'Depois do amor' estreia em BH com alteração no elenco

Peça que Marília Pêra não teve tempo de dirigir como gostaria substituiu Carolina Ferraz pela ensaiadora de Danielle Winits, que interpreta Marilyn Monroe

por Carolina Braga 12/12/2015 08:00
LÚCIO LUNA/DIVULGAÇÃO
Danielle Winits vive uma Marilyn Monroe pouco conhecida pelo público (foto: LÚCIO LUNA/DIVULGAÇÃO)
“Não tive condições físicas de finalizar o espetáculo como gostaria, mas o que será apresentado neste palco dentro de alguns minutos foi feito para vocês com muito amor e respeito.” As palavras escritas por Marília Pêra foram lidas na noite de sábado passado, antes da estreia de Depois do amor em Manaus. Marília morreu às 6h desse dia, em sua casa, no Rio de Janeiro, aos 72 anos, de câncer.

Assim como ocorreu no Amazonas, o espetáculo dirigido por ela teve sua agenda mantida em Belo Horizonte. E chega com mudanças. Danielle Winits permanece no elenco, mas no lugar de Carolina Ferraz, que coprotagonizaria a montagem, entra a atriz Sara Freitas. Carolina se retirou da produção alegando problemas pessoais. Há 15 dias, ela, o autor do texto, Fernando Duarte, e Danielle Winits ensaiavam as últimas cenas da peça na sala da casa de Marília. Segundo o dramaturgo, ele propôs a Marília convidar outro encenador para ajudá-la, considerando a debilidade de sua saúde. “Ela disse: “Fernando, não. O horário do nosso ensaio é o em que fico mais animada”’, diz ele, que é também o produtor da peça.

Fernando e Marília se conheciam de longa data. Ele foi camareiro e trabalhou em várias montagens dela. Quando começou a escrever peças, sempre teve na atriz a figura da grande incentivadora. Apaixonado por biografias, escreveu Callas, em 2013, e convidou Marília para dirigir a atriz Silvia Pfeifer.

Em Depois do amor, a personagem da vez é Marilyn Monroe. Duarte diz que busca retratar a mulher por trás do mito. Na trama, Danielle é a diva do cinema, e Sara interpreta Margot Taylor, assistente do estilista da estrela em seu último filme, o inacabado Something’s got to give (1962). De acordo com o autor, a peça tem como mote um fato real. Marilyn e Margot se reencontraram mais de 10 anos depois de a estrela ter sido o pivô do fim do relacionamento de Margot com o jogador de beisebol Joe DiMaggio, que se casou com Marilyn em 1954.

ACERTO DE CONTAS

“Eles (Marilyn e DiMaggio) ficaram nove meses juntos e as duas foram se reencontrar por acaso anos depois”, afirma Duarte. A peça, de certo modo, é um acerto de contas das duas mulheres depois de terem amado o mesmo homem.

Danielle Winits diz que é impossível destacar apenas uma característica de Marília como diretora. “Qualquer toque dela era um toque de mestre. É eterno. Sigo à risca todas as recomendações dela”, diz. Para a atriz, o desafio de interpretar Marilyn consiste na tentativa de traduzir uma pessoa que ela não conheceu e que, no entanto, é um ícone mundial.

Mesmo antes do envolvimento com esse espetáculo, a estrela de Hollywood sempre esteve no foco de Danielle. Viu filmes e leu biografias da atriz, antes de pensar que um dia poderia interpretá-la no palco. “Procuro construir uma Marilyn com as minhas observações”, afirma. O fato de a loira mais famosa do cinema ter sido tão apaixonada pelo ofício foi o que mais surpreendeu a colega brasileira.

“Foi uma mulher que sofreu muito. Teve relacionamentos muito complicados. Apesar de ser um símbolo, não era tão respeitada quanto gostaria que fosse como atriz.” Sara Freitas, que substituirá Carolina Ferraz, estava trabalhando como ensaiadora de Danielle, por isso não teve problema com o texto. Belo Horizonte será a segunda cidade a receber a montagem. A temporada no Rio de Janeiro está marcada para janeiro.

Marília diretora

Marília Pêra estreou na direção teatral em 1978 com uma peça de Maria Clara Machado, o infantil A menina e o vento. Seu maior êxito como encenadora foi em 1986, quando dirigiu O mistério de Irma Vap, com Marco Nanini e Ney Latorraca. O espetáculo é o recordista brasileiro em permanência em cartaz: foram 10 anos de apresentações. Em Minas Gerais, Marília Pêra dirigiu A saga da Senhora Café (2005), com Ílvio Amaral e Maurício Canguçu.

Depois do amor
Hoje, 21h. Cine Theatro Brasil. Praça Sete. Rua dos Carijós, 258, Centro, (31) 3201-5211. R$ 80 e R$ 40 (meia).

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