Leonardo Costa Braga lança livro e exposição 'Olho mágico - Fotografia, cegueira e ciência'

No projeto, Braga trabalhou em parceria com dois cegos, Josias Neto e Be Moraes, que fazem parte do curso de alfabetização visual do Centro Universitário Senac, em São Paulo

por Mariana Peixoto 22/02/2016 07:35
Leonardo Costa Braga/divulgação
Fotos de Leonardo Braga, expostas na Guaja Casa, exploram a fronteira entre visão e percepção (foto: Leonardo Costa Braga/divulgação)
“Com tantos dispositivos visuais (principalmente o celular) regrando nossas vidas, por que percebemos cada vez menos da gente e do outro?” Esta é a pergunta que o artista Leonardo Costa Braga começou a se fazer nos últimos anos. E foi procurar a resposta em um longo processo que resultou no livro e na exposição Olho mágico – Fotografia, cegueira e ciência.

O livro é resultado do Prêmio Nacional Rede Funarte de Artes Visuais e apresenta uma experiência sobre os limites entre percepção e visão. O volume traz DVD com videoartes e audiodescrição de todas as páginas para deficientes visuais. Já a mostra, com fotos e vídeos, é a primeira realizada pela recém-inaugurada Guaja Casa, que agrega espaços para cursos, oficinas, exposições de arte e design e bar.

Nesse projeto, Braga trabalhou em parceria com dois cegos, Josias Neto e Be Moraes, que fazem parte do curso de alfabetização visual do Centro Universitário Senac, em São Paulo. Também atuou ao lado de neurocientistas do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

“A grande questão do projeto é o arquétipo entre o que a gente está vendo e o que está percebendo”, comenta ele. De acordo com Braga, a ciência já confirma que a visão não tem relação com os olhos, “mas com o processo cognitivo do cérebro”. Dessa maneira, ampliou a experiência dos dois fotógrafos cegos.

POR DENTRO A partir das fotografias realizadas pela dupla, Braga projetou as imagens no estúdio e colocou Josias e Be dentro delas. “Eles fotografam, mas não veem o resultado. Alguém tem que contar isso a eles, só que cada um faz de um jeito. Então, resolvi colocá-los dentro das fotos para ver o que as pessoas vão dizer a eles”, explica. Dessa maneira, questiona-se a experiência entre o que está sendo visto e o que é percebido.

Em outra etapa do projeto, ele se colocou no lugar dos deficientes visuais. Durante quatro dias com a equipe do Instituto do Cérebro, Braga realizou gestos cotidianos usando uma venda. “A experiência foi radical, impressionante. Percebi que a visão é apenas uma ferramenta de gente, mas ela não é a gente. Nosso corpo é um grande computador, que usamos pouquíssimo. Não usamos mais o tato, a audição, para encontrar a vida.”

Ele exemplifica o processo contando sobre a relação com a mulher, a designer Fernanda Monte Mor, que o acompanhou nessa imersão. “Quando fiquei ‘cego’, minha percepção do corpo dela foi outra. Encontrei ali um corpo que não tinha visto com os olhos”, conclui.

OLHO MÁGICO – FOTOGRAFIA, CEGUEIRA E CIÊNCIA
Exposição e livro de Leonardo Costa Braga. Mostra em cartaz na Guaja Casa, Avenida Afonso Pena, 2.881, Funcionários. Aberto às segundas, quartas e quintas-feiras, das 9h às 23h30; terças-feiras, das 9h às 18h; e sextas-feiras, das 9h à 0h30. Até 22 de março.

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