Assim, ela resolveu retomar as antigas histórias da localidade por meio do projeto “Nessa rua tem um rio”. O trabalho se dá, especialmente, por meio de performances que dialogam com o ambiente. “A gente pensa a rua não mais com apego ao passado, mas como uma rua mais humana, afetiva”, explica Thereza. Hoje, como parte das atividades da 19ª temporada do projeto, será realizada mais uma intervenção artística na Padre Belchior. A ação é aberta à participação, mas vai contar com convidados ilustres, como Dudude, Marta Neves e Marco Paulo Rolla.
A via, segundo Thereza, abraça a diversidade.
O sábado começa com o já tradicional Café de Rua. Na mesa, com 10 metros, tem café coado na hora, pães e bolos. Todas as xícaras foram doadas por moradores. “Ela é colocada como se tivesse dentro de casa. Estou reeditando as histórias que vivi”, explica Thereza. Um chuveiro de lata ainda garante refresco a quem estiver disposto ao banho nostálgico.
Em seguida, os artistas Dudude e Marco Paulo Rolla convidam os transeuntes para a Academia da vassoura, um ritual de leveza. Com piaçavas em mãos, cerca de 50 pessoas vão varrer a rua. “A Dudude tem uma peça musical com a vassoura. Ela tem atração pelo ato de varrer, uma questão de limpeza, mas também simbólica, de ‘entrar no lugar e dar uma varrida’”, explica Marco Paulo.
A ideia, segundo ele, é criar uma ação comunitária, trazer pensamento por meio do ato que limpa as coisas: “Enquanto se varre, há a sensação de organização”. Marco Paulo vai levar um instrumento musical e improvisar um coletivo sonoro com a ação. “Tem essa coisa de levantar poeira”, brinca.
O artista ressalta que o trabalho da ONG tem uma ideia comunitária bonita, que aglutina de moradores de rua a gente da universidade.
A programação contará ainda com a ação do Xepa, coletivo artístico formado por Viviane Gandra, Marcelino Peixoto e Luis Arnaldo. O trio vai caminhar por cerca de duas horas no entorno das calçadas, “defumando” a rua. Nas mãos, levarão um balde de água e uma lata de 18 litros com carvão em brasa. Em pequenos intervalos, silenciosamente, eles vão se abastecer de ervas, lavanda, incenso – elementos muito vendidos no comércio ao redor. A violeta genciana vai acalentar o ardor da pele.
A programação se encerra com o Pessoa muito importante, de Marta Neves. “É a tradução do que a gente usa em inglês – VIP – very important person”, diz. Um tapete vermelho é estendido na calçada e as pessoas são convidadas a passar por ele. “É uma homenagem a todo mundo que está na rua. Qualquer pessoa é, obviamente, muito importante”, diz Marta.
A artista participa do projeto Nessa rua tem um rio desde 2011.
Dentro da sede da Undió, na Padre Belchior, 280, o público pode conferir ainda a exposição de pinturas à óleo de Guilherme Bita, artista recém-formado na Escola Guignard.