Em 'Terreiro', Primeiro Ato aposta na poesia e põe os bailarinos para cantar

Espetáculo entra em cartaz neste fim de semana, no Teatro Bradesco

por Carolina Braga 11/03/2016 08:00
Chris Bircha/divulgação
Dançarinos improvisam a partir de poesias selecionadas por Maria Bethânia (foto: Chris Bircha/divulgação)
Em seis meses, o Primeiro Ato estreou três espetáculos em Belo Horizonte. Terreiro, que entra em cartaz neste fim de semana no Teatro Bradesco, mostra que a companhia de dança, fundada há 34 anos, não está nem um pouco a fim de se repetir.


Em Três luas, coreografia lançada em setembro, o grupo convidou o público a se sentar bem perto dos bailarinos. Pela primeira vez, o Primeiro Ato abriu mão da “relação frontal” com a plateia. Passagem, a novidade de janeiro, foi um experimento pensado para as ruas. Já Terreiro tem ligações com a mineiridade. Para a surpresa do espectador convencional de dança, os bailarinos cantam – e bem. O espetáculo tem participação da cantora Titane.

“Essa inquietação vem da vida. Vivemos um momento de grandes mudanças. Mudam paradigmas, conceitos e valores. O homem, como espécie, começou a destruir sua sobrevivência. Acho que consertamos isso por meio da inquietação”, afirma Suely Machado, diretora artística da companhia. Assim como em Três luas, ela interpreta a coreografia criada por João Paulo Gross, integrante da Quasar Cia. de Dança, de Goiânia.

Além de os bailarinos soltarem a voz para acompanhar Titane, o Primeiro Ato volta a dançar coletivamente – não em solos, duos ou trios, como antes. A coreografia mistura referências da dança de rua e de rituais ligados à religiosidade mineira.

Para Titane, a experiência, apesar de diferente, tem sido muito rica. “Não fazemos dança ou música por diletantismo, mas por necessidade vital. Um artista precisa de outros artistas. Arte, acima de tudo, é construção coletiva”, afirma.

Terreiro começa com um cortejo a partir do foyer do teatro. Titane guia o canto a capela acompanhada das bailarinas. Os homens esperam no palco.

O conceito do espetáculo partiu do questionamento aos intérpretes-criadores sobre o que é um terreiro. Além de quintal da casa, ali é lugar de festa e encontros, com animais e mistérios – espaço profano e sagrado. Todos esses significados estão representados no corpo. O figurino de Pablo Ramon investe em cores fortes, remetendo às festas populares.

Outra fonte de inspiração foi o livro Caderno de poesias, com poemas, canções e textos selecionados por Maria Bethânia. Cada bailarino recebeu um poema para servir de guia a suas improvisações. “Cada um dá o que tem. E isso é muito bom”, explica Suely Machado.

EDITAL A montagem de Terreiro foi aprovada no edital da Petrobras de 2013. Está entre os projetos que, apesar de terem patrocinador, não receberam o dinheiro porque os recursos da lei de incentivo se esgotaram antes do previsto. A verba saiu com atraso, mas os prazos para entrega dos espetáculos não sofreram alteração. Por isso, Terreiro ficou pronto em tempo recorde.

“O Primeiro Ato foi contemplado em quatro editais, mas não recebemos dinheiro de ninguém em dia. Aqui tem um ato de resistência. Quando os recursos vieram, foi tudo de uma vez e com prazos para cumprir. Estamos felizes, mas vamos dançar muito para conseguir apoio para nossa sobrevivência”, conclui Suely Machado.


TERREIRO
Com Grupo de Dança Primeiro Ato. Sexta e sábado, às 21h; domingo, às 19h. Até 20 de março. Teatro Bradesco. Rua da Bahia, 2.244, Lourdes, (31)3296-4848. R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia).

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