Dançar se tornou hábito em Belo Horizonte, que tem até academia queer para o público LGBT

Confira agenda de bailes e lugares para praticar dança de salão na capital mineira

por Cecília Emiliana 24/03/2017 07:00
Ramon Lisboa/EM/D.A Press
(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Quando a vida parece um tanto parada, solitária ou burocrática demais, talvez seja a hora de encontrar um par. Ou, quem sabe, vários? Para dançar, no caso. Sem contraindicação, essa “terapia” vem tornando os dias de muita gente bem mais leves e divertidos. Isso desde o século 15, quando a dança de salão dominou as cortes europeias.

Belo Horizonte é bom palco para quem gosta de se aventurar no “dois pra lá, dois pra cá”. O analista de sistemas Cassiano Rodrigues é uma dessas pessoas. Desde os 7 anos, bailar faz parte da rotina do rapaz. Hoje, aos 27, esse verdadeiro pé de valsa pratica seus passos pelo menos quatro vezes por semana. “Todas as minhas lembranças têm dança no meio”, conta ele, que também é DJ e acabou ingressando na companhia Interpasso.

Marcos Vieira/EM
(foto: Marcos Vieira/EM)
Fôlego, disciplina e desinibição são alguns dos benefícios que a atividade lhe trouxe. Além disso, ele ganhou bons amigos e uma parceira especial: Ana Carolina, educadora física com quem namora há três anos e 10 meses. “O que mais gosto na dança são as relações interpessoais que ela possibilita, conheci a minha namorada nesse meio. Primeiro, a gente dançou no extinto forró do Hard Rock Café, mas não rolou nada. Cerca de um ano depois, encontrei a Ana num outro baile e começamos a namorar”, relembra.

O gosto é uma espécie de “herança” do pai, que lhe ensinou os primeiros passos. Habilidoso, Cassiano domina sete ritmos – os prediletos são zouk, forró, samba e bolero. “Forró é mais pop. Samba dá uma trabalhada boa no físico, é explosivo, com muito gasto de energia. Já o bolero é elegância pura, e o zouk é muito gostoso, pois a gente meio que ‘escorrega’ dançando”, analisa.

PRÁTICA
Para aproveitar um bom arrasta-pé não é preciso ser craque como Cassiano. O analista de sistemas Wilson Milagres, de 46, até faz parte do time de feras, mas tranquiliza os iniciantes: a prática é uma grande professora. “Não é preciso, necessariamente, fazer aulas em academia para praticar dança de salão. Aprende-se muito indo aos bailes. O forró é um exemplo. Muita gente nunca fez aula e dança muito bem. Em muitos salões, instrutores ensinam os movimentos básicos para ajudar o iniciante a curtir mais a noite”, informa. Viciado no bate-coxa, ele mantém um blog que disponibiliza agenda de bailes, lista de academias de dança e informações do universo dançante (www.bhdancadesalao.com.br).

Dono de pés que já acumulam algumas décadas de bailado, Milagres garante: dançar, além de tudo, é excelente exercício mental. “É uma atividade completa para corpo e mente. Trabalha a memorização, pois exige assimilação de passos e movimentos, e traz harmonia interior. Enquanto você está ali, esquece o mundo”, avalia.

ESCOLA
Marcos Vieira/EM
(foto: Marcos Vieira/EM)

Para aqueles que, além de se divertir, querem arrasar nas pistas, procurar uma academia é a pedida certa. Sócia-proprietária da escola Passo Básico, Juliana Miranda dá dicas dos estilos em alta. “Os mais procurados são forró, samba de gafieira e zouk. Kizomba e lindy hop também têm tido demanda. Tango nunca sai de moda, mas com um público muito específico. Talvez porque é um pouco mais difícil, exige certa disciplina”, explica.

A professora dá ainda dicas sobre as mudanças no universo da dança de salão. “A abolição da ideia de dama e cavalheiro é uma tendência. A mulher, hoje, pode tanto conduzir quanto ser conduzida. O homem também. As pessoas querem escolher a maneira de dançar, sem simplesmente seguir a tradição estabelecida”, conta.

LIVRES PARA BAILAR Já existem até mesmo escolas voltadas para o público LGBT. Os bailarinos são livres para formar pares diversos: dois homens; duas mulheres; cisgêneros; transgêneros e outras possibilidades. A cidade, aliás, abriga a primeira academia de dança queer do Brasil: a Ata-me, na região da Pampulha.


