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Amor que não se mede

Relatos de adoção cheios de sensibilidade recheiam livro que será lançado em maio

Publicação traz fotos de crianças que vivem em abrigos à espera de uma família

Mariana Peixoto

%u201CNum beco de 15m2, duas crianças deitadas numa bacia de roupas como berço. Neste beco moravam dois adultos e três crianças. Um era o número 1 e o outro, o número 2. A mãe biológica não os registrara para %u2018facilitar%u2019 as coisas. Foi aí que percebi que adoção é um ato de amor. De quem doa e de quem adota%u201D Eurivaldo Bezerra, com os filhos Francisco, Miguel e Maria Vitória - Foto: Luiz Garrido/Divulgação

Hoje, no Brasil, há cinco famílias para cada criança disponível para adoção, segundo levantamento do Conselho Nacional de Justiça. Trâmites burocráticos e a legislação brasileira emperram o processo, fazendo com que muitas crianças, que poderiam encontrar um lar rapidamente, cresçam, sozinhas, em instituições públicas.

Pai de três crianças adotadas – os gêmeos Francisco e Miguel, de 9 anos, e a menina Maria Vitória, de 7 – o advogado e fotógrafo carioca Eurivaldo Bezerra não teve que esperar eternamente. Ainda casado quando adotou os três filhos, ele não ficou na fila para adoção por muito tempo. Mas isso não o impediu de sofrer com a burocracia.

“Estava com a guarda provisória com efeito de definitiva dos meus filhos. Tinha a anuência da mãe, o pai era desconhecido, mas a certidão de nascimento não chegava. Isso significa que você pode perder seu filho, pois são cinco anos de demora para que a certidão saia. Não entendi o por que, já que não estava brigando com ninguém”, comenta.

Ele resolveu pesquisar mais sobre a questão. Descobriu que Bill Clinton, Nelson Mandela, Milton Nascimento, Ingrid Bergman, Eddie Murphy e Steve Jobs foram adotados.
“Aí veio minha grande dúvida: se nossas crianças estão envelhecendo em abrigos e não estão sendo adotadas, quantas delas não perderiam oportunidades de se tornar um Bill Clinton, por exemplo?”

O processo acabou gerando o projeto Filhos, livro e exposição de fotografias – além de advogar, Bezerra é fotógrafo. O volume reúne imagens e histórias pessoais de crianças, jovens e pais que passaram pelo processo de adoção.

"É um amor tão grande, que desconhecia que poderia amar tanto alguém.O começo da habilitação não foi uma boa lembrança, pois, nas palestras de que temos que participar, recebemos um balde de água fria. Só colocam dificuldades, problemas, doenças etc. Parece que desestimulam a adoção de propósito, como se não existissem tantas crianças abandonadas%u201D Maria Padilha com o filho Manoel - Foto: Luiz Garrido/Divulgação Na primeira parte, as fotos, de autoria de Luiz Garrido, são acompanhadas por relatos dos pais. Há famosos – Elba Ramalho, Marcello Antony, Maria Padilha, entre outros – e gente como a gente. “Foram 40 pessoas e minha grande surpresa foi que todo o mundo queria aparecer no livro e resolveu abrir sua intimidade”, conta Bezerra.

Já na segunda parte do livro, ele mesmo assumiu as lentes da câmera. Por meio de 100 retratos, mostra crianças que vivem em abrigos carioca. “A ideia era mostrar a beleza de cada uma delas, que a adoção é uma coisa feliz e que elas estão precisando encontrar seu lugar.”

Filhos será lançado no início de maio, no Rio de Janeiro. O lançamento do livro vai acompanhar exposição com as fotos de Luiz Garrido. Bezerra espera que a mostra possa itinerar pelo país. “A adoção é transformadora, não só para quem é adotado, mas por quem adota. Quem mudou a minha vida foram meus filhos.”

Mais do que mostrar histórias transformadoras, ele pretende, com o projeto, tentar alterar a lei da adoção. Para Bezerra, “a lei deveria estabelecer o prazo de no máximo seis meses” para que o processo de adoção seja finalizado. “A adoção é um caminho de amor”, finaliza.

Na TV
Roberto Berliner é um dos participantes do livro Filhos. O realizador também é o diretor da série Histórias de adoção, que estreou em março no GNT, mostrando o encontro de pais e filhos.
O programa é exibido às terças, às 23h.

FILHOS
Livro de Eurivaldo Bezerra
EB Studio Brasil, 240 páginas, R$ 150

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