“Uma Fuga perfeita é sem volta começa justamente com um sonho que tive muitas vezes e acabou levando a escrever um romance. O que era sonho para mim tornou-se ficção. Eu não poderia fazer diferente nesse caso. Não foi apenas uma decisão, era uma necessidade.”
Assim a escritora Marcia Tiburi explica o motor de seu novo romance. A filósofa e escritora é a convidada desta terça (4) do projeto Sempre Um Papo para conversa e lançamento do livro, às 19h30, na sala Juvenal Dias, no Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, 31.3236.7400).
Os sonhos do romance são todos da autora. E ela os emprestou a Klaus Wolf Sebastião, protagonista e narrador. “Tendemos a ver os sonhos como coisas íntimas, porque vivemos em uma sociedade individualista que costuma perder a função coletiva daquilo que se vive. Para vários povos nativos do Brasil, os sonhos têm uma outra função mais social, mais impessoal.
Na ficção, Klaus, brasileiro e morador de longa data de Berlim, interrompe sua solidão, todo ano, para telefonar para Agnes, a irmã que ainda mora na antiga casa da família, em Florianópolis. A notícia eclode, no funcionário da chapelaria de um museu berlinense, em memórias, agonias e descobertas, narradas junto ao dilema de voltar ou não para a cidade natal, justificado pelos motivos que o levaram até a capital alemã.
Assim como os personagens do cineasta italiano Michelangelo Antonioni, Klaus se esforça para se comunicar. E não consegue. A autora revela que Uma fuga... é uma narrativa sobre a comunicação na era da incomunicabilidade.
“Do começo ao fim é isso o que está em jogo. Como filósofa, essa é uma questão presente em meus ensaios, mas no romance eu quis mostrar como ela é, de fato, na vida concreta”.
E não só dos conflitos comunicacionais, Marcia Tiburi também fala das relações de amizade na era da falsidade e do interesse; do corpo na era da sexualidade; da fé na era da mercadoria.
E o protagonista, um homem simples e que pensa muito, será surpreendido ao contar apenas consigo mesmo. “A meu ver, não é incomum esse gesto de puxar-se pelo cabelo para sair da lama. Nesse sentido, Klaus é uma espécie de Barão de Munchausen em nossa época”, compara a escritora.
À medida que foi escrevendo nos últimos quatro anos, Tiburi viu o sonho evoluir e a colheita tornou-se um livro de 600 páginas. O romance era mais reflexivo e demorado, até que, com os cortes feitos pela filósofa, ganhou, segundo ela mesma, atividade.
“Cortei umas 200 páginas. Ele se tornava um livro interminável.
O que não significa que um livro seja mais fácil por ser curto. “Samuel Beckett escreveu coisas curtas e sempre complicadíssimas”, brinca.
Como já tinha acontecido em Era meu esse rosto (Record, 2012), a autora contou uma história com o cuidado narrativo “que tem que ser levado a sério por respeito ao narrador, aos personagens e ao leitor”.
O mapa do quinto romance de Marcia Tiburi está pintado em Florianópolis e Berlim, o que, segundo a autora, aconteceu simplesmente por não poder ser diferente.
Mas a questão consciente está relacionada à sua própria trajetória: nascida no sul do país, ela conhece a colonização da região, suas línguas, seus costumes, seus afetos e o fantasma da Europa do século 19, que paira sobre a população sulista.
Sempre um papo com Marcia Tiburi
Nesta terça (4), às 19h30, Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro)
Entrada franca
Informações: (31) 3261-1501 / www.sempreumpapo.com.br