Enquanto em Sochi a Seleção da Rússia enfrentará a Croácia a partir das 15h deste sábado (7) para tentar uma vaga na semifinal da Copa do Mundo, em Belo Horizonte os russos mostram que não são apenas bons de bola. Hoje e amanhã, o público da capital mineira vai ter a oportunidade de conferir exemplos da produção do país-sede do Mundial de futebol em duas áreas nas quais ele também é craque: a animação e a música. O Sesc Palladium abriga, desde 26 de junho, um ciclo de animação russa com filmes produzidos entre desde os anos 1950 até 2016. “Foi uma coincidência a mostra ocorrer na mesma época da Copa do Mundo. O bacana é que as pessoas podem conhecer mais sobre a Rússia, o que tem se produzido por lá”, afirma a curadora Maria Vragova.

Radicada no Brasil há oito anos, a russa Maria ressalta o lugar de destaque mundial ocupado pela animação produzida em seu país. “A ex-União Soviética foi uma das maiores produtoras de animações do planeta e essa tradição ainda perdura na Rússia contemporânea”, diz.

A mostra termina hoje com uma programação especial. A partir das 15h, será exibido O quebra-nozes, baseado no livro de E.T.A Hoffmann com trilha criada por Piotr Thaikovsky para o famoso balé. Outra atração é o curta O ouriço no nevoeiro, produção de 1975 do diretor Yuri Norstein, que se tornou um clássico. O desenho traz a história de um ouriço que se perde na floresta em dia de nevoeiro, quando ia se encontrar com o amigo urso. A série Espera, você vai ver! também está na agenda deste sábado.

“Ao longo da mostra, foram sendo exibidos alguns episódios. É uma produção feita para o público infantil, mas acho que os adultos gostam até mais. A série foi realizada entre 1969 e 1986 e, na historinha, um lobo persegue um coelhinho, que sempre consegue escapar. Muita gente se lembra de Tom e Jerry, apesar de o diretor Vicheslav Kotenotchkin ter conhecido a série americana somente no final dos anos 1980. Mas Espera você vai ver! é muito menos agressiva, mais leve e engraçada”, avalia Maria Vragova.

A cereja do bolo de encerramento da Mostra de Animação Russa é Conto dos contos, considerado pela Academia Americana de Cinema o “melhor desenho animado de todas as épocas e de todos os povos”. O filme de 29 minutos acompanha um lobo que bisbilhota o cotidiano de várias pessoas, reproduzindo um mosaico do estilo de vida soviético. “É uma obra-prima de Yuri Norstein, por seu estilo poético e filosófico. Virou referência na animação pelas técnicas, a linguagem utilizada, além dos temas abordados, como filosofia, guerra, vida, morte”, diz a curadora.

Ela destaca o interesse dos belo-horizontinos pelo evento e pela animação russa. “As sessões ficaram sempre lotadas, mesmo nos dias em que tivemos jogos da Copa do Mundo. O público está supercurioso, e fico muito feliz que gostem desse tipo de arte. A animação vai muito além da diversão – fala de literatura, de comportamento. É muito interessante”, frisa.

ENCONTRO MUSICAL A Orquestra Ouro Preto também entrou no clima da Copa e apresenta amanhã o concerto A Rússia e o Brasil – A música de Tchaikovsky e Villa-Lobos, também no Sesc Palladium. O evento faz parte da Série Domingos Clássicos 2018. “Essa série tem foco na música mais erudita e de concerto. Quando fomos planejar a programação do ano, nada mais adequado que aproveitar a Copa da Rússia,  país de grandes compositores, para mostrar o que eles têm de melhor”, comenta o maestro Rodrigo Toffolo.

De Piotr Tchaikovsky, o programa traz Valsa da serenata e Variações sobre um tema rococó, essa última com participação do solista Robson Fonseca. “São duas peças lindas, bem clássicas. Variações sobre um tema rococó é, talvez, uma das obras mais importantes na literatura para violoncelo. É emblemática. Ela valoriza ao mesmo tempo o virtuosismo e o lirismo do instrumento”, observa.

