Lamounier Lucas ressignifica ícones religiosos na exposição

O artista plástico apresenta suas obras no Centro Cultural UFMG. Santos católicos queridos do povo inspiram pinturas e objetos

por Walter Sebastião 14/05/2016 08:00
Acervo pessoal
(foto: Acervo pessoal)

A exposição ]dos santos[, que reúne pinturas e objetos do mineiro Lamounier Lucas, de 42 anos, volta-se para um motivo curioso: a ressignificação de ícones. Lá estão São Judas Tadeu, que se tornou o protetor das causas impossíveis, Santo Antônio, padroeiro de quem quer se casar, e Santo Expedito, ídolo de quem procura soluções rápidas para seus problemas.

“A grande maioria dessas associações não tem relação direta com a biografia do santo”, afirma Lamounier, referindo-se aos trabalhos expostos no Centro Cultural UFMG, em BH. A ressignificação, explica o artista, observa três abordagens: como prática generalizada, revelando um contexto social; individualmente, como nos altares que cada um monta a seu modo; e a criação pela arte.

Em todos os casos, a ressignificação é tratada com um tom que mescla os aspectos político, social e irônico, descomprometido com aspectos religiosos.

A visualidade dos trabalhos soma a estética das estampas tradicionais (vindas de palácios antigos) à pop art e ao kitsch. Estéticas imbrincadas, indissoluvelmente, nessas ideografias.

“A ressignificação está em ação o tempo todo e em relação a tudo. Ela é inerente ao pensamento humano, criando sentido que aproxima o ícone vida”, afirma Lamounier, citando a operação de religar – verbo que está na origem da palavra religião.

As peças evitam citação e referência, tática que, segundo o artista, faz com que os trabalhos se distanciem do público, pois só quem conhece o repertório utilizado pelo autor entende a obra. “Estou trabalhando com motivos que o espectador identifica”, afirma.

CONCEITO

Lamounier Lucas tem 42 anos e trabalha com pintura, cerâmica e gravura há uma década. Ele já mostrou suas obras em alguns dos principais espaços culturais de Belo Horizonte – as galerias da Cemig, da Copasa e do BDMG Cultural, além do Centro Cultural UFMG, entre eles.

“Não me prendo a técnicas. O trabalho nasce do conceito, a partir da ideia vem a opção por uma técnica”, explica. Em 2015, ele apresentou mostra retrospectiva na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Lamounier considera que faltam a Belo Horizonte trabalhos voltados para a formação de público. “O que existe é pequeno e só consome o chancelado pelo sucesso no mercado”, argumenta, observando que isso vale para as galerias de arte. “Temos um mercado conservador e fechado que enfatiza o investimento. Poucos apostam em novos talentos. No teatro e na música, é a mesma coisa. Isso é um problema nacional”, conclui.

LAMOUNIER LUCAS
Pintura e objetos. Centro Cultural UFMG. Avenida Santos Dumont 174, Centro, (31) 3409-8290. De terça a sexta-feira, das 10h às 21h; sábado e domingo, das 10h às 18h. Entrada franca. Até 26 de junho.

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