Atriz e cantora Bibi Ferreira morre aos 96 anos

Reconhecida como a grande dama do teatro brasileiro, ela havia parado de atuar em 2018

por Estado de Minas 13/02/2019 14:47

Divulgação/Arquivo pessoal
Artista morreu em casa, onde se recuperava das últimas internações (foto: Divulgação/Arquivo pessoal)
A atriz e cantora Bibi Ferreira, um dos maiores nomes do teatro brasileiro, morreu nesta quarta-feira (13/2), aos 96 anos. A informação foi confirmada ao Estado de Minas por um amigo da artista. Segundo ele, Bibi faleceu em casa, no Rio de Janeiro, onde recebia cuidados especiais depois de suas últimas internações. Com saúde debilitada, ela havia se retirado dos palcos em 2018.

Amigo próximo de Bibi há 15 anos, o advogado mineiro Guilherme Corrêa define Bibi como "a maior artista que esse país já teve e não haverá outra igual". De acordo com ele, além do grande talento artístico, ela era também "uma pessoa de enorme generosidade".

 

Guilherme conta que costumava acompanhar Bibi em espetáculos no Rio de Janeiro. "Ela sempre deu muito valor a isso, ia tanto nos de artistas veteranos, quanto dos mais jovens", revela. O advogado diz que esteve pela última vez com a amiga há um mês, quando "se despediu dela".

 

"Ela estava bastante comprometida fisicamente. Desde que anunciou a aposentadoria, em 2018, teve quadros de desnutrição, desidratação e pneumonia. Desde a última internação, vinha recebendo cuidados em casa e já não tinha mais forças para se levantar. Ela teve o fim que a gente esperava, para que esse sofrimento fosse breve", explica Guilherme.

 

A última passagem de Bibi Ferreira por Belo Horizonte foi em 2017, no Palácio das Artes, com o espetáculo musical 4XBibi. Na época, ela falou que a longevidade da carreira era resultado de disciplina e compromisso. “Vai naturalmente, feito uma escada, degrau por degrau. Com muito cuidado para não escorregar”, disse ao Estado de Minas.  Veja um vídeo da apresentação no Palácio das artes e confira aqui a entrevista concedida pela artista na época.

 

 

No Palácio das Artes, ela subiu ao palco acompanhada por 10 músicos, sob regência do maestro e diretor musical Flávio Mendes. Ainda em entrevista em EM, ela disse: “Não se escolhe repertório como se escolhe uma bolsa. É feito aos poucos, numa conversa com o maestro durante um café. Surge naturalmente nos momentos de lazer”

 

Ainda na passagem por BH, a artista relembrou da relação com a portuguesa Amália Rodrigues. Durante uma época, as duas cantavam em cassinos vizinhos, em Cascais, distrito de Lisboa. "Não éramos amigas de tomar chá e café, mas  éramos grandes admiradoras do trabalho uma da outra. Ela sempre passava no meu show para saber o que eu tinha cantado. Conversávamos mais sobre as questões profissionais, da carreira.”

Sobre seu precioso "instrumento de trabalho", ela confidenciou os cuidados especiais que tomava. Um deles era não falar ao telefone no dia em que iria se apresentar. “Telefone é muito ruim, desloca a voz. Falar é sempre muito ruim para quem canta.”

A lista de precauções ainda incluía evitar bebidas geladas ou com gás. “Meu pai dizia que tomar gelado vela a voz, como se estivesse com uma poeira.” Ainda sobre a profissão, ela afirmou: “Meu senso de responsabilidade é cada dia maior. É a credibilidade que leva o público. Deus me dá saúde mental e física para realizar meu trabalho. Levo tudo muito a sério”.

 

Na ocasição, ela ainda elogiou a cidade: “Venho aqui a cada dois anos, no Palácio das Artes ou no Francisco Nunes, aquele teatro lindo dentro da floresta. Tudo é muito bonito: o teatro, o parque, a cidade, as pessoas de Belo Horizonte”, disse ao EM. 

 

Outras passagens por BH

Em 2015, Bibi apresentou no Teatro Sesiminas o espetáculo Bibi Ferreira canta repertório Sinatra.Eram 24 canções do artista norte-maricano interpretadas por ela. "Ele é o meu cantor predileto, não apenas pelo repertório magnífico, mas também porque triunfou em todos os sentidos”, disse ela há quatro anos. 

 

Em 1999, Bibi Ferreira dirigiu, em Belo Horizonte, uma montagem da ópera Carmen, de Georges Bizet (1838-1875). A estreia ocorreu em 6 de novembro, no Palácio das Artes. Fátima Carretero, da Cia de Baile Flamenco Fátima Carretero, foi coreógrafa do espetáculo. Sobre a experiência de trabalhar com Bibi, conta: “A ideia da montagem foi do próprio Palácio das Artes. Fizemos o convite pessoalmente, na casa dela no Rio de Janeiro. Assim que falamos, ela demonstrou empolgação e deu várias ideias”.

A ópera ficou em cartaz durante aproximadamente dois meses, segundo a coreógrafa. Ela diz também que Bibi chegou a propor uma remontagem do espetáculo, em 2017. “Infelizmente, sabíamos que a ideia era difícil de executar a essa altura, mas realmente foi um trabalho delicioso de fazer. Tivemos uma recepção muito boa”. Em entrevista à Folha de São Paulo, a dama do teatro falou da sua relação com a ópera: "Dos 7 aos 11 anos, participei de todas as montagens de Carmen  que foram encenadas no Rio, como uma das crianças do primeiro ato".

Fátima Carretero destaca ainda a generosidade da atriz: “Trabalhar com a Bibi é inexplicável. Ela era jovem, tinha uma energia sem igual. A maneira que ela tratava os artistas também era incrível. Não tinha nenhuma hierarquia,  todos eram iguais”. Fátima garante que aprendeu muito com o método e a disciplina da artista.
 

 

Carreira
Filha do ator carioca Procópio Ferreira e da bailarina argentina Aída Izquierdo, sua primeira atuação teatral foi aos 24 anos, na peça Manhãs de sol, de autoria de Oduvaldo Vianna. Ao longo das décadas seguintes, atuou ao lado dos grandes nomes da música e do teatro brasileiros, integrou o corpo de baile do Theatro Municipal e dividiu o palco com nomes como Cacilda Becker, Maria Della Costa e Paulo Autran. Bibi foi casada cinco vezes e vivia no Rio de Janeiro.

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