Monólogo do ator Diego Bagagal oferece peças de Shakespeare à escolha do público

Plateia, restrita a oito espectadores, é convidada a decidir que livros serão encenados e se o tom do espetáculo deve ser de pecado ou virtude

por Carolina Braga 20/10/2015 08:30
INÊS RABELO/DIVULGAÇÃO
O ator e diretor Diego Bagagal apresenta o solo Shakespeare - Livros para sobreviver (foto: INÊS RABELO/DIVULGAÇÃO)

O ator e diretor Diego Bagagal queria voltar para a cena. Não era para simplesmente estar no palco. Procurava abandonar momentaneamente o próprio eixo, experimentar o novo. “Queria um trabalho que me desafiasse em tudo. Para um artista hoje, o sentido está na busca por um nível de radicalidade pessoal”, diz ele. É essa a disposição que impulsiona a criação do solo Shakespeare – Livros para Sobreviver, espetáculo em cartaz a partir desta terça (20/10) até a sexta, dia 6 de novembro.

O monólogo de Bagagal leva a proposta de sair do lugar-comum também para o público. A montagem é, na verdade, uma ocupação cênica no Palacete Borges da Costa, anexo à Academia Mineira de Letras. O formato definido para a peça contempla oito espectadores por sessão. São eles quem decidem o rumo da história.

A dramaturgia de Mickael de Oliveira organiza
Shakespeare – Livros para Sobreviver como uma obra literária. Logo no prólogo, a plateia escolhe se a peça seguirá o tom do pecado ou da virtude. Depois, é hora de decidir os protagonistas. Também cabe aos espectadores definir qual livro você quer que seja aberto: O livro de Cleópatra, O livro de Coriolano, O livro de Hamlet, O livro de Lady Macbeth, O livro de Ofélia ou O livro de Otelo.

São todas figuras muito fortes da obra trágica de William Shakespeare. A cada sessão, Bagagal interpretará três desses personagens.


É um pouco apocalíptico. Somos os últimos sobreviventes da Terra e é como se pudéssemos escolher o que vai acontecer com nosso país”, explica o ator. A dramaturgia optou por uma camada pouco incensada da obra de Shakespeare, mostrar também o quão sombrio e sangrento é em suas tragédias. “Shakespeare era praticamente um assassino em série”, brinca o ator.

O espetáculo explora a dicotomia entre o bem e o mal. Existem 19 maneiras diferentes de encenar Shakespeare – Livros para sobreviver. A ideia de Bagagal é explorar o espaço do Palacete Borges da Costa junto com o público. “Temos estudado milimetricamente o que a Academia Mineira de Letras tem. Não podemos tirar nada do lugar. É como se fosse um set de cinema”, explica.


À arquitetura histórica se somam as vídeo-projeções de Débora de Oliveira e Ralph Antunes. A trilha sonora original do espetáculo é assinada por PJ, o baixista do Jota Quest. Para o ator, estar no anexo da Academia Mineira de Letras também é significativo. “Dá a ideia de confraria, onde os grupos decidem as coisas às escuras”, ressalta.

Fundado em 2012 por Diego Bagagal, brasileiro, pelo português Martim Dinis e pelo dramaturgo francês radicado em Lisboa Mickael de Oliveira, o Grupo Madame Teatro costuma investir em processos de longa duração que possam desaguar em obras teatrais originais, interdisciplinares e multiculturais.

 

Espetáculo Shakespeare – Livros para Sobreviver
De 20 de outubro a 6 de novembro. Terça a sexta, 19h30, 20h30, 21h30. Público máximo: 8 pessoas por sessão. R$ 40 (inteira) e R$20 (meia)

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