A proprietária Laura James Menezes diz que a proposta é deixar o público LGBT à vontade. “Em muitas escolas e bailes tradicionais de BH, ele não é bem aceito. Nosso espaço é de expressão livre. Independentemente de sexo ou orientação sexual, as pessoas podem escolher com quem dançar, além da posição de dança, conduzir ou responder. Mais que isso, incentivamos a pessoa a aprender os dois papéis. Quem dança sendo conduzido num horário, por exemplo, pode fazer aula na posição inversa em outra turma, sem pagar. Assim, o aluno tem experiência de dança de salão mais completa”, defende a dona da Ata-me.

Ramon Lisboa/EM/D.A Press
(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Entre os frequentadores da academia está Valeska Maia, de 32 anos. O interesse dela surgiu do desejo de dançar com a namorada, há pouco mais de um ano. O relacionamento acabou antes do início das aulas, mas o “namoro” com a atividade seguiu firme. Solteira no momento, ela é figura carimbada dos bailes da capital. Não só dos bailes promovidos pela própria Ata-me, que acolhem abertamente o público LGBT, como também o das casas tradicionais de dança capital. Sozinha ou acompanhada.

“Atualmente, estou ‘ficando’ com uma moça. A gente não encana, vamos a qualquer lugar. Quando vamos as duas a um baile, dançamos com outras pessoas também. Porém, quando toca uma música de que a gente gosta de curtir juntas, é até engraçado. Largamos o par e atravessamos o salão correndo para dançar juntas”, conta.

A professora de inglês confessa, porém, que as danceterias convencionais da cidade ainda são espaços de muito preconceito e machismo. “Pra você ter uma ideia, teve uma vez em que eu estava dançando com uma moça e, do nada, chegaram dois caras e separaram a gente. Na cabeça deles, se tem homem disponível no ambiente, duas mulheres dançando é desnecessário", queixa-se.

CONFORME A MÚSICA

Além de forró, samba, tango e danças tradicionais de salão, conheça outros ritmos que fazem sucesso em BH (Imagens: Escola Passo Básico)



AGENDA


» BAILE DANÇA & ARTE
Samba, forró, bolero e zouk. Hoje, às 21h. Rua Antônio de Albuquerque, 98, Savassi, (31) 3264-9910. R$ 20

» BAILE DA PÉ DE VALSA
Vários ritmos. Hoje, às 21h. Rua Teixeira de Freitas, 478, Santo Antônio, (31) 3296-6734. R$ 18

» BATIDA, BALANÇO, CHAMEGO
Zouk, samba e forró. Amanhã, das 19h às 23h. Rua Arapucana, 209, Ouro Preto, (31) 3337-6388. R$ 15

» ESPAÇO CHAMPAGNE
Vários ritmos. Bailes mensais. R. Alvarenga, 100 - Dom Bosco (31) 99991-2946. Entrada sob consulta

» BAILACOBACO
Festa LGBT. Zouk, samba e forró. Em 9 de abril, das 18h às 22h. Rua Fernando Ferrari, 173, Planalto, (31) 3495-2107. R$ 20

» BAILE DA SAIA RODADA
Festa LGBT. Zouk, samba e forró. Em 14 de maio, das 18h às 22h. Rua Fernando Ferrari, 173, Planalto, (31) 3495-2107. R$ 20

» BAILE DA FITINHA
Festa LGBT. Zouk, samba e forró. Em 17 de setembro, das 18h às 22h. Rua Fernando Ferrari, 173, Planalto, (31) 3495-2107. R$ 20

PARA APRENDER

» ACADEMIA PÉ DE VALSA
Av. Prudente de Morais, 901, sobreloja, Cidade Jardim, (31) 3296-6734. Informações: www.academiapedevalsa.com.br

» ACADEMIA PONTO DE DANÇA
Av. Olegário Maciel, 1.149, sala 204, Lourdes, (31) 3335-0012. Informações: www.pontodadanca.com.br

» ATA-ME
Rua Fernando Ferrari, 173, 3º andar, Planalto, (31) 3495-2107. Informações: www.facebook.com/pg/

atamedancadesalao

» CAFÉ COM DANÇA
Rua Japão, 180, Barroca, (31) 3332-8309, 99172-5100 e 99187-9155. Informações: www.cafecomdanca.com


» PASSO BÁSICO
v. Barbacena, 1.056, Santo Agostinho, (31) 3337-6388. Rua Apucarana, 209, Bairro Ouro Preto, (31) 2573-0876. Informações: www.passobasico.com.br

 

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