Espaço verde em BH une sustentabilidade e alimentação saudável

Be.Green, no Boulevard Shopping, oferece mudas para se plantar uma horta em casa, além de comercializar 750 produtos agroecológicos

por Mariana Peixoto 18/08/2017 09:00
Túlio Santos/EM/D.A.Press
As mudas de folhas do Be.Green são irrigadas com água tratada proveniente de um reservatório de tilápias, também instalado no local. (foto: Túlio Santos/EM/D.A.Press)

Uma área de 3 mil metros quadrados pertencente ao Boulevard Shopping, então subutilizada pelo centro de compras em Santa Efigênia, virou a primeira fazenda urbana da América Latina (a nona do mundo). Sim, é como um parque de diversões verde para quem está preocupado com sustentabilidade, alimentação saudável e, logicamente, com o futuro do planeta.

Mas não é papo para ecochato, não. Há três meses funcionando no shopping – o acesso pode ser tanto pelo segundo andar do Boulevard quanto por uma entrada independente, pela Rua Professor Octaviano de Almeida –, a Be.Green é um projeto modelo que une produção e consumo conscientes. Mais: acaba sendo um programa para toda a família, pois a produção de hortaliças livre de agrotóxicos (as chamadas agroecológicas), realizada numa estufa, pode (e merece) ser visitada.

Iniciativa de dois administradores de empresas, o mineiro Giuliano Bitencourt e o paulista Pedro Graziano, a Be.Green nasceu há dois anos. Graziano explica o início do projeto apresentando um dado alarmante: de 70% a 75% dos vegetais produzidos no campo são desperdiçados (os números, de 2017, são da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a FAO).

Para entender o porquê de isso ocorrer é só pensar no pé de alface que chega à sua casa. Antes disso, ele passa por cinco etapas: o produtor, o atravessador (que é quem compra do produtor do campo), o galpão (como o Ceasa), o distribuidor e o supermercado. ''Esse processo leva de três a quatro dias. Então, perde-se muito produto'', afirma Graziano. Isso sem falar do preço, já que 25% do valor que você paga por uma hortaliça corresponde aos custos de logística (e somente 20% vai para o produtor).

O que Graziano e seu sócio fizeram para dar início ao projeto? Começaram eles mesmos a produzir as folhas, sem agrotóxicos, numa fazenda convencional, na região de Betim. Quando conseguiram a área urbana, que era sua intenção inicial, fecharam a fazenda e transferiram o cultivo.

FOLHAS Atualmente são produzidas na fazenda urbana 18 variedades de folhas: alface (lisa, crocante, romana, verde e roxa) e 12 de outras folhas (agrião, rúcula, espinafre etc) e ervas (tomilho, sálvia, salsa, cebolinha etc). Por meio de uma visita guiada, o público conhece a produção, que é inovadora. Os guias são estudantes de ciências biológicas. A visita custa R$ 10 por pessoa. No final, cada visitante recebe dois pés de alface dentro de uma cestinha com água, o que faz com que as folhas durem até uma semana fora da geladeira.

De touca na cabeça, como manda o figurino, a visita tem início. Lá dentro, a vista chama a atenção. São milhares de folhas produzidas na estufa de 1.500 metros quadrados (com capacidade para produzir até 50 mil pés de alfaces e ervas por mês). A fazenda urbana de BH tem a primeira produção aquapônica (que une a piscicultura e a hidroponia) do Brasil.

Como isso funciona? Em reservatórios (que podem ser vistos pelo público) são criadas tilápias. A água onde estão os peixes passa por uma sequência de filtros que transformam a urina em alimentos para as plantas. Uma vez terminado esse processo, essa água, agora com nutrientes, é bombeada até a estufa de produção. Depois, retorna por encanamento até o reservatório dos peixes, onde o processo começa novamente. Também na estufa existem seis máquinas, chamadas ''ninhos''. Cada um tem a capacidade de produção de até 8 mil mudas.

Quando a visita termina na estufa, uma pequena loja oferece para o público a possibilidade de montar sua própria horta em casa (R$ 10, seis mudinhas). A preocupação ambiental vai até o mobiliário. O material dos bancos e mesas na área externa se assemelha à madeira. Pois ele foi produzido a partir de fraldas descartáveis e garrafas pet. A cobertura, com um tom amarronzado, vem de rejeitos da mineração da Samarco. Também o piso de toda a área foi produzido a partir dos rejeitos (60% do material veio da região de mineração em Mariana).

Contêineres marítimos foram utilizados para as construções do local. Além da lojinha da estufa, também existem a Casa Horta e a Casa Amora. A primeira é iniciativa de duas engenheiras de produção, Clara Santiago e Fernanda Vidal. Durante seis meses, a dupla visitou oito regiões de Minas e fez contato com 200 famílias que trabalham com agricultura familiar. São eles os fornecedores da loja, que só vende produtos agroecológicos do estado. ''Muitos desses pequenos produtores não tinham lugar para vender'', conta Fernanda.

Todas as folhas da fazenda urbana também são vendidas ali (R$ 5 dois pés de alface e R$ 2,99 o maço de cada tempero). Na Casa Horta, além de produtos típicos, podem ser encontrados alguns hoje raros na cidade grande, como o mamão caipira (''que é mais feio, porém mais doce do que os outros'', conta Fernanda) e o umbigo de banana.

EMPÓRIO Além da horta, a loja conta com um empório, aí com produtos de todo o Brasil (vinhos, chás, ervas, geleias, bem como grãos, farinhas e castanhas, vendidos a granel). Ao todo, são 750 produtos. “Nosso sonho é que a Casa Horta se torne o sacolão do dia-a-dia”, conta Fernanda. Para estender a relação com o consumidor, a Casa Horta vem promovendo algumas ações. Na chamada Hora do Chá, realizada uma vez por semana, a farmacêutica Ana Cimbleris conversa com o público, tirando dúvidas sobre ervas e plantas brasileiras. Uma vez por mês, aos domingos, deverá ser realizada uma feira de flores.

Do outro lado da Be.Green, também num contêiner, funciona a primeira filial da Casa Amora. O restaurante inaugurado em 2013 na Savassi, que virou febre durante a semana para quem trabalha e mora na região, está funcionando no Santa Efigênia no mesmo esquema. Diariamente são oferecidos três tipos de carne e nove acompanhamentos (cinco saladas e quatro pratos quentes). O cliente escolhe os itens que quer e o prato é montado diante dele por um funcionário. Os preços variam de R$ 23,90 a R$ 31,90.

Diferentemente do restaurante da Savassi, o da Be.Green também oferece lanche (sanduíches, chocolates e cafés) e funciona diariamente. Para um futuro próximo, está previsto um café da manhã.

Terminado todo o passeio pela fazenda urbana, fica a pergunta: diante de tanta inovação, qual é o índice de perda dos vegetais produzidos numa área em meio ao asfalto? ''Dois e meio por cento'', responde, com orgulho, Pedro Graziano.

BE.GREEN
Rua Professor Octaviano de Almeida, 44, Santa Efigênia. Informações: (31) 3241-1212 e www.begreen.farm. Fazenda orgânica e Casa Horta: segunda a sábado, das 8h às 21h; domingo, das 8h às 20h; Casa Amora: segunda a sexta, das 11h30 às 20h; sábado e domingo, das 12h às 20h

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