Referência da cultura afro, Tambor Mineiro criado por Tizumba fecha as portas

Segundo artista, dificuldades financeiras impostas pela pandemia o fizeram entregar o galpão no Bairro do Prado. Porém, promete reabrir o espaço assim que a crise passar

Augusto Pio 13/08/2020 04:00
Belisário Tonsich/Divulgação
Maurício Tizumba diz que pandemia inviabilizou o espaço da cultura afro-mineira (foto: Belisário Tonsich/Divulgação)
Criado pelo cantor, compositor, percussionista e ator Maurício Tizumba, o Espaço Tambor Mineiro, centro de referência da cultura afro-brasileira, fechou as portas definitivamente na segunda-feira (10). Ele funcionava no Bairro do Prado, na Região Oeste de BH. O músico conta que manteve o galpão o máximo de tempo que pode, mas a falta de recursos o obrigou a entregar o imóvel.

O centro cultural abrigava projetos de artes cênicas, música e festejos do congado. Era parceiro da Companhia Burlantins de Teatro, Trupe Negra de Teatro, Bloco Tambor Mineiro e do Grupo Tambor Mineiro, além de oferecer oficinas, aulas de percussão e dança afro. Tizumba explica que todas as atividades estavam suspensas desde o decreto que impôs o confinamento social, em março.

“Infelizmente, não tive outro jeito. Não podia promover mais eventos lá, por causa do isolamento social. Além disso, tive de parar com as aulas e oficinas”, lamenta. “Não dava mais para pagar aluguel e ficar sem atividades que nos rendessem algum tipo de recurso.”

Porém, ele garante: tão logo passe a pandemia, tentará abrir o centro cultural em outro local. “Não há como a pandemia acabar com o Tambor Mineiro. Entregamos o espaço, porque não podíamos continuar lá, mas assim que as autoridades autorizarem, começa tudo de novo. Agora em um lugar mais em conta. Estou olhando um outro galpão no Bairro Aparecida, lugar de onde veio meu congado e onde nasci”, adianta.

Criado já 20 anos, o Tambor, inicialmente, era espaço de ensaio para uma peça teatral. “Quando acabaram os ensaios, resolvi aproveitar o galpão para dar aulas lá, em vez de devolvê-lo ao proprietário. Foi então que começamos a formar grupos e turmas. Posteriormente, passamos a ter formaturas, acabou que o espaço foi ficando pequeno”, lembra Tizumba.

O próximo passo foi a rua. “Criamos o festejo do Tambor Mineiro”, conta ele, referindo-se ao projeto ligado ao congado e à percussão afro-mineira. “A coisa foi crescendo e o Tambor virou um pequeno teatrinho alternativo, que recebia peças e shows. Fizemos vários eventos, inclusive trazendo espetáculos de fora, além das aulas e oficinas permanentes de pandeiro e de percussão”.

Tizumba acredita que o centro cultural tem papel importante para Belo Horizonte. “Trouxemos visibilidade para a cultura afro-mineira, que é congadeira, da qual faço parte por meio da Irmandade Os Carolinos”, diz. “Começamos a receber convites para ir para fora do Brasil. Demos aulas de percussão na França, Suíça, Espanha, Alemanha, Portugal, Estados Unidos e Canadá, sempre falando sobre o tambor mineiro, além do samba e do maracatu.”

Há nove anos Tizumba ensina percussão na Alemanha. “Conseguimos manter uma oficina permanente lá. Em outubro, voltaríamos ao país para dar aulas com um grupo alemão de tambor, que está completando 30 anos, mas, infelizmente, a viagem foi adiada por causa da pandemia.”

Tizumba diz que vem aproveitando a quarentena para compor e curtir a neta. “Estou compondo pouco, não tanto quanto gostaria, e tenho descansado bastante. Como não paro, fiz algumas lives, mergulhando na obra de Vander Lee. Estou planejando gravar um disco com músicas dele ainda este ano”, afirma, referindo-se ao cantor e compositor mineiro que morreu aos 50 anos, em 2016, devido a um ataque cardíaco.

LIVE Maurício Tizumba também gravou um disco com Sérgio Pererê, que seria lançado em abril passado. “Por causa da pandemia, o lançamento foi adiado, mas estamos preparando uma live. Tenho feito também palestras para pessoas do eixo Rio-São Paulo-Bahia, nas quais falo sobre negritude, entre outros temas”, conclui o músico e ator.


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