Internet, as informações estão ficando velhas muito rápido”. O papel da criatividade, no entanto, é fundamental para equilibrar a dinâmica fashion. “Para ser bem-sucedido, penso que o estilista precisa estar sempre antenado às principais tendências, procurar fazer uma roupa moderna e diferenciada. Além disso, conhecer muito bem o seu mercado, saber analisar o cenário e seus concorrentes, procurar conhecer e entender quem é o seu cliente, o que ele procura e o que ele consome”, frisa.


Para quem pretende também seguir carreira na área, Lomeu sugere a avaliação para possibilidades além do setor de estilo. “O mercado oferece outros segmentos e é carente em várias outras áreas da moda. Mas se a ideia é mesmo se tornar um estilista, penso que a pessoa deve procurar se especializar em modelagem, história da moda, pesquisa de tendências. Procurar entender um pouco da área comercial, pois de nada adianta criar algo lindo se a peça não será absorvida, pensar que moda é business.” Ele sugere ainda a busca constante por superação. “O aluno se diferencia quando desafia si mesmo a fazer algo novo, pensa fora de sua zona de conforto. Assim, pode se tornar um profissional necessário para a empresa, ganhar liberdade para opinar e também se preocupar com a saúde da empresa, pois é com o crescimento e sucesso dela que ele verá o próprio crescimento profissional”, ensina.