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Operária da arte

Claudia Raia apresenta musical para comemorar os 30 anos de carreira

Espetáculo é apresentado neste fim de semana, no Sesc Palladium

Carolina Braga
Aos 7 anos, diante da televisão, a pequena Maria Claudia viu Lenny Dale dançar.
Importunou a mãe, dona Odete, até ser levada ao Teatro Brigadeiro, onde Dzi Croquettes estava em cartaz. O argumento de que não se tratava de um espetáculo para criança não foi o bastante para conter a garota. Elas foram. No fim do ensaio, a garotinha, diante do ídolo, se apresentou e disse: “Sou Maria Claudia Mata Raia, tenho 7 anos e danço igual a você”. “Ah, é. Então dança pra mim”, pediu Dale.


“Na verdade começou tudo ali, por causa dele”, conta Claudia Raia. A parceria dela com o criador do Dzi é uma das homenagens presentes em Raia 30, o musical.

O novo musical da atriz percorre a carreira dela nos palcos e na televisão para comemorar os 30 anos de dedicação ao ofício. Ela ressalta que não se trata de uma compilação com os melhores momentos. Como acha as retrospectivas cafonas, procurou uma forma inédita de lembrar a própria história.

Miguel Falabella assumiu o roteiro. Refez canções. Nas letras, conta a história dela desde a estreia nos palcos em Chorus line (1984), passando pelos musicais que marcaram a carreira na década de 1990 (Não fuja da Raia, Caia na Raia e Nas raias da loucura) e produções mais recentes como Sweet charity (2006), Cabaret (2011) e Crazy for you (2013).

Raia 30 tem quatro inspirações: os bailarinos Lenny Dale e Bob Fosse (norte-americano criador de Cabaret), o balé clássico e o teatro de revista. Do gênero popular no Brasil no século 19 tem números de plateia, relações apimentadas com os homens do público e coreografias bem-humoradas. São 14 bailarinos no palco e 19 trocas de figurino. Tudo novo.

TONHÃO

 

"Esse musical serve muito para contar a história do teatro musical no Brasil e também conta a história da TV”, diz a atriz. Em meio aos números musicais, personagens característicos de Cláudia Raia como a Tancinha, de Sassaricando (1987), e Tonhão, da TV Pirata (1988-1992), fazem participações especiais.

Claudia Raia diz que não acredita na figura da diva. “Acho isso extremamente efêmero. Não acredito que a vida e a carreira de uma pessoa sejam isso. Considero-me uma operária da arte e isso exige muito”, afirma. Em dezembro, completará 50 anos de idade.

Hoje já não faz mais cinco horas de aulas de dança por dia, mas quatro vezes por semana, porque a demanda é outra. Sabe que o corpo muda e, assim, as coreografias precisam acompanhar. “Tenho uma maturidade muscular e um entendimento que não tinha aos 16 anos.”

Realizada no palco, a atriz não tem vontade de trocar de posto. Não se sente seduzida pela direção. Cuida da produção das próprias montagens e investe em outras, mesmo que não faça parte do elenco. É este o caso de Chaplin – o musical, em cartaz em São Paulo. Outra tarefa de bastidor que adora é selecionar elenco. Para ela, técnica é algo que você paga e adquire. “O resto vem com você. Consigo ver esse resto”, garante.

 

MADRINHA MUSICAL

 

Desde o final de março, Raia 30 está em turnê pelo Brasil.

Passou por Salvador, Fortaleza, Recife. Depois de Belo Horizonte, vai a Paulínea. Em todas as praças, reserva um momento para o bate-papo com os fãs. Sempre fez isso. Na década de 1990, distribuía postais. Hoje é selfie. Em Fortaleza, atendeu 120 pessoas depois de duas apresentações, com uma hora e 40 minutos cada.

“Quando dou de cara com o meu público, só posso agradecer e celebrar. É aí que me revigora. Muita gente me vê como referência. Quando comecei a fazer musical, isso não tinha no Brasil. Sou de certa forma responsável”, afirma.

O projeto de Raia 30 também incluía o lançamento de um livro de fotos, com concepção de Gringo Cardia. Claudia diz que está pronto. Precisou ser adiado por causa da crise. Preferiu adiar a edição a ter que ficar sem fazer turnê com o espetáculo. “Estou viajando a fórceps. Não vou ficar esperando a crise passar.”

Mesmo se reconhecendo como pessoa positiva, não vê solução imediata para o contexto político e econômico brasileiro. “Que pena que a gente chegou nessa lavação de roupa suja na qual o país está esfarelando. O Congresso não aprova nada. O país está parado. Independentemente de partido, a questão é como as pessoas pensam. Cadê a ética?”, pergunta. Claudia Raia lamenta o fato de estar cristalizado, no Brasil, um comportamento da classe política de se coligar. “O problema é que ninguém pensa no país.”

Uma vida nos palcos

Chorus line (1984)
Splish splash (1988)
Não fuja da Raia (1991)
Nas raias da loucura (1993)
Caia na Raia (1996)
O beijo da mulher-aranha (2001)
Batalha de arroz num ringue para dois (2004)
Sweet charity (2006)
Pernas pro ar (2009)
Cabaret (2011)
Crazy for you (2013)
Raia 30 (2016)

NOVELA

Claudia Raia está escalada para a próxima novela da faixa das 21h, A lei do amor, de Maria Adelaide Amaral. “É um papel bem bacana, popular. É uma mulher que vai se tornar vice-prefeita da cidade. Uma personagem muito livre”, conta a atriz. As gravações estão marcadas para começar em julho. Hora de mudar a rotina completamente. “Só não paro com as aulas de dança”, diz.

Raia 30, o musical

Hoje, às 21h; amanhã, às 21h30; domingo, às 18h. Sesc Palladium.Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, (31) 3214-5350. Plateia 1: R$ 200 (inteira), R$ 100 (meia); plateia 2 R$ 170 (inteira), R$ 85 (meia); Plateia 3, R$ 120 (inteira), R$ 60 (meia).

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