Edmond Fortier - Viagem a Timbuktu resgata uma África esquecida

Livro editado por Daniela Moreau reúne registros do viajante francês que comercializava cartões-postais e revela tradições e costumes de 1906

por Estado de Minas 06/12/2015 06:00

Fotos: Edmond Fortier/reprodução
(foto: Fotos: Edmond Fortier/reprodução)
Leva o nome de Edmond Fortier – Viagem a Timbuktu (Literart), livro da historiadora Daniela Moreau que acompanha mostra apresentada até  25 de janeiro, no Instituto Tomie Othake, em São Paulo. As cerca de 200 imagens compõem a maior apresentação, no Brasil, do trabalho do fancês Edmont Fortier (1862-1928). A pesquisa que resultou na exposição e na publicação do luxuoso volume foi feita por Moreau, historiadora que, desde 1995, faz viagens à África e, atualmente, dirige o Acervo África.

O livro traz, em sua maioria, cartões-postais, mas também fotografias de váriada temática, captadas pelo fotógrafo em sua viagem ao Oeste africano no ano de 1906. O acervo é analisado e trazido à tona pelo seu papel na construção de imaginário sobre o “outro” africano, por conter registros dos momentos de transformações intensas e violentas marcadas pela penetração e pela presença cada vez maior do colonizador europeu no continente.

Edmond Fortier, explica Daniela Moreau, não era militar, missionário ou exportador, ocupações de grande parte dos europeus presentes no Senegal no início do século. “Ele era um estrangeiro que optou por viver na Africa como fotógrafo. Os cartões-postais criados e vendidos por ele eram o trabalho dele”, explica. O fotógrafo viajou, entre 1900 e 1912, por grande extesnsão do Oeste aficano, visitando sete países (hoje Senegal, Guiné, Mauritânia, Mali, Costa do Marfim, Benin e Nigéria).

O recorte apresentado pelo volume enfatiza a cidade histórica de Timbuktu (no Norte do Mali), considerada impenetrável aos europeus, fotografada após ocupação francesa. Estão nas imagens do francês o cotidiano das populações, paisagens, manifestações culturais que, muitas vezes, ele foi o primeiro a registrar. Documentou aspectos que desapreceram para sempre, como a antiga Mesquita de Bamaco e de Conacri. O estudo está dividido em três capitulos: Fortier, o fotógrafo, Imagens e história, e A história das imagens. Daniela Moreau explica, nas observações finais, que cartões-postais têm sido material pouco utilizado pelos históriadores, talvez, suspeita, pela dificuldade de acesso a tais publicações, ainda que milhares deles tenham sido impressos.

Representações O interesse, na pesquisa, foi por representações visuais criadas por Fortier que ajudam a compreender o momento histórico da dominação colonial francesa na região. “Para que essas imagens pudessem transmitir ao observador a compreensão de uma realidade pretérita, recorri a fontes escritas para criar um dialogo entre fotografias e textos”, escreve, contando que se valeu de relatos de viagem, documentos coloniais do início do século 20 e bibliografia especializada referente ao período que contextualizasse as fotos. “Trabalhar com cartões-postais que retratam o período colonial na região não é uma atividade que se possa empreender de maneira inocente, considerando que não é fonte de informação que pode ser isentada de abordagem crítica”, pontua, lembrando que o sistema colonial perdurou, na região, até 1960.

Edmond Fortier, “um europeu do sexo masculino”, que vivia em Dacar, “muitas vezes retratou mulheres nuas, enfatizando os seios, numa nítida exploração com fins comerciais da imagem dos corpos das mulheres africanas”. Ela lembra que ele chegou a realizar ensaios pornográficos. Daniela conta que, ao longo da carreira como editor de cartões-postais, o fotografo foi privilegiando cada vez mais imagens das moças com seios à mostra, o que foi condenado como exploração do outro. “Há, nas fotos, porém, aspectos distintos, mais difíceis de serem vistos, já que menos peremptórios: as informações visuais que remetem à vida e ao trabalho das pessoas comuns que, a meu ver, são a parte mais bela de seu trabalho. Isso é o que tento mostrar”, explica.

Edmont Fortier – Viagem a Timbuktu – Fotografias da África do Oeste em 1906
>> De Daniela Moreau
>> Editora Literart
>> 470 páginas
>> R$ 235

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