A história trata de amor, poder e ódio entre famílias rivais. O diretor gostaria de ter na plateia inclusive “o pessoal que fica no Face, Twitter e WhatsApp”. Por isso, a montagem busca declaradamente uma visão contemporânea para o gênero. Primeiro, destacando o que existe de atemporal no enredo. Na opinião do diretor, é a história de jovens que herdam o ódio de suas famílias, o que termina por destruir suas vidas. Depois, com figurinos que evocam diversas épocas, criando um “baile macabro” no diálogo com um cenário em ruínas.
A direção procurou valorizar deslocamentos da ambientação, a sensualidade, entrelinhas do texto e uma interpretação mais visceral, porque, segundo defende Heller, há muita beleza na imperfeição, no atrito, na aresta.
O diretor frisa que a ópera de Domizetti é feita para grandes vozes e impõe grandes desafios aos intérpretes. Esse é o quarto trabalho do diretor em Belo Horizonte. Ele assinou a direção de Andrea Chénier (2010), Nabucco (2011) e Rigoletto (2014).
REINVENÇÃO “A ópera está sendo reinventada no Brasil”, afirma Heller, acrescentando que o movimento renovador do gênero atinge hoje toda a América Latina. Na avaliação do diretor, “uma geração de cantores incríveis” favorece o trabalho dos encenadores. A existência desses intérpretes, diz, “colabora para que o público deixe de lado a ideia boboca de que só o artista ou a produção estrangeiros são bons. Pagam-se cachês altíssimos a cantores europeus de segunda por considerar isso chique”, critica.
Para Heller, “em comparação com as montagens norte-americanos e europeias, somos mais viscerais e menos tradicionalistas e estamos começando a entender que o Brasil e a América Latina têm algo a dizer com a ópera”. O que falta, de acordo com ele, é “oferecer mais oportunidade aos compositores”, já que encomendas de óperas ainda são raras. André Heller é carioca, tem 44 anos, é professor do Departamento de Canto da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Lucia Di Lammermoor
Ópera de Gaetano Donizetti. Direção cênica de André Heller e regência musical de Sílvio Viegas. Com Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, Coral Lírico de Minas e Jaquelina Livieri, Eric Herrero, Leonardo Neiva, Murilo Neves, Santiago Ballerini, Aline Lobão, Mateus Pompeu Normanno. Nesta terça-feira e dias 16, 18 e 20, às 20h; dia 22, às 19h, no Grande Teatro do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3263-7400). ngressos: R$ 50 e R$ 25.
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