De Heitor Villa-Lobos as escolhidas foram o Prelúdio das Bachianas brasileiras nº 4 e a Ária da Bachianas brasileiras nº 5.” É um repertório leve e bonito. Tchaikovsky e Villa-Lobos são dois representantes máximos da música de seus países. Os dois têm a questão do clássico e erudito muito forte, mas não deixam de ter um toque popular também. Vai ser um encontro bacana entre Brasil e Rússia e não deixa de ser um momento para celebrar esse evento tão importante que é a Copa do Mundo”, diz Toffolo, que se prepara para o próximo trabalho da Orquestra Ouro Preto, O pequeno príncipe, com estreia prevista para outubro.

O público poderá participar ainda de uma atividade formativa e aproximar-se mais do universo da Orquestra. Quem estiver interessado em saber mais sobre bastidores, histórias e curiosidades sobre a música de concerto pode participar do projeto Fala, maestro. Basta chegar meia hora antes da apresentação. “É uma oportunidade para as pessoas mergulharem no universo da música erudita e se aproximarem da orquestra. Não tem um viés didático. É mais um bate papo informal”, esclarece o regente.

DESTAQUES DA MOSTRA

15 HORAS
>>  O quebra-nozes
Dir: Boris Stepantsev (URSS, 1973)

17 HORAS
>>  A luva
Dir: Roman Katchanov (URSS, 1967)
>>  Espera, você vai ver!, 9º episódio
Dir: Vicheslav Kotenotchkin (URSS, 1969-1986)
>>  Espera, você vai ver!, 10º episódio
Dir: Vicheslav Kotenotchkin
(URSS, 1969-1986)

19 HORAS
>>  A história de um crime
Dir: Fiodor Khitruk (URSS, 1962)
>>  O ouriço no nevoeiro
Dir: Yuri Norstein (URSS, 1975)
>>  Conto dos contos
Dir: Yuri Norstein (URSS, 1979)

Programação

•Mostra de Animação Russa – Hoje, a partir das 15h, no Cine Sesc Palladium. Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. (31) 3270-8100. Entrada gratuita. Os ingressos podem ser retirados com 30 minutos de antecedência.

•Orquestra Ouro Preto – A Rússia e o Brasil: A música de Tchaikovsky e Villa-Lobos. Amanhã, às 11h, no Grande Teatro do Sesc Palladium. Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. (31) 3270-8100. Ingressos: R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia) e R$ 8 (trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo).


COTIDIANO TRADUZIDO EM IMAGENS

A Copa acaba no dia 15, mas a presença russa em BH prossegue além disso. No dia 26, a Fundação Clóvis Salgado inaugura no CâmeraSete a exposição A União Soviética através da câmera, com 120 imagens em preto e branco realizadas por seis importantes fotógrafos da antiga União Soviética. A mostra tem curadoria de Luiz Gustavo Carvalho e Maria Vragova.

Por meio do olhar de diferentes artistas de renome internacional (Vladimir Lagrange, Leonid Lazarev, Vladimir Bogdanov, Yuri Krivonossov, Victor Akhlomov e Antanas Sutkus), o público poderá ver flagrantes da vida cotidiana na Rússia pós-stalinista, iniciando em 1956, ano em que Nikita Khruschev denuncia os crimes cometidos por Josef Stalin (morto em 1953), e prosseguindo até 1991, quando ocorre a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

TEATRO Até segunda (9), está em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, na Praça da Liberdade, o espetáculo Dostoiévski trip, do dramaturgo russo Vladímir Sorókin. Na história, os personagens, interpretados pelos atores da Cia. Livre e da Mundana Companhia, de São Paulo, são viciados em uma droga incomum, a literatura. A direção é de Cibele Forjaz e a tradução, de Arlete Cavaliere. As sessões (hoje, amanhã e segunda) são às 20h, no Teatro 1 do CCBB-BH. Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Vendas: bilheteria e no site www.eventim.com.br. Mais informações: (31) 3431-9400.