O passarinho ao qual se refere a personagem na primeira frase do livro é um móvel, uma escrivaninha (chest, em inglês) que o irmão de Caitlin, Devon, construía até ser morto com um tiro no peito (também chest, em inglês) no massacre da Universidade Virginia Tech, em 2007. Unindo a tragédia que deixou 32 mortos e a identificação da personagem com o irmão, Erskine tece um relato comovente. A escritora vive no estado de Indiana (EUA), onde ocorreu o tiroteio, e por isso quis abordar o tema.
“Na época em que estava escrevendo a história, ocorreu o tiroteio na Virginia Tech. Fiquei especulando sobre como explicar o fato para os meus filhos”, explica Erskine sobre seu processo de criação. “Então, me perguntei sobre como minha personagem principal processaria tal tragédia. Depois ainda questionei sobre como seria se ela fosse diretamente afetada. E se seu irmão mais velho fosse morto? Como ela lidaria com aquilo? É o que os escritores fazem: sempre se perguntam: E se?”, detalha. Ela também diz que é importante, como exercício ficcional, “tornar a vida dos personagens mais difícil”.
Algumas resenhas sobre o livro criticaram o fato de a autora ter abordado o massacre e o aliado ao tema do autismo. No entanto, Erskine diz acreditar que, “no final das contas, as pessoas veem que a história é sobre esse processo de cura diante de um evento trágico e que devem continuar em frente, então, isso não é uma questão”. De fato, a grande maioria das críticas ao livro foi positiva e ele conquistou importantes prêmios nos EUA, incluindo o International Reading Association Award.
O fato de ter uma filha portadora da síndrome ajudou a escritora a entrar no universo peculiar de Caitlin. “A partir do momento em que compreendi a minha filha, foi fácil de me colocar em seu lugar e contar a história de um personagem com autismo”, relata, acrescentando que, embora a garota do livro não seja sua minha filha, há, certamente, algumas semelhanças. “Fiz o melhor que pude para retratar de maneira precisa a história de alguém com autismo. De fato, pedi à minha filha para ler o livro e me dizer se não estava acurado. Felizmente, ela achou que estava correto – e ela certamente teria me dito se não estivesse.”
Em Passarinha, Caitlin tem especial apreço por certos objetos e palavras, que a ajudam a se relacionar com o que a cerca. A escritora explica que a personagem “pensa de maneira muito concreta, portanto, faz sentido para ela ter objetos tangíveis para lidar como âncoras”. Erskine descreve a relação de Caitlin com o dicionário, por exemplo, deixando a protagonista descobrir sua própria forma de ver o mundo. “Ela capta palavras que são importantes para ela sem a preocupação de convenções gramaticais. O dicionário lhe dá conforto”, revela.
Passarinha
l De Kathryn Erskine
l Valentina, 224 páginas, R$ 34,90
l Lançamento e sessão de autógrafos com Kathryn Erskine. Hoje, às 14h, na Livraria Leitura do BH Shopping, Loja OP51, Rod. BR 356, 3.049, Belvedere, (31) 3263-2700.