Pioneiro do stand up comedy, Bruno Motta volta a BH nesta quarta-feira

Ator mineiro Bruno Motta faz duas apresentações de '1 milhão de anos em 1 hora' no Cine Theatro Brasil

por Carolina Braga 20/01/2016 08:00

 

O primeiro sinal foi o gosto por contar piada, hábito que herdou do pai e do avô. Na escola, qualquer trabalho de história era motivo para virar teatro. Como representar sempre foi algo natural para ele, Bruno Motta tem dificuldade em apontar exatamente quando começou a carreira de ator. “Nunca fiz outra coisa”, resume o artista, que estará de volta a Belo Horizonte nesta quarta-feira, 20, para duas sessões de 1 milhão de anos em 1 hora, no Cine Theatro Brasil, dentro da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança.

Será apenas um dia em cartaz porque Bruno faz temporada da mesma peça no Rio de Janeiro, com casa cheia. Desde 1996, quando estreou o primeiro espetáculo profissional, Céus!, no Teatro da Assembleia, em Belo Horizonte, já venceu concurso de humor na televisão, apareceu em diversas listas como ator revelação e recebeu as bênçãos de veteranos como Chico Anysio e José Vasconcelos. Em resumo, é um dos pioneiros no gênero de stand up comedy no Brasil, uma referência para a geração que hoje bomba na internet.

Talento precoce

“Sou de uma época em que não tínhamos tantos cursos. Se queria fazer, tinha que ir lá e fazer. Assim, fui conhecendo todo mundo de teatro”, conta, lembrando-se de que aos 12 anos já fazia amizade com os bilheteiros dos teatros de BH e assistia ao que podia, e até as atrações que sua idade não permitia entrar. Viu o que conseguiu da geração anterior à dele de humoristas da cidade como Carlos Nunes, Cida Mendes, Gorete Milagres e Saulo Laranjeira. Não quis fazer igual.

Luringa/Divulgação
''É muito difícil ser o melhor, mas o que eu fazia era diferente. As pessoas não sabiam se odiavam ou amavam. Foi isso que me deu muito destaque'', diz pioneiro do stand up mineiro (foto: Luringa/Divulgação)
Em meados da década de 1990, o gênero do stand up comedy não era tão popular como é hoje. Muito comum nos Estados Unidos, é um espetáculo de humor apresentado por um comediante em cena e que em geral fica de pé, diante de um microfone, sem qualquer outro elemento teatral, como cenário, figurino ou iluminação especial.

Bruno Motta se interessou por isso, conquistou fama em festivais dedicados ao estilo. “É muito difícil ser o melhor, mas o que eu fazia era diferente. As pessoas não sabiam se odiavam ou amavam. Foi isso que me deu muito destaque no começo”, avalia. Em 1998, venceu o 1º Prêmio Multishow de Humor e percebeu que Belo Horizonte estava pequena para ele.

“Chegou uma hora em que não dava mais para morar aqui”, continua. “Viajava muito o Brasil inteiro e estar em BH era fora de mão. Às vezes, estava em cartaz em três lugares diferentes na mesma noite. Umas coisas que só ocorrem em São Paulo.” Nesse ritmo, a carreira se multiplicou. Fez participações em programas como Pânico no rádio. Na televisão, estreou no Show do Tom (de Tom Cavalcante), foi redator dos programas Furo, 15 minutos e Comédia na MTV. Tudo isso paralelamente ao teatro.

Espontaneidade

“Para mim não tem diferença. Nenhum meio precisa me seduzir. Trabalho com humor, seja na internet, na televisão, no rádio, no cinema. Todos têm suas diferenças. Tudo é comunicação”, afirma. Desde o tempo em que transformava em teatro os trabalhos de história, Bruno Motta tomou gosto pelo texto, em especial  a dramaturgia. Já escreveu nove peças, entre comédias, musicais e infantis.

No ano passado, Bruno era um dos roteiristas contratados da Rede Globo, trabalhando nos programas humorísticos. A partir daquela experiência ele se deu conta de que a televisão demorou a absorver os impactos da internet. “Como uma velha mídia custou a admitir que essas caçulas, tipo stand up e internet, estavam interferindo no jeito como se faz humor para todo mundo. Agora está admitindo e melhorando”, acredita.

A nova fase do Zorra, para Bruno Motta, é um exemplo. “O antigo Zorra total se transformou em um Porta dos fundos na TV. Absorveu artistas da comédia stand up, novos comediantes. É muito mais difícil para o elefante se movimentar do que para o coelho”, sintetiza.

Com a carreira bem encaminhada, Bruno Motta assume com tranquilidade  que a dramaturgia é um ponto forte para ele. “O outro é a espontaneidade. Fui estudar improviso para entender quais são as ferramentas que me permitem conversar com a plateia. Eu me divirto muito fazendo isso”, garante. O encantamento está em encontrar diariamente plateias que são muito diferentes. “Temos que ter muito cuidado com o que fazemos. É uma força muito grande que temos na mão e tocamos diretamente as pessoas”, conclui.



Inspiração veio de Jerry Seinfeld

A peça 1 milhão de anos em 1 hora está em cartaz há pouco mais de um ano no Rio de Janeiro. Em maio do ano passado, ela foi apresentada em Belo Horizonte. Apenas uma sessão. O espetáculo é fruto de um projeto ousado: a adaptação no Brasil do sucesso da Broadway Long story short, dirigido por Jerry Seinfeld. A versão brasileira é assinada por Marcelo Adnet, com direção de Cláudio Torres Gonzaga.

Bruno Motta viu a versão original em Nova York e encarou comprar os direitos para fazer a peça no Brasil. Durante 60 minutos, ele apresenta a história do mundo condensada. Começa no homem das cavernas e suas tribos e chega ao mundo capitalista. São 15 quadros. Uma proposta bem diferente da onda stand up, quando ele necessita apenas de um microfone. “Dou um boa-noite, ligo um relógio e vou terminar uma hora depois. Não posso fazer outra coisa, mas me divirto fazendo isso todos os dias. É muito de verdade”, ressalta.

1 MILHÃO DE ANOS EM 1 HORA

Com Bruno Motta. Hoje, às 19h e às 21h (ingressos esgotados), no Cine Theatro Brasil Vallourec (Rua dos Carijós, 258, Centro). Ingressos a R$ 15 (postos do Sinparc) e R$ 60 (na bilheteria do teatro). Informações: (31) 3201-5211.